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DIA DAS CRIANÇAS MACABRO NA "ILUMINADA" UBERABA


As esquerdas não conseguem admitir, mas o Triângulo Mineiro é um reduto fortíssimo do bolsonarismo, sendo uma das regiões mais conservadoras de Minas Gerais, nos níveis radicais comparáveis ao de todo o Estado de Goiás, do qual se avizinha, e do interior do Rio Grande do Sul.

Uberaba, uma das cidades da região mineira, é conhecida por um suposto "médium espírita" que, pioneiro na literatura fake - publicava livros usando nomes de mortos ilustres para fazer propaganda religiosa - e numa filantropia de fachada (não muito diferente dos exemplos fajutos de Luciano Huck, seguidor confesso do "médium"), que viveu suas últimas décadas na cidade, é também um reduto de conservadorismo medieval em Minas Gerais.

O próprio "médium" que é a maior celebridade de Uberaba, homenageado até por um memorial, seria bolsonarista se vivesse hoje em dia. São célebres as suas defesas radicais à ditadura militar, num programa da TV Tupi em 1971, uma defesa tão radical que fazia ataques ao movimento sindical, ao movimento camponês e até aos sem-teto, apesar do "médium" ser considerado um "símbolo de paz e dedicação total (sic) no amor ao próximo".

O fato dele ser condecorado pela Escola Superior de Guerra - algo estranho, para alguém oficialmente associado à "paz" - , cérebro operacional da ditadura militar, deveria ser levado em conta. Isso significa que o "médium da peruca" foi muito mais do que um apoiador, foi um colaborador da ditadura militar de fazer o Cabo Anselmo, vivo na época, ficar boquiaberto. 

Apesar disso, muita gente passa o pano no "médium" achando que ele defendeu a ditadura militar "para não ser preso". Mas não faz sentido a falácia que se diz de que a Escola Superior de Guerra homenageou o "médium" à força e o "médium" recebeu a homenagem a contragosto. Isso não tem lógica, é uma tese sem pé nem cabeça. Paciência, religiosos podem, sim, apoiar e até colaborar com regimes de opressão.

O tal "médium da peruca" fez uma façanha negativa ao comandar o Espiritismo brasileiro a partir de 1932, quando lançou um livro pioneiramente fake, com obras poéticas risivelmente creditadas a diversos autores mortos (até "Olavo Bilac" esteve lá, sem a sua elegante métrica poética, e a coitada da Auta de Souza, sem a sua linguagem docemente feminina). 

Em vez de ir para a frente pela bússola progressista de Allan Kardec, o "médium da peruca" mudou o rumo, transformando o Espiritismo "kardecista" num Catolicismo medieval de botox. E com tamanhos desvios, que fizeram a "admirável religião espírita" se servir do lixo deixado pelos católicos, a religião tornou-se também uma seita de mau agouro. Eu mesmo tive sérios problemas pessoais nos anos em que segui essa religião, entre 1984 e 2012.

Se o "bondoso médium" é associado a más energias azarentas - a mais recente foi o latrocínio que vitimou a atriz de teatro Eliane Lorett, de 58 anos, em Marechal Hermes, a poucos metros de um "centro espírita" de Bento Ribeiro (por sinal, o berço político de Jair Bolsonaro) - , as vibrações só "melhoram" quando seus adeptos e simpatizantes diretos ou indiretos são mais conservadores. 

Bolsonaro segurou um livro "mediúnico" do "médium da peruca" certa vez e foi beneficiado pelas afinidades energéticas entre o "cândido médium" e o "messias capitão". Dúvidas? O "médium" evitava falar o hidrofobês o tempo todo, mas às vezes escapava surtos hidrófobos, como no caso do Jair Presente, quando ofendeu amigos de um falecido engenheiro chamando a desconfiança deles às "psicografias" de "bobagem da grossa"

Contra o "médium", houve a acusação infundada de que os frequentadores de um circo em Niterói destruído por um incêndio criminoso teriam sido, em encarnações distantes, "romanos sanguinários", uma clara ofensa que o tal "homem chamado Amor" fez contra um público majoritariamente humilde, que apenas queria ver um espetáculo circense para se distrair de seu cotidiano dramático. Usando de falso testemunho, o "médium" ainda culpou Humberto de Campos, falecido décadas antes e sem condições para reclamar. 

É essa a "moderna religião" que, de vez em quando, produz personalidades reacionárias como as antes admiráveis e hoje bolsonaristas Elba Ramalho, que associou a pandemia a um delírio comunista, e Cássia Kis, agora militante de uma seita extremo-direitista. Cássia agora divulga uma suposta profecia que fala da "ameaça comunista" de produzir "banhos de sangue" no povo brasileiro. 

Triste ver o talentoso ator Danton Mello ambarcar nessa desventura medieval que é o Espiritismo de chiqueiro que se faz no Brasil, ao protagonizar um charlatão religioso e ainda choramingar à toa numa entrevista coletiva, de maneira constrangedora.

E aí, na terra do "bondoso médium", Uberaba, em pleno Dia das Crianças, que seria também um pretexto para celebrar a religiosidade porque, também, é o dia de Nossa Senhora de Aparecida, que a tradição define como a padroeira do Brasil, ocorreu algo bastante macabro.

A Prefeitura de Uberaba, ontem, promoveu um evento intitulado (jocosamente?) de Tempo de Brincar. Uma exposição com estandes do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e do Exército mostravam armamentos pesados (inclusive fuzis), bombas de efeito moral e outros artefatos do nível, e isso num evento que deveria ser voltado ao público infantil.

A exposição ocorreu na mesma área onde, contraditoriamente, havia também brincadeiras infantis como corrida de saco e bambolê. A prefeita Elisa Araújo, do partido Solidariedade - note o nome irônico do partido - , é apoiadora de Jair Bolsonaro.

Aí vão falar que o "médium da peruca" nunca apoiaria Jair Bolsonaro por não compartilhar da doutrina do ódio do extremo-direitista. Só que, além do discípulo e amigo do "médium" de Uberaba, um "médium" de Salvador, Bahia, apoiar explicitamente Bolsonaro, tendo o recebido na tal instituição "filantrópica" do Pau da Lima, o "médium mineiro" compensava a aparência frágil com um reacionarismo doentio, calcado na Teologia do Sofrimento.

Para quem não sabe, a Teologia do Sofrimento é a doutrina que pede, para aqueles que sofrem uma desgraça pesada ou uma série de adversidades sem fim, para que fiquem calados, resignados e até felizes com o infortúnio de suas vidas, aguentando tudo isso até que as forças divinas, talvez após a morte, lhes tragam as "bênçãos" que ninguém sabe como serão, quando virão e se de fato existem.

Daí que faz muito sentido a "iluminada" Uberaba, cujas "boas energias" atraem de tempestades de areia a ataques de quadrilhas do "novo cangaço", e é reduto do coronelismo dos criadores do gado zebu, organizar um evento para crianças com exposição de armamento pesado e bombas de efeito moral. 

De que adianta contrapor o ódio bolsonarista com o amor (daçar) de uma religião que defende que os sofredores aguentem tudo calados em troca de "bênçãos futuras" no "outro lado"? Isso faz tanto sentido quanto aquela pessoa que diz sentir um forte nojo de comer abóbora, mas diz que sua fruta favorita é o jerimum.

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