ERASMO CARLOS E RITA LEE NÃO ESTÃO MAIS ENTRE NÓS.
Com o vergonhoso cenário cultural do Brasil de hoje, é para sentir vergonha do quadro atual quando vemos grandes nomes nos deixando. Na MPB e no Rock Brasil juntos, perdemos nomes como Elza Soares, Gal Costa, Erasmo Carlos, Leno, Paulo Jobim e Rita Lee. Fora da música, Jô Soares e Glória Maria estão entre as perdas irreparáveis.
E o que temos hoje em dia? Subcelebridades virando notícia por coisa nenhuma. Coisa do tipo: "Influenciadora digital enfeita festa de aniversário do filho de cinco anos com o tema do Capitão América". Gente sem talento se enriquecendo com uma fama sem sentido.
Na música, então, a supremacia do brega-popularesco ainda fere os ouvidos de quem tem um mínimo de discernimento possível. Se muitos entendem como "vanguarda" hoje um som precário da atual geração do "funk", com vocais de flanelinhas adolescentes e batida de lata de ervilha, então vivemos uma grande catástrofe.
O cenário musical brasileiro que obtém visibilidade é tenebroso. Os sucessos atuais são o piseiro, a sofrência, o sertanejo-pegação (que já está saindo de cena por ter sido a trilha sonora do bolsonarismo), a axé-music (cada vez mais cheirando a mofo tóxico) e o "funk".
O que se chama de "vintage" no Brasil, ou seja, esse horroroso brega-vintage, são nomes como Michael Sullivan, Benito di Paula, É O Tchan, Art Popular, Grupo Raça Negra, Joelma, Luís Caldas e outras mediocridades que hoje parecem "geniais", mas é porque suas músicas ruins apenas recebiam a cosmética de produtores e arranjadores que trabalham com a MPB mais comercial, o que fazia com que, enquanto a MPB recebia doses de sacarose que não estragavam em todo o sabor, o brega era processado para parecer digestível para o público de restaurantes da moda.
Não dá para fingir que tudo isso é genial. O jornalista cultural "isentão" até arrisca alguma diplomacia, tenta vender fezes como se fosse almôndega, e tem os influenciadores do Instagram que ficam vendendo gato por lebre creditando muita breguice como se fosse "nostalgia da boa". Vide o vergonhoso caso de Michael Sullivan, que quis destruir a MPB, usar essa mesma MPB como trampolim para se relançar na carreira.
Aliás, Sullivan foi parceiro do cantor e compositor Rogério Skylab, antes um ícone da música pós-moderna, hoje uma espécie de "genérico" mais complexo de Zeca Baleiro. Na boa, Rogério Skylab parceiro de Michael Sullivan é o mesmo que, na política, João Pedro Stedile formar chapa com Ronaldo Caiado para governador.
Skylab gravou um vídeo falando mal das opiniões críticas de Régis Tadeu que, com todos os seus senões, pelo menos se esforça em diminuir a prevalência da mediocridade cultural brasileira. Skylab, que passa pano no mainstream musical brasileiro, classificou as críticas de Tadeu como "juízos de valor" e alegou que cada estilo musical "tem suas regras". Desculpa para a permissividade do comercialismo enrustido da bregalização musical reinante e quase monopolista.
Até mesmo o cenário de MPB dos últimos tempos está aquém do nível consagrado pela geração que está morrendo aos poucos. A geração atual de emepebistas faz MPB carneirinha levada às últimas consequências, mais parecendo um luau de estudantes do ensino médio. Músicas inofensivas que mais parecem um bubblegum à brasileira, que musicalmente não contribuem com algo consistente e duradouro, caindo no esquecimento no decorrer de anos.
Temos imitações de pop estadunidense, muito datadas, um pop pretensamente modernoso que soa no entanto como se fosse feito 20 anos atrás. Pouca coisa se salva. Pouca coisa obtém alguma contemporaneidade, como Iza, cantora que é um oásis de competência num deserto de mediocridade.
Não dá para achar que verbas do Ministério da Cultura irão melhorar os ídolos popularescos. Dinheiro não traz felicidade (embora ajudasse nos gastos) e muito menos talento. No fim dos anos 1990, tentou-se emepebizar os ídolos popularescos do começo da mesma década e foi um desastre: muita cosmética e pouco talento, muitos covers de MPB autêntica mascarando a baixa criatividade dos ídolos em questão.
Temos que prestar atenção na MPB que desaparece aos poucos, com seus ídolos idosos ou falecidos, e analisarmos a criatividade e o legado deles, em vez de ficarmos na baboseira do "combate ao preconceito" que só serve como desculpa para esse vale-tudo musical.
A bregalização de hoje faz sucesso comercial estrondoso, mas que, mesmo com o esforço gourmetizado da imprensa musical "isenta" e de tendenciosos influenciadores digitais que se tornam dublês de jornalistas culturais, não tem fôlego para se tornar algo icônico na nossa música. Até porque a tentativa de emepebizar o brega sempre nivelou seus cantores a calouros medíocres de reality shows musicais, sem qualquer veia criativa que fosse digna de nota.
Por isso temos que recorrer mesmo à MPB dos anos 1960-1970 e ao Rock Brasil dessas décadas e dos aos 1980, períodos marcados pela criatividade, inteligência e sensatez que poderiam muito bem inspirar as gerações de ouvintes a pensar em mudar um pouco esse país tóxico que tornou-se o Brasil hoje. Muitos dos artistas mortos de MPB e Rock Brasil mostram muito mais vida e vigor do que os ídolos popularescos que seguem hoje na estrada.
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