Uma notícia terrível foi dada pelo colunista Ancelmo Góis, do jornal O Globo: Luíza Brunet teria sido agredida pelo namorado, o bilionário Lírio Parisotto, poucos dias antes de completar 54 anos de idade.
Então um figurão bem sucedido do meio empresarial, que acabara de comprar ações da Rede Brasil Sul em Santa Catarina (logo o Estado onde nasci), Parisotto e Luíza estavam em Nova York.
Foi no dia 21 de maio último. O empresário seria homenageado num evento intitulado, vejam só, "Homem do Ano" e ele seria agraciado por seus empreendimentos e destaque no colunismo social.
Parisotto ficou furioso quando algumas pessoas o confundiram com o ex-marido de Luíza, o antiquário Armando Fernandez, pai da atriz Yasmin Brunet e de seu irmão Antônio.
Quando voltaram ao apartamento de Lírio na cidade estadunidense, o então casal teve uma séria discussão.
Lírio estava alterado e, da discussão oral, o empresário passou a agredir a namorada. Primeiro com um soco, depois com pontapés, quebrando quatro costelas dela.
E tudo isso a três dias do aniversário da gata, que não merecia esse "presente antecipado" do dia 24 de maio, quando ela completou 54 anos.
"Eu criei coragem, perdi o medo e a vergonha por causa da situação que nós, mulheres, vivemos no Brasil. É um desrespeito em relação à gente. O que mais nos inibe é a vergonha. Há mulheres com necessidade de ficar ao lado do agressor por questões econômicas, porque está acostumada ou mesmo por achar que a relação vai melhorar", escreveu a modelo no Facebook.
Ela mostrou uma foto com a maquiagem cobrindo marcas de hematomas, quando divulgou esse desabafo.
Evidentemente, tinha que haver o caso de Luíza Brunet para chamar a atenção a esse machismo terrível.
Dos homens poderosos que se apropriam das mulheres que gostaríamos de namorar e ainda as agridem, isso quando não as exterminam.
E depois esses mesmos homens bancam os coitadinhos, fazem pose cabisbaixa e, quando deixam de ser punidos, ainda olham para a gente como se quisessem nos convidar para tomar cafezinho.
Posso ser mais novo que Luíza - ela declarou que só apreciava homens mais velhos, mas, depois dessa, não sei como se ela, a essas alturas, reverá sua posição - , mas eu teria tido melhor consideração com ela, se fosse seu namorado ou marido.
Adoro mulheres bonitas, mas também admiro mulheres que vão além da beleza física.
Infelizmente, diante da blindagem do brega-popularesco, nós, homens sem um grande status nessa sociedade patética e plutocrata, éramos "aconselhados" pelos fascistas digitais, nas mídias sociais, a gostar só de siliconadas e a ver mulheres como meros brinquedos sexuais.
Pior é que a gente dizia que esses caras eram machistas e eles ainda davam gargalhadas. A risada costuma ser a confissão dos covardes, diante das omissões do "sim" e do "não".
Era um mundo hipócrita, em que os machistas não eram machistas e as mulheres-objetos (ou "frutas", "filés", "funqueiras feministas", "garotas da Banheira do Gugu"), pasmem, eram tidas como feministas.
Essas mulheres não podem ser feministas só porque não têm namorado ou marido e, se tiveram, haviam rompido a relação.
Afinal, se a mulher aceita o serviço midiático, do entretenimento "popular", de ser o brinquedo sexual de um monte de machos afoitos, tipo os que estupraram uma menina no Rio de Janeiro, ela não está sendo de modo algum feminista.
A feminista pode fazer fotos sensuais, até "pagar calcinha", mas ela não faz isso o tempo todo.
A mulher de verdade não vê a sensualidade como um fim em si mesmo, mas como uma eventualidade.
Emma Watson, por exemplo, sabe ser bem sexy no momento certo, mas em outros aparece de roupões de maneira bem discreta.
Luíza Brunet pode ter sido muito famosa por ser símbolo sexual, mas buscava ser charmosa e nunca foi vulgar.
Acompanho ela desde 1981, e ela sempre foi desejada por mim desde então. Via as fotos dela nas edições da revista Domingo, do Jornal do Brasil.
Ela é uma excelente profissional, e sabe lidar com a fama.
Tanto que nenhuma notícia se ouve do filho caçula, Antônio, que é maior de idade e tudo. Isso porque ele é mantido na mais absoluta privacidade, num país onde o mercado da fama é ainda mais voraz que o de Hollywood.
Foi uma coragem de Luíza denunciar a violência que sofreu, aproveitando a visibilidade para chamar a atenção de um drama que muitas mulheres sofrem há décadas sem que alguma justiça seja feita.
E isso num sistema machista que, nos últimos anos, ficou ainda mais doido.
Pois hoje é o machismo cujos homens ricos e poderosos se casam com mulheres independentes por causa de um novo fetiche mais sofisticado do que as antigas "belas, recatadas e do lar".
Mulheres que adoram ouvir Belle and Sebastian, Toninho Horta e João Gilberto e se casam com empresários ou profissionais liberais que pouco se importam se elas gostam disso ou gostam de Belo, Ivete Sangalo ou Bruno & Marrone.
O machista precisa de uma "boneca Barbie" que, além de ser bonita e atraente, passasse agora a falar e mostrar coisas interessantes.
O machista cansou de brincar com a mulher-objeto, que agora virou artigo de "queima de estoque".
Antes haviam as cheerleaders casadas com atletas muito prestigiados.
Hoje as ring girls parecem cheerleaders em falência, com algumas aceitando até conversar com rapazes modestos.
O machismo tenta se adaptar aos tempos, e muitas vezes as mulheres que eram legais se corrompem diante de maridos tão ambiciosos.
A fã do Belle and Sebastian que se casa com um entrepeneur passa a só querer ir a eventos de luxo e outras formalidades.
Mas outras mulheres que eram ou poderiam ser legais passam depois a decepcionar.
Cláudia Cruz chegou perto de ser musa cult, até descobrirmos que ela é esposa do tenebroso Eduardo Cunha.
Marcela Temer poderia ser uma jovem promissora e independente, mas preferiu um casamento nos padrões do século XIX, com um marido sisudo, extremamente velho e sem graça.
É um país muito maluco em que a intelectualidade "bacana" falava em "feminismo de traseiro", que nunca passou de um machismo sem machões praticado por uma parcela de mulheres manipuladas pela mídia.
É nesse cenário maluco que Luíza Brunet denuncia um machismo da alta sociedade, que mostra que ser machista não depende de dinheiro ou de falta de dinheiro, mas da arrogância narcisista de uma parcela de homens mais preocupados com seus "membros centrais".
E esse incidente se soma e muitos tantos num Brasil em plena crise.
E a agressão de Lírio Parisotto mostra que a crise não é só econômica. A crise envolve moralidade também, já que dinheiro é que não falta nesse poderoso empresário.
Essa "outra" crise é uma lição amarga, porém muito urgente para nosso país.
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