Se o governo do presidente Michel Temer é uma coleção de crises graves, a pasta do Ministério da Cultura sofre essa situação até às últimas consequências.
O Ministério da Cultura chegou a ser extinto, rebaixado a uma secretaria do Ministério da Educação.
Houve protestos da classe artística, intelectual e dos movimentos sociais e o Ministério da Cultura foi reativado.
Mas o MinC do governo Temer tinha um ranço mais burocratizado, e restrito ao mainstream das atividades culturais, com ênfase no turismo.
A antiga dinâmica do MinC havia ido embora, afinal é o projeto conservador do governo Temer.
Como Temer inicialmente montou um ministério machista, ele havia tentado, antes de reativar o MinC, chamar mulheres para a então Secretaria de Estado da Cultura.
Várias recusaram, entre elas nomes como Marília Gabriela, que não gostou da oferta, e Bruna Lombardi, que alegou compromissos profissionais.
Quem assumiu o cargo foi outro homem, Marcelo Calero, ex-secretário de Cultura do prefeito carioca Eduardo Paes.
Calero assumiu o cargo ainda sob o status de secretaria, mas iniciou os trabalhos com o MinC reativado.
Sua atuação foi insossa, e, evidentemente, diante do projeto político a que se submeteu, nada satisfatória para o setor da Cultura, apesar de um esforço razoável.
Calero no entanto deixou o ministério quando ele se sentiu pressionado pelo então ministro-chefe da Secretaria de Governo, o baiano Geddel Vieira Lima, a aprovar um empreendimento.
Era o polêmico Le Vue, prédio de concepção modernosa que seria construído numa área histórica de Salvador, próxima ao Porto da Barra.
Um lobby feito em torno do IPHAN de Salvador (a 7ª Superintendência Regional, que Bahia e Sergipe compartilham) para aprovar o empreendimento, que teria um andar exclusivo para Geddel e familiares.
Geddel queria a mesma atitude do IPHAN nacional, autarquia ligada ao MinC.
Calero não gostou e caiu fora.
Em seu lugar, criou-se um impasse, até que se colocou o ministro-tampão, o presidente do PPS, Roberto Freire, um leigo no setor.
Sua atuação foi meramente decorativa, pois seus subordinados deram sequência ao que já se fazia na gestão Calero.
E aí veio a delação de Joesley Batista, da JBS, que caiu como uma bomba no governo Temer.
E aí Roberto Freire é que deixa a pasta, pois o PPS deixou a base aliada.
E aí entrou o cineasta e escritor João Batista de Andrade, vindo da Ancine, outra autarquia subordinada ao MinC.
Andrade é conhecido por filmes como O Homem que Virou Suco (1980) e Vlado: 30 Anos Depois (2005).
Mas aí o orçamento anoréxico para a pasta, que abriga uma série de fundações e autarquias, entre outros órgãos, fez Andrade deixar a pasta.
Ele reclamava que o corte de 43% do orçamento do governo para a Cultura inviabilizava suas atividades.
Andrade também reclamou que não tinha autoridade para poder indicar a produtora Débora Ivanov para a presidência da Ancine.
Temer preferiu Sérgio Sá Leitão para a pasta.
Andrade afirmou nada ter contra Sá Leitão, mas disse que a indicação de Ivanov se deu junto a profissionais do setor e mediante critérios técnicos.
Sem poder decidir neste sentido, Andrade optou por deixar o cargo.
Temer deve escolher o sucessor com base em suas convicções políticas. E isso se o temeroso presidente não cair até lá.
A coisa está tão feia que nem Marta Suplicy, ex-ministra da pasta durante o governo Dilma Rousseff (que a mãe do Supla depois traiu) e aliada de Temer, aceitou o convite para assumir a pasta.
Agora o MinC anda à deriva, como o pior dos barcos de uma esquadra em mar revolto.
E diante do isolamento político de Michel Temer, e um país desgovernado como o Brasil, justamente um ministério ligado à cultura é o que mais sofre com a crise política atual.
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