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A ECONOMIA MÍOPE DO NEGACIONISTA FACTUAL

TRABALHADOR AFLITO PORQUE RECEBEU POUCO DINHEIRO.

O negacionista factual, esse "isentão do bem" dos tempos "democráticos" de hoje, tem uma noção míope de Economia. Acha que um trabalhador que ganha R$ 1.412 (serão R$ 1.518 no ano que vem) vive na fartura, enquanto deputados federais que recebem R$ 5 milhões por cada votação das tais "emendas parlamentares" ganham uma gorjeta.

A própria classe do negacionista factual, a elite do bom atraso - a burguesia de chinelos invisível a olho nu que se espalha por entre a multidão como num mimetismo social - , ganha no mínimo R$ 10 mil mas se diz "pobre" porque fala português errado, bebe caipirinha e paga IPVA, como se isso garantisse o atestado de miséria financeira dessa classe abastada.

Para que Lula não tenha a reputação arranhada, é necessário seus apoiadores "ressignificarem" certos procedimentos. Se Lula se aproxima da direita moderada, ele está "mais democrático". Se Lula privatiza estatais, ele faz "concessões". Se Lula compra votos para ver suas propostas aprovadas pelo Congresso Nacional, ele "investe em verbas para emendas parlamentares".

Mas a "ressignificação" também faz suas loucuras, vide a alegação de que um "salário de fome" que só aumenta noventa reais a cada ano é "ganho real" dos trabalhadores, e até mesmo factoides como os "pobres de novela" enchendo o carrinho de mercadoria - os ex-pobres "reMEDIAdos" por loterias e prêmios de promoções de produtos - são usados para "justificar" a hipotética opulência do mísero salário mínimo do atual mandato de Lula.

O negacionista factual não tem compromisso com a verdade dos fatos. Pelo contrário, boicota textos realistas que não forem do seu agrado. Verdade dolorosa não é com ele. Se o trabalhador vai ao banco, recebe os R$ 1.412 e uns R$ 700 do Bolsa Família e esses cerca de R$ 2.100 são insuficientes para cobrir todo o orçamento familiar, que ele reclame bem longe das redes sociais.

Nas redes sociais - isso inclui seu reflexo na blogosfera, por exemplo - , o que tem que reinar é o mundo da fantasia. O pobre que se revolta com Lula não pode aparecer. Ele "não" existe. O que tem que haver é o "pobre de novela", limpinho e comportadinho, vendo sua novelinha ou seu jogo de futebol na TV de plasma e realizando "festas de aniversário" todo fim de semana, com muita cerveja e refrigerante de tubaína para "bebemorar" a "democracia de um homem só" de Lula 3.0.

Só se pode considerar burguesia a aristocracia ortodoxa que ainda usa um figurino dos anos 1910. Só se pode considerar neoliberalismo os raivosos especuladores e rentistas financeiros que, mesmo brasileiros, só vivem no exterior. 

Super-ricos? Se eles apoiam o governo Lula, "não" são super-ricos, mas a "elite sintonizada com a democracia". Se os super-ricos fazem algo que a multidão das redes sociais gosta, como investir em entretenimento musical e esportivo ou vender cervejas, eles se "equiparam" a gente simples e são até tratados como "pobres".

Se os relatórios apresentam realizações fantásticas demais, rápidas demais e fáceis demais, temos que achar que isso é realidade, mesmo sem sairmos do sofá ou do quarto. Se vem de Lula e seus apoiadores, temos que levar isso como "verdade indiscutível", mesmo sem verificar se isso reflete na realidade cotidiana. 

Se a realidade diz o contrário, a culpa é da "falta de comunicação" do governo Lula, que deveria mandar a realidade se travestir de algo mais fabuloso e sonhador. Ou seja, a realidade é que tem que se adequar ao sonho, mesmo que seja somente no discurso de palavras e gráficos dos relatórios.

Temos um terraplanismo de fazer bolsonaristas ficarem de queixo caído. São visões míopes da Economia brasileira, trazidas por gente que se gaba em ser "realmente imparcial", ser detentora da "visão mais objetiva da realidade", e por isso não gosta de ser contrariada nem contestada.

Esse pessoal foge do senso crítico, na obsessão de proteger narrativas que lhes agradam, porque atendem a seus interesses e pontos de vista pessoais. Esses "intelectuais de sofá" capricham na pose certinha de "pensadores", na construção bem elaborada de discursos e argumentos, mas fazem isso para proteger suas convicções, suas fantasias, seus desejos.

E aí vemos o quanto a realidade está perdendo espaço nas redes sociais, pois o negacionismo factual e seu "terraplanismo do bem", agora adequados aos tempos "democráticos" de hoje, está moldando as narrativas não para elas se tornarem fiéis à realidade ou sujeitas ao debate, mas para que elas permaneçam hegemônicas no imaginário das redes sociais.

Enquanto isso, o povo da vida real segue sua vida precarizada fora das redes sociais e distante das bolhas "democráticas" dos tempos atuais.

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