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NÃO SE RECONSTRÓI O BRASIL DA NOITE PARA O DIA

VITÓRIA DE LULA FOI COMEMORADA COM MUITO CARNAVAL. É A ESQUERDA FESTIVA MOSTRANDO A QUE VEIO.

A elite do bom atraso deixou a máscara cair. Não suporta o senso crítico, que apenas diz defender da boca para fora. Sempre aquela conversa do "isento de plantão", que diz que o senso crítico é "válido", mas com limites. Se muita coisa está errada, se corrige somente os erros mais escancarados, cerca de 20% a 50%, e o resto se passa pano e e vende como "coisa acertada".

É muito estranho o Brasil ser reconstruído em clima de festa, como se a comemoração viesse primeiro e os trabalhos se deixam para depois. É claro que há um clima de empolgação pelo fim do bolsonarismo e do lavajatismo, mas devemos ter muita calma nessa hora. Não é tempo para festa.

E aí a "boa" elite é desmascarada porque o papo de "Brasil devastado por Bolsonaro" não é levado muito a sério. Jair Bolsonaro devastou o Brasil, mas o Brasil entrou no clima do "morreu, mas passa bem". Na verdade, o Brasil está ainda mal do lado de baixo da pirâmide social, as soluções ainda estão para serem implantadas, há muita miséria, muita fome, muito sofrimento.

O problema é a sociedade dos 30%. Ela não quer que se critique Lula. Sou de esquerda, mais do que muito lulista de carteirinha, mas tenho que admitir que Lula errou muito desde que aceitou a tarefa de perseguir o terceiro mandato, agora em andamento. Faltou a debates televisivos que iriam ajudar a furar a bolha lulista. Não fez um programa de governo, bússola necessária e obrigatória a todo governante. Lula preferiu requentar projetos antigos e adaptá-los conforme as circunstâncias.

Lula está tendo problemas de apoio ao seu governo, um preço caro a ser pago pela frente ampla demais que ele quis formar. No Legislativo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tem desentendimentos políticos com o presidente da República. 

Na equipe ministerial, o problema recente é a crise causada pela ameaça de demissão da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e a possível substituição dela por um bolsonarista, o paraense Celso Sabino. Ambos são do partido União Brasil (surgido da fusão dos partidos DEM e PSL), que anda se desentendendo com Lula e pode desembarcar da equipe ministerial.

Apesar dessas crises e do até agora não resolvido, mas hoje ignorado, episódio de Roberto Campos Neto e os juros altos cobrados pelo Banco Central, Lula mantém um clima de festa impróprio para a situação atual. Numa semana que começou com lulistas pedindo o "Ministério do Namoro", Lula foi ainda cobrar a presença de um técnico na Seleção Brasileira de Futebol. Desnecessário.

Além disso, Lula inaugurou um podicaste seu, que apenas difere de Jair Bolsonaro por fugir da fórmula da videoconferência - agora chamada no Brasil de live - , investindo num formato de entrevista cujo âncora é o jornalista Marcos Uchoa, ex-Globo.

Tenho que admitir que Lula mente quando fala que "está trabalhando duro para reconstruir o Brasil", como naquele discurso do Primeiro de Maio, quando disse que "trabalhou desde o primeiro dia". Digo que Lula mente com um certo coração partido, mas também não vou ficar imaginando duendes jogando pó de pirlimpimpim para botar o nosso país no Primeiro Mundo.

Infelizmente, tenho que ser crítico. Não sou jornalista para passar pano, para patinar no chão de gelo da complacência. Não posso fingir ver aquilo que não vejo. Junto peças de quebra-cabeças e monto fatos a partir das relações entre ocasiões secundárias.

Vi que Lula foi viajar, priorizando a política externa. O combate à fome não veio, a primeira menção desta causa foi dada em março, terceiro mês do governo atual, quando foi anunciada uma comissão para combater o problema. Os preços não reduziram de maneira satisfatória, e o desemprego piorou nos três primeiros meses do atual governo.

Lula não deveria ter feito viagens ao exterior. Foi constrangedor ver Lula interferindo no caso Rússia x Ucrânia e querendo arrancar protagonismo na reunião do G7, que não é o "clube" do presidente brasileiro. Com a priorização da política externa, Lula criou polêmicas à toa, sem a menor necessidade.

Infelizmente, Lula prefere mais falar do que agir. Fala que age muito, que "acorda cedo e dorme tarde" para "reconstruir o Brasil", que "trabalha duro desde o primeiro dia de governo", mas falar é fácil. Hoje vemos uma grande coreografia de palavras, com narrativas mais fantásticas do que os filmes de fantasia do tipo Harry Potter. 

Graças ao balé das palavras, muitos acreditam que Lula será maior do que Getúlio Vargas, quando vemos que o terceiro mandato do atual presidente chega a ser mais fraco do que o primeiro, que era acusado de ser mera imitação dos governos de Fernando Henrique Cardoso.

Não posso escrever textos que agradem pessoas. Paciência. Lido com a realidade, que é desagradável. E Lula não pode se achar no direito de fazer o que quiser, de maneira impulsiva, ignorando conselhos, se recusando a ter autocrítica, desprezar contextos e limitações. Foi vergonhoso Lula priorizar a política externa, e é muita sorte dele que hoje a geopolitica das potências capitalistas (a partir dos EUA) aposta no soft power, porque em outros tempos as polêmicas de Lula já teriam provocado a reação de um golpe militar.

Se o Brasil quiser entrar no G7, virando G8, Lula teria que agir apenas internamente. Primeiro, tendo que governar para os brasileiros e reconstruir o país, e, quando houver necessidade de fazer parcerias com outros países, Lula já tem o trio responsável para tal missão, como o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento Econômico, Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Eles é que deveriam viajar para o exterior, não Lula.

Se a "classe média de Zurique" não gosta de críticas e se acha no direito de "ser feliz demais" no contexto da positividade tóxica de hoje, fazendo a alegria maior que a festa, que já é maior do que se admite como necessidade, problema dessa elite. Criticar é necessário, e o senso crítico avançará sempre que for necessário, incomodando muita gente, mesmo.

Se não fosse o senso crítico exercido ao longo dos séculos, nunca teríamos saído da areia movediça do medievalismo, e muitos avanços sociais foram feitos sob as caras zangadas de quem não tinha paciência para conhecer a verdade dos fatos e dos problemas menos óbvios.

Não se reconstrói o Brasil da noite para o dia, e se existem pessoas festejando e comemorando antes da hora, é porque esse pessoal nunca sofreu de verdade. É a "classe média de Zurique" que, vivendo de forma confortável, tem uma noção meramente turística de país desenvolvido, daí ser fácil acreditarem na "certeza" do Brasil virar Primeiro Mundo: é porque esse primeiro-mundismo tem a importância e a função de meros parques de diversões para adultos se divertirem torrando muito dinheiro, se entupindo de cerveja e jogando comida fora após umas cinco garfadas.

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