Na tecnocracia, se expressa a supremacia de arbitrariedades adotadas diante de uma reputação de suposta superioridade técnica ou movida por um aparato de racionalidade e transparência.
É isso que vemos em uma proposta e uma medida adotadas no entorno do governo de Michel Temer.
De um lado, o deputado do PSDB paulista, Bruno Covas, neto do membro-fundador Mário Covas, criou uma proposta exigindo obrigatoriedade de diploma para ministros de Estado na República.
De outro, é a demissão de 81 servidores de instituições ligadas ao Ministério da Cultura pelo titular da pasta, o carioca Marcelo Calero, ligado ao prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, de quem foi secretário de Cultura.
Em ambos os casos, o verniz de racionalidade se apoia em tais ideias.
A exigência do diploma, proposta por Bruno Covas, tem como pretexto a especialização técnica para assumir um respectivo ministério.
A exoneração dos servidores do Ministério da Cultura foi feita sob o pretexto de que eram "cargos comissionados", a serem substituídos por "servidores concursados".
Provavelmente, em concursos públicos que tenham Matemática ou Raciocínio Lógico-Quantitativo, porque o moralismo tecnocrata quer servidores com mentalidade calculista, mesmo que nunca viessem a trabalhar com eles.
No entanto, o verdadeiro motivo de um e de outro se revelam cruéis: a "limpeza" ideológica feita para eliminar as marcas do vínculo social das forças progressistas que atuaram nos governos do PT.
É uma forma de afastar qualquer sombra petista nas formas de lidar com a coisa pública, sob o pretexto de critérios técnicos que pouco dirão para a experiência vivencial do ministro ou do servidor.
Além disso, a demissão dos servidores ligados ao MinC tem um caráter revanchista.
Ela veio um dia após a Polícia Militar expulsar à força manifestantes que ainda ocupavam a Funarte, em total oposição ao governo Temer e descrentes com o simulacro de MinC que está aí.
Marcelo Calero, sobretudo, segue a desculpa "técnica" que fez Eduardo Paes, por exemplo, justificar as arbitrariedades impostas ao transporte coletivo, como pintura padronizada nas frotas de ônibus municipais e fim de linhas funcionais de ligação Zona Norte X Zona Sul.
Uma desculpa que só faltava ser dada pelo candidato à sucessão por Paes, Pedro Paulo Carvalho, que poderia ter definido as agressões à ex-mulher como "reações de caráter drástico a um diálogo mal-compreendido".
Calero usou a desculpa dos "cargos comissionados" para expulsar servidores oriundos de administrações petistas.
Se fosse um editor de Veja ou um "revoltado da Internet", a acusação seria primária: "envolvimento com o PT".
Quanto a Bruno Covas, a exigência de diploma vai na contramão de um governo que ameaça extinguir a Carteira de Trabalho com a precarização do emprego.
Uma racionalidade que só serve para sustentar intenções irracionais da plutocracia.
Que querem organicidade e organização só nos seus círculos elitistas e burocráticos.
Quanto ao povo, que reine o caos, a desordem e a precaridade.
Enquanto isso, os contos de fadas do "maravilhoso governo de salvação nacional" são lindamente noticiados nos telejornais.
Para o pessoal acreditar que o governo de Michel Temer irá salvar o país.
Coitados dos que acreditam nesses telejornais. Levarão um choque terrível ao verem (e admitirem) a realidade.
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