Um grande pepino caiu nas mãos de Otávio Frias Filho.
Sua Datafolha levou tempo para publicar alguma pesquisa sobre o governo de Michel Temer, e, quando publicou, cometeu um grande desastre.
Dados confusos, contraditórios, e além do mais com uma reportagem tendenciosa da Folha de São Paulo.
A Datafolha divulgava pesquisa atrás de pesquisa quando Dilma Rousseff estava no governo.
Era a época em que a grande mídia praticava o chamado "jornalismo de guerra".
O termo "jornalismo de guerra", do espanhol periodismo de guerra, foi um termo cunhado pelo editor-chefe e colunista político do argentino Clarín, Julio Blanck.
Este termo se refere à campanha de desmoralização violenta à então presidenta da Argentina, Christina Kirchner que perdeu a chance de se reeleger e foi derrotada pelo neoliberal Mauricio Macri.
Blanck admitiu que isso foi mau jornalismo.
Na verdade, a mídia continua praticando "jornalismo de guerra", mas por ora age na defensiva.
Tentam salvar a reputação do já desgastado Michel Temer, e levar seu moribundo governo adiante.
Enquanto têm poder para isso, a grande mídia e os midiotas mostram até uma alegria e uma leveza em seus telejornais.
A Globo News está nas nuvens, diante de um cenário político em que a Escola Sem Partido é apresentada ao Senado Federal e a CLT tem sua morte anunciada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.
Muito diferente de um Jornal das 10 explodindo de raiva depois que foi divulgada a gravação da conversa de Romero Jucá e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.
A grande mídia até se esforçou para concentrar seu foco em Michel Temer e seus dois "super-heróis", Henrique Meirelles e José Serra.
Mas José Serra não é carismático e Henrique Meirelles foi pego na farra financeira da Friboi.
Por ora, Meirelles "descansa" sua imagem na mídia e Eliseu Padilha, ministro-chefe do Gabinete Civil do governo Temer, virou porta-voz ocasional de assuntos econômicos.
A pesquisa do Datafolha, primeira de um grande instituto sobre o velho "novo" governo, começou com uma grande gafe.
Disse que 50% dos brasileiros querem que Michel Temer se torne efetivo, ficando no poder até 2018.
Anunciou isto com grande otimismo, como se Temer tivesse oferecido alguma esperança.
Mas poderia também haver outros 50% querendo que Michel Temer saia do poder depois da votação definitiva do impeachment de Dilma Rousseff.
Pesquisas anteriores ao afastamento corrente de Dilma Rousseff (o impedimento provisório, a ser confirmado ou cancelado pela votação definitiva) mostravam grande reprovação a Temer.
Dois textos de Glenn Greenwald e Erick Dau, do Intercept, dão detalhes a respeito: aqui e aqui.
Há, entre dados estranhos, uma queda brusca, entre os brasileiros que querem novas eleições, de 62% na pesquisa divulgada em 25 de abril, para 3% na pesquisa divulgada em 19 deste mês.
Essa queda poderia ser justificável se o governo tivesse apresentado algo admiravelmente positivo.
Não é o caso do governo Temer, que até agora só se mostrou deprimente, a despeito da alegria que ele traz para os jornalistas que trabalham na mídia oligárquica.
Essa alegria, no entanto, não consegue esconder os dados sombrios.
Mesmo alguns veículos reacionários, como O Estado de São Paulo, ou o colunista de O Globo, Jorge Bastos Moreno, que mais parece um porta-voz de Michel Temer, são obrigados a admitir que existe corrupção na chamada "equipe de notáveis" do governo temeroso.
Uma distorção feita pela Folha foi arrancar uma resposta a uma opção inexistente numa pergunta, a das novas eleições.
Ela chegou a 3% dos que "querem novas eleições" pela questão binária de optar entre a volta de Dilma e a permanência de Temer.
Da mesma forma, se 50% querem que Temer fique, não é essa a opção de outros 50%, independente de querer o "volta Dilma" ou não.
Além disso, um comunicado do Datafolha afirmou que 60%, e não 3%, do eleitorado queria novas eleições para presidente da República.
A manobra da Folha de São Paulo ganhou repercussão internacional.
A mídia realmente independente está questionando todo o processo de blindagem a favor de Temer.
Só o Brasil é que há um clima dominante de otimismo e felicidade.
Mesmo que os novos tietes de Michel Temer tenham que trabalhar mais, se aposentar mais tarde, ganhar menos salários, perder encargos e ver seus filhos aprendendo estórias da Carochinha em aulas de História.
Lá fora o mundo gira. No Brasil tudo fica na órbita dos umbigos dos sociopatas.
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