Não há como esconder a crise aguda que vive o governo de Michel Temer.
Do contrário de um de seus apoiadores, Fernando Henrique Cardoso, não dá para botar um "marca-passo" para fazer o governo permanecer.
Há dois mundos em conflito, neste contexto político.
Um, é o que Michel Temer e seus consortes gostariam que fosse.
Falaram até que a França propôs carga horária de trabalho de 80 horas semanais, para impor a medida que vinha, na verdade, de suas cabeças neoliberais.
Lembra Eduardo Paes dizendo que em Londres havia pintura padronizada nos ônibus para impor a horripilante medida que só serviu para acobertar a corrupção político-empresarial que sucateia as frotas municipais.
Balelas.
Em Londres, há pintura diferenciada de ônibus. Cada empresa com seu visual, para mostrar ao passageiro qual é a empresa que opera determinada linha de ônibus.
Isso não é marketing, é transparência, e a pessoa tem muito mais facilidade de reconhecer uma empresa que presta mau serviço, coisa que a pintura padronizada não permite.
Quanto à carga horária de trabalho, a França só pediu 60 horas, e mesmo assim em casos de extrema excepcionalidade.
Ninguém falou que lá as pessoas deveriam trabalhar 80 horas, em qualquer emprego.
No Brasil, há a mania de gente interpretar as coisas com o umbigo.
E é isso que faz com que, por exemplo, a música brega-popularesca divulgue seus produtos em apresentações em locais inexpressivos na Europa e EUA, e a mídia daqui sai inventando que foi sucesso estrondoso.
Tentaram fazer isso com o "sertanejo", a axé-music, o "funk carioca", o "forró eletrônico".
Tudo fracasso. Nem "Ai Se Eu Te Pego" pegou o planeta.
Foram tocar em boates ou programas de TV inexpressivos e foram mornamente divulgados, só.
E é apenas no Brasil que esses ídolos viram "reis do mundo", numa imprensa cultural movida a fofocas e releases de gravadoras.
E é esse "mundo" que tenta dizer que o governo de Michel Temer está "no rumo certo".
Tentam até criar dois super-heróis, José Serra e Henrique Meirelles, pelo menos os ditos "notáveis" que a grande mídia faz o maior esforço em manter intocáveis.
Mesmo assim, não dá para esconder.
Delatores diversos já mencionam os dois "heróis" da tal "ponte para o futuro" em escândalos de corrupção.
No caso do "mais intocável" dos dois, Henrique Meirelles, ele foi pego com a boca da botija, "comendo" do "rodízio" da Friboi.
Consta-se que a Friboi é acusada de fraudes cometidas quando o ministro da Fazenda participava de seu conselho administrativo.
A grande mídia quis tanto procurar o filho de Lula, acusado erroneamente de ser dono da Friboi, e tiveram que achar justamente aquele que julgam o "maior herói da salvação nacional".
E é aí que há o outro mundo. O verdadeiro, que não cabe nos sonhos dos barões da grande mídia nem aparece na "novela das oito" que se tornou o Jornal Nacional.
Um mundo em que até a grande imprensa dos EUA está perplexa com a forma com que se construiu o governo Michel Temer.
Um mundo que diz que o governo Temer é golpista, para desgosto dos que detém o poder.
Um mundo que não fica aceitando um governo ilegítimo se legitimar diante de tantos escândalos gravíssimos.
Lá fora não tem essa coisa de "Quem nunca erra? Deixa o homem governar!".
Lá fora não há carteirada política que aceite empurrar o governo golpista goela abaixo aos brasileiros.
Só aqui há quem ache que Michel Temer "tenha que permanecer no poder".
Só aqui há quem ache que "é melhor um governo desses do que mais anos de PT no poder".
Mas até quem defende o governo Michel Temer só sente uma coisa: melancolia.
Não houve, até agora, um clima mínimo de otimismo ou de esperança.
Até a equipe ministerial, dita de "notáveis", teve três ministros que saíram não pelas naturais circunstâncias pessoais, mas por vergonhosos escândalos de corrupção.
E as propostas para "tirar o país da recessão" são amargas e retrógradas demais para inspirar alguma esperança.
As propostas de aumentar a carga horária semanal, de extinguir encargos trabalhistas e de prorrogar a aposentadoria só fazem o povo ficar desanimado.
Pois até quem se vestiu de verde-amarelo para pedir "Fora Dilma" será prejudicado.
Porque, no capitalismo "sem ideologias", quem vai "ralar mais" também não tem ideologia.
Só os mais ricos é que ficarão na boa vida de sempre.
Mas a classe média que pediu o afastamento da presidenta não terá tantos benefícios assim.
Eles também vão ganhar menos, trabalhar mais e por mais tempo de serviço.
E é isso que cria um clima de apreensão e desânimo.
O governo de Michel Temer está praticamente morto.
Se caso se tornar efetivo, será um governo morto-vivo.
Seria melhor Temer não querer ser presidente efetivo, porque esse clima só irá piorar até o fim de 2018.
Se hoje os dias melancólicos parecem muito longos, esperar até 2019 chegar será muito mais cansativo.
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