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PRECISAMOS FALAR SOBRE A PRIVATIZAÇÃO DA CULTURA POPULAR


A choradeira intelectual do "combate ao preconceito", clamando pela aceitação da sociedade brasileira dos fenômenos popularescos que, supostamente, representam a arte e a cultura do povo pobre, não passou de uma cascata. O discurso da tal "cultura das periferias" não passa de uma propaganda enganosa e os que mais consomem a tal "música popular demais", ou música brega-popularesca, são jovens riquinhos que já contribuem para a fortuna exorbitante dos investidores dessa suposta "cultura popular".

A cultura popular foi privatizada. E temos um mercado gigante e multifacetado de cultura popularesca que movimenta muita grana e fez a fortuna de empresários que estão por trás de músicos e cantores popularescos, inclusive funqueiros, de festas que tocam a música popularesca, de subcelebridades e agora as gerações recentes de influenciadores digitais, dotados de pleno vazio existencial.

É um mercado voraz que não tem a ver com o povo pobre que o discurso intelectual tanto alardeou com muito desespero, sobretudo entre 2002 e 2014, período de maior produção da campanha do dito "combate ao preconceito", que serviu de "cabeça de praia" para o lavajatismo, conforme constatamos juntando as peças do quebra-cabeças montado pelo tempo.

Foi a narrativa chorosa de intelectuais defensores da bregalização cultural como "autêntica cultura popular" - o que incluiu a transformação de problemas sociais em "tradições identitárias", como as favelas, a prostituição e o comércio clandestino que gourmetizava o trabalho precário nas periferias - que permitiu que, com o povo desmobilizado e "distraído" com o "funk", a axé-music, o tecnobrega etc, liberasse as ruas para as revoltas reacionárias que fizeram derrubar Dilma Rousseff e fizesse o Brasil sucumbir aos desgovernos de Temer e Bolsonaro.

E hoje os ricaços não são os "magnatas" da Bossa Nova nem os "burgueses" da MPB e muito menos os "bem-nascidos" do Rock Brasil. Como, por outro lado, os discriminados também não são os ídolos cafonas do passado nem os ídolos popularescos com ampla presença na mídia e no mercado.

Num país em que os emepebistas é que são os injustiçados, o mercado popularesco é que é dos mais rentáveis. E não pensem que isso é bom, que se trata da "conquista do povo pobre" num terreno em que os "antigos magnatas" (sic) da MPB é que foram para a falência.

Em primeiro lugar, porque a mentalidade dos popularescos, a exemplo da maioria dos craques de futebol, se torna mais burguesa depois do enriquecimento do que os supostos burgueses que parecem mais generosos e respeitosos com o povo pobre do que os ex-pobres, legítimos ou bastardos, que supostamente representam a "cultura das periferias".

O que se vê é que, do "sertanejo" rico que "representa" culturalmente o homem do campo ao funqueiro que "fala da dor do povo pobre", passando por subcelebridades de classe média suburbana que se ascendem vertiginosamente, todos agora são a nova burguesia culturalista, dentro de um mercado que trabalha o hedonismo como motor para o consumo, aliado a conceitos banalizados do identitarismo sociocultural - como a causa LGBTQIA+ - para garantir a liberdade consumista que movimenta grandes somas de dinheiro.

E isso envolve até mesmo práticas sórdidas como comprar divórcios para dissolver casamentos felizes de musas ligadas ao "pagodão" ou ao "funk", para que elas garantam a imagem de "objetos sexuais" dos fãs sem trazer frustração. Tudo para garantir o sucesso daquele "funk" ou "pagodão" movido pelo gancho da sensualidade como mercadoria.

Fala-se do sucesso empreendedor do Kondzilla, canal que se consagrou com clipes de "funk" e virou o canal de lançamento da geração de funqueiros com som de batida de lata de conservas (o "tamborzão" da ocasião), dentro de uma mentalidade esquizofrênica das esquerdas médias, que misturam socialismo com sucesso capitalista, mostrando que a pequena burguesia brasileira não entende muito do esquerdismo que dizem orgulhar ter.

Não. O Kondzilla, como o DJ Marlboro e o Rômulo Costa da Furacão 2000, são exemplos de que o "funk" é tão comercial quanto o Roberto Campos Neto, e isso não pode ser visto como uma façanha bolivariana nem como uma rebelião revolucionária. O que está em jogo é mercado puro, no sentido de que a Faria Lima entende como mercado.

As esquerdas médias precisam aprender as coisas, em vez de ficar corroborando com narrativas cheias de equívocos e contradições. A dita cultura brega-popularesca ou "popular demais" é uma máquina de fazer dinheiro, que se torna ainda maior quando seus empresários recorrem ao Ministério da Cultura para que verbas direta ou indiretamente estatais (no caso indireto, incluem incentivos fiscais de empresas que assumirem "compromisso com a cultura"), praticamente preservando suas fortunas para o patrimônio pessoal.

Com isso, os envolvidos no divertimento popularesco se tornam ainda mais ricos. Empresários, cantores, grupos, subcelebridades, entre outros personagens do entretenimento "popular demais" que não excluem os antigos bregas que, mesmo não tão ricos, vivem em conforto acima da média, todos eles estão mais para uma nova burguesia do que para supostas conquistas das lutas populares. Deixemos de faz-de-conta e admitamos essa dura realidade: a cultura popular foi privatizada e, de popular, só tem a plateia, pois o palco tornou-se burguês há muito tempo.

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