Um golpe militar ocorreu na Turquia, entre a noite da sexta-feira 15 e a madrugada do sábado, 16.
Integrantes supostamente ligados ao grupo oposicionista Hizmet surpreenderam com tanques e anunciaram sua decisão de derrubar o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan.
O presidente turco é ligado ao partido AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento), ligado a fundamentalistas religiosos.
O golpe militar teve um desfecho inesperado, de ser abafado completamente, depois dos sucessivos incidentes, golpe e contragolpe, causarem vários mortos.
É uma situação muito mais complexa para a compreensão do brasileiro médio.
O governo de Recep Erdogan não é o que se pode dizer de democrático, muito menos progressista.
Ele era acusado de corrupção e manobras para permanecer no poder, desde 2002.
O Hizmet também é alvo de denúncias de corrupção, embora seja um grupo ligado a projetos educacionais.
O Oriente Médio é uma região muito complexa e os conflitos existentes seguem uma sequência interminável de tragédias.
É muito estranho que, nas esquerdas médias, houve uma tendência de superestimar o Oriente Médio, como se fosse um assunto não de cunho estrangeiro, mas uma realidade da nossa vizinhança de rua.
Mal conseguíamos discutir os problemas do nosso país, tínhamos que preocupar com a criação do Estado Palestino como se fosse a eleição da associação de moradores do nosso bairro.
Se for assim, não teríamos BRICS, mas PRICS: a nação Palestina, assim que formada, iria passar a perna de nosso país.
Quanto à Turquia, a lição que temos é que um golpe militar pôde ser abafado.
É claro que não da forma como ideologicamente compreendemos como de nosso favor, mas ela incluiu manifestação popular.
Aqui a manifestação popular só ocorre se a grande mídia mandar.
No plano nacional, se a Folha de São Paulo, Veja e Rede Globo mandarem o povo ir para as ruas, ele irá.
Num Estado como o Rio de Janeiro, isso significa a influência da TV Globo local e do jornal O Dia para dizer se o povo deve defender ou combater uma causa.
Se o jornal O Dia não disser, por exemplo, que a pintura padronizada nos ônibus cariocas é prejudicial à população (na verdade, é, e muito), o povo não se mobilizará.
E aí o direito de ir e vir será um "salve-se quem puder", sem que viva alma saiba a diferença real entre Real e Redentor, um Verdun e um Matias, um Alpha e um Braso Lisboa.
Só falta a grande mídia ser usada como despertador para acordar as pessoas, de tão manipuladas que elas estão.
Pelo menos na Turquia, há golpes militares fracassados.
No Brasil, o que se vê é um golpe institucional, respaldado pela grande mídia, por setores do Ministério Público e pelo Poder Judiciário.
E aí tem o Datafolha dizendo que o presidente interino de representatividade ilegítima, Michel Temer, é "legitimado" pelo apoio de 50% dos brasileiros à sua continuidade no poder até 2018.
O Datafolha demorou tempos para publicar uma pesquisa sobre o governo Temer.
Quando publicou, caiu em contradições quando interpretada pela grande mídia, sobretudo a Folha de São Paulo, do mesmo dono do instituto de pesquisa.
A Folha disse que os brasileiros estão "mais confiantes em relação à queda da inflação, à diminuição do risco de ficar desempregados e ao aumento do poder de compra".
Paradoxalmente, aponta que 60% acreditam que os índices de desemprego e da inflação irão piorar com a efetivação do governo Temer.
Apesar dessas contradições, a grande mídia e o mercado trabalham pesado para tentar efetivar o governo de Michel Temer.
Querem porque querem que seja implantado esse governo neo-medieval para o Brasil.
Com o fim das conquistas sociais, com a redução do poder aquisitivo do povo, com a venda barata de empresas públicas e de recursos como o pré-sal para estrangeiros ou brasileiros capachos de Tio Sam.
O golpe militar pelo menos consegue ser abafado num país em sérios problemas como a Turquia.
Mas aqui o golpe sem tanques, mas com farda, toga e antenas de TV, tenta trabalhar a consolidação definitiva para o fim de agosto próximo.
A mídia quer que o mês de agosto traga desgosto para os brasileiros, desde que renda vantagens para a plutocracia envolvida.
E fará tudo para ganhar, a não ser que o povo reaja para derrubar este golpe.
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