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QUANDO A FÉ TRANSFORMA AS ESQUERDAS EM CONSERVADORAS


A semana se encerrou com o reflexo das relações de Jair Bolsonaro com a religiosidade e com a preocupação das esquerdas lulistas em tomar para si símbolos como a bandeira brasileira, a camiseta da CBF e a fé religiosa.

Quanto à bandeira brasileira, é justo que os lulistas tomem para si, porque é um direito de todo candidato político brasileiro evocar a bandeira do Brasil, ela não pode ser um símbolo de fascismo. Mas futebol e religião não podem virar bandeiras progressistas, como se fossem invenções do marxismo. Ver o lulismo se apropriando dessas duas entidades também é constrangedor.

O dia 12 de Outubro, Dia das Crianças e Dia de Nossa Senhora Aparecida, foi marcado pela presença oportunista e eleitoreira de Jair Bolsonaro na missa da Basílica de Aparecida, no Norte de São Paulo. A missa do bispo católico da Arquidiocese de Aparecida, Dom Orlando Brandes, fez uma indireta contra o presidente através de um comentário dito em seu sermão:

"Maria venceu o dragão. Temos muitos dragões que ela vai vencer. O dragão, que é o tentador. O dragão, que já foi vencido, a pandemia, mas temos o dragão do ódio, que faz tanto mal, e o dragão da mentira. E a mentira não é de Deus, é do maligno. E o dragão do desemprego, o dragão da fome, o dragão da incredulidade. Com Maria, vamos vencer o mal e vamos dar prioridade ao bem, à verdade e à justiça, que o povo merece, porque tem fé e ama Nossa Senhora Aparecida".

Fora do local, apoiadores de Bolsonaro agrediram repórteres da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, da TV Aparecida, emissora católica, e do SBT, além de terem também agredido um homem que estava com uma camiseta vermelha. Os bolsonaristas também faziam chacotas e provocações às vítimas.

Outro bispo católico, Dom Mauro Morelli, da Diocese de Luz, no Centro-Oeste de Minas Gerais, afirmou, a respeito do comportamento eleitoreiro de Bolsonaro, que busca a reeleição e anda cometendo crimes eleitorais para levar vantagem nos votos:

"Bolsonaro em Aparecida comportou-se como Agente de Satanás. Desrespeitou a Mãe de Jesus e seus outros filhos e filhas, peregrinos famintos de vida com dignidade e esperança. Com seus endiabrados seguidores deveriam ser presos em flagrante como arruaceiros. São Miguel, cuidado!".

São ocorrências negativas, sim, mas a mídia esquerdista supervalorizou a religiosidade, como se a fé religiosa fosse um subproduto do marxismo. Já pega mal as esquerdas endossarem a ideia de que a bondade é uma virtude específica da fé religiosa, como se Jesus Cristo tivesse privatizado o altruísmo humano para sua pessoa física e jurídica.

E vemos também as esquerdas aproveitando isso para inserir o discurso de Damares Alves sobre denúncias de suposto tráfico de crianças na Ilha de Marajó, onde elas eram mutiladas e abusadas sexualmente. A estória era contada como artifício psicológico para assustar as pessoas, mas não havia provas sobre tal crime e Damares, por se considerar cristã, por ser neopentecostal, só repercutiu negativamente por tamanha declaração.

Mas o que se viu nas esquerdas foi um entusiasmo com a fé religiosa maior do que o imaginável. Até porque Lula precisa dos religiosos para ser eleito, já que está desesperado por não ter vencido a campanha no primeiro turno, obtendo apenas magra vantagem sobre Bolsonaro.

Lula quer o apoio de setores conservadores da sociedade e isso cobra dele uma série de compromissos a serem cumpridos. No caso da religião, ele tem que fugir das pautas identitárias, que envolvem causas reprovadas pelos religiosos, como a liberdade sexual e as drogas. E aí resta a Lula atender aos grupos identitários através dos financiamentos à "cultura", para compensar o silêncio.

Em todo caso, a ênfase da religiosidade nas esquerdas só mostra o quanto elas se tornaram conservadoras, porque são uma esquerda de classe média, moderna na fachada, conservadora no conteúdo e na essência. Tenhamos paciência, afinal o Brasil não tem tradição de país socialista, e são raras as pessoas que realmente entendem o que é um pensamento de esquerda, no caso levando em conta de que Karl Marx, ateu, sempre afirmou que "a religião é o ópio do povo".

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