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O FUNDAMENTALISMO DOS TORCEDORES DO FUTEBOL BRASILEIRO

CONFUSÃO ENTRE TORCEDORES DO PALMEIRAS NOS ARREDORES DO ALLIANZ PARQUE, EM SÃO PAULO. NO INCIDENTE, UM TORCEDOR FOI BALEADO E MORREU.

Anteontem de manhã, quando eu e meu irmão fomos para a Barra Funda pegar o trem para a Lapa para comprar alimentos, já notei um clima tóxico entre os torcedores do Palmeiras.

Aquela alegria tóxica, nervosa, obsessiva, de pessoas que desprezam a própria vida ao viver em função do fanatismo pelo futebol.

Pessoas cantando o hino, como fundamentalistas, não como verdadeiros fãs.

Aqui em São Paulo existe fanatismo por futebol, sim, com a ressalva de que não chega aos níveis da intolerância existente no Rio de Janeiro.

No Rio de Janeiro, se você disser que não gosta de futebol, passa a ser alvo de valentonismo (bullying) ou de assédio moral. No ambiente de trabalho, as chances de perder o emprego são praticamente totais.

Os cariocas e fluminenses, antes de perguntar o nome de alguém que começa a conhecer, perguntam primeiro o time.

É como se no Estado do Rio de Janeiro só tivessem quatro famílias: flamenguistas, tricolores, vascaínos e botafoguenses. Quem estiver fora não é considerado gente.

O fanatismo tóxico se reflete nas redes sociais, com um monte de canais sobre futebol que torram a paciência de qualquer um que não compartilhe desse fundamentalismo esportivo.

E isso cria uma situação tão surreal que, em Niterói, há dois times, Tio Sam e Canto do Rio, que quase não têm torcedores. Assim como em Salvador, que "só" tem Bahia e Vitória, mas existe o Ipiranga e o Galícia que são discriminados pelos torcedores.

E o futebol é o prato principal do coronelismo midiático, num casamento feliz entre barões da mídia e dirigentes esportivos.

Não é preciso pensar muito para entender por que o futebol invadiu as ondas de FM, prejudicando gravemente a segmentação das emissoras. É por causa do jabaculê do futebol, aliada à corrupção dos "cartolas", o que faz o jabaculê musical parecer brincadeira de criança.

E isso é tão certo que o "astro-rei" da Metrópole FM, Mário Kertèsz, quase morreu de infarto em 2008, quando foi denunciado de participar de esquema jabazeiro com dirigentes esportivos baianos. O ataque cardíaco soou como uma grande confissão.

É um esquema que envolve não só dirigentes esportivos, mas políticos, latifundiários e empresários de mídia, entre outros entes empresariais. Rola muito dinheiro por fora. Ninguém tem coragem de desmentir que futebol em FM dá em jabaculê. O pessoal prefere omitir, em silêncio.

E isso promove um fundamentalismo que se vê através da divinização dos jogadores de futebol e o consequente enriquecimento abusivo dos mesmos. E o sucesso sobe à cabeça a ponto de um Robinho da vida ser condenado por participar de um estupro coletivo.

É um fanatismo doentio, gostar de futebol no Brasil. E é uma hipocrisia a mídia condenar a violência entre torcidas, porque é a própria mídia que cria as condições psicológicas para tamanha histeria.

E aí vemos o caso do jogo entre o Palmeiras e o Chelsea, este um time britânico, ocorrido na tarde do último sábado, na partida final do Mundial de Clubes, em Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos.

O jogo terminou em empateno tempo normal, e, na prorrogação, o Chelsea venceu o clube paulista por 2 a 1.

A torcida do Palmeiras estava obsessiva, em sua paranoia pelo "vencer ou vencer". Não considerava a hipótese de derrota, só estava preparada para cantar a vitória. Multidões se concentravam para o jogo, no clima de perigosa histeria.

E aí o Palmeiras foi derrotado e, quando eu e meu irmão voltamos de ônibus para casa, vi pelas ruas alguns torcedores visivelmente irritados.

E esse clima tóxico gerou um incidente, nos arredores do estádio Allianz Parque, do Palmeiras, situado no bairro da Barra Funda.

O agente penitenciário José Ribeiro Apóstolo Jr., durante uma briga na Rua Palestra Itália (antigo nome do Palmeiras), baleou Dante Luiz, que morreu em seguida. José foi preso e alegou "legítima defesa".

Mas outras pessoas se envolveram em confusão. Boa parte dos torcedores se alternava entre o clima de luto e o clima de revolta.

Isso é terrível. E o grande medo deve acontecer entre os dias 21 de novembro e 18 de dezembro, quando ocorrerá a Copa do Mundo de 2022, no Catar.

Vai ser uma energia tóxica, um fundamentalismo dos mais doentios, desta vez em dimensão nacional, pois o time será a Seleção Brasileira de Futebol.

Periga do clima do "é ganhar ou ganhar" possa desgastar as mentes dos brasileiros durante essas semanas todas, e a ressaca do fim de ano tende a ser perigosamente alta.

Prefiro ficar na minha e não ficar torcendo por futebol. Meus neurônios agradecem.

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