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CAMPANHA DE LULA SE JULGA "DONA" DO BRIZOLISMO


Com a pior campanha eleitoral, que só dá certo por conta das fraquezas emocionais dos brasileiros, Lula está em situação de profundo desespero, ao perceber que não tem tanta vantagem política como imaginava, e vê como distantes as chances de vitória em primeiro turno, considerando as supostas pesquisas eleitorais.

Não bastasse a arrogância extrema dos lulistas que, desesperados em ver seu candidato vencer no primeiro turno, chamam de "irresponsabilidade" o adiamento da vitória de Lula para o segundo turno, além de dizer que votar na Terceira Via é "reeleger" Jair Bolsonaro, agora a campanha do petista vem com outra manobra: a apropriação do brizolismo.

A falácia é a seguinte: Lula seria visto como o "herdeiro político" de Leonel Brizola, em detrimento do "desequilibrado" Ciro Gomes, acusado de agredir o petista, quando na prática se vê os lulistas agredindo e depreciando o candidato do PDT.

Aparentemente, o fato que motiva essa ilusão é a indignação de setores do PDT quanto às críticas de Ciro Gomes a Lula, que envolvem até mesmo preocupação com a saúde do petista. Só que daí para dizer que o espírito de Leonel Brizola, o lendário fundador do PDT, está com o petista é um grande exagero.

Além disso, Brizola e Lula tiveram eventuais atritos, embora, inegavelmente, tiveram também momentos de convergência e compartilharam uma chapa presidencial juntos, em 1998. Mas hoje Lula está no modo desavença, e isso se mostra por dois motivos.

Primeiro, Lula tem como parceiro de chapa um tradicional neoliberal, Geraldo Alckmin. A combinação lembra muito a parceria política arranjada pela direita em 1961, com João Goulart tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro, uma solução para evitar o golpe político na época, após a renúncia de Jânio Quadros à Presidência da República. Brizola brigou para a legalidade da Constituição de 1946 ser respeitada, com a posse de Jango assegurada. E ficou irritadíssimo quando veio a solução parlamentarista de outro político gaúcho, Raul Pilla, do Partido Libertador (o PL da época).

Brizola, se vivo estivesse, teria se indignado com Lula escolhendo Alckmin como vice na chapa presidencial. Seria uma forma de frear o ímpeto progressista do candidato do PT, já que Alckmin tem uma trajetória comprometida com ideais conservadores, incluindo privatizações e medidas de interesse das elites econômicas, em prejuízo às classes trabalhadoras.

Outro aspecto é que Lula não vai reestatizar a Eletrobras nem a BR Distribuidora. Houve adeptos de Lula que acreditavam que o petista iria reverter estas privatizações. Mas o senador Jean Paul Prattes, do PT potiguar, que participa da elaboração de propostas do PT para o setor da energia, afirma que a reestatização está descartada, sendo preferível que Lula converse com os acionistas privados. "Não tem culpa quem comprou, tem culpa quem vendeu", disse o senador.

Essa constatação já havia sido alertada por mim, em artigos anteriores. Lula não é Brizola e não tem a rebeldia do saudoso político gaúcho. Lula não vai privatizar as estatais que hoje existem, e neste sentido seu vice Geraldo Alckmin terá que engolir seco. Talvez venha a solução "intermediária", com Lula fazendo as PPPs (Parceria Público-Privada) como forma de "equilibrar" um Estado supostamente fortalecido com a colaboração da iniciativa privada.

É lamentável que o lulismo agora se considere "dono" do brizolismo, com essa associação forçada do Lula com o legado de Leonel Brizola. E logo quando Lula adota uma conduta que desagradaria Brizola, essa apropriação do brizolismo pela campanha do petista é apenas um artifício abjeto e desonesto de roubar eleitores de Ciro Gomes.

Ciro pode ser criticável em muitos aspectos, mas ele tem espaço legítimo, como outros concorrentes de Lula têm, na corrida presidencial. Lula não pode se arrogar em se achar o "candidato único", e os lulistas não podem fazer o papelão vexaminoso de achar que "só deve eleger Lula, e no primeiro turno", xingando de "bolsonarista", "alienado" ou "irresponsável" quem não votar no petista para tal finalidade.

Vitória não se impõe, se conquista. O autoritarismo dos lulistas é constrangedor e triste, e mostra o quanto a campanha de Lula está sendo conduzida pela arrogância e pela imposição. Que Jair Bolsonaro é uma ameaça, isso é verdade, mas isso não é desculpa para o tal "voto plebiscitário de Lula".

Devemos ter muita calma nessa hora. Lula tem que concorrer com outros candidatos, ele não é o único. Ele tem que enfrentar outros candidatos e depois se destacar pelas ideias. E ver os lulistas agredindo a Terceira Via e depois se dizerem "agredidos" é uma vergonha sem tamanho, não bastasse o candidato do PT cometer erros que chegam a incomodar até a direção do partido.

Com tantos ataques que a campanha de Lula faz contra Ciro Gomes, usando a Síndrome da Projeção de Freud (quando alguém atribui seus atos e posições a um desafeto) para dizer que o pedetista "é que é o agressor", Lula vai acabar reelegendo Bolsonaro, com tantos ataques à campanha cirista e a atribuição de que o ex-governador do Ceará é "linha auxiliar do bolsonarismo". Se sentindo agredidos por Lula, os ciristas vão acabar mesmo votando no atual presidente, para desespero dos lulistas.

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