Morreu ontem um dos jornalistas mais atuantes dos últimos anos, o paulista Paulo Nogueira.
Ele era um dos fundadores do Diário do Centro do Mundo, um dos mais instigantes portais de notícia da atualidade. Sofria de câncer, contra o qual lutava há dez meses.
Nogueira tem experiência na mídia corporativa. Era filho de Emir Nogueira, editor de opinião da Folha de São Paulo.
Formado pela Fundação Casper Líbero, trabalhou em vários periódicos da Editora Abril e conviveu profissionalmente com o empresário Roberto Civita.
Atuou em diversas revistas: Veja, Playboy, Superinteressante, Exame e até a extinta Alfa.
Teve passagens também na Editora Globo, trabalhando na revista Época.
Inicialmente, seu DCM era apenas um blogue. Mas depois virou um portal de notícias.
O papel de destaque do Diário do Centro do Mundo se deu sobretudo em maio de 2016, quando Dilma Rousseff foi afastada do poder.
Já se empenhando como crítico dos abusos da mídia oligárquica, feitos com muito conhecimento de causa por Paulo, seu irmão Kiko Nogueira e outros parceiros, o DCM é um dos melhores veículos para se entender a realidade do governo Michel Temer.
Um pesquisador mais dedicado a entender a recente História do Brasil tem em mãos os textos do DCM que desde a primeira hora alertavam sobre a falência política de Temer.
O DCM também investiu numa iniciativa inusitada, as séries de reportagens por crowdfunding, ou seja, financiada pelas colaborações de leitores internautas.
Eram reportagens, por isso mesmo, independentes, sem o patrocínio de empresas e, portanto, sem qualquer pressão patronal.
Eram reportagens nas quais os fatos é que diziam por si só.
Eu tive o prazer, quando estava no Facebook e, mais recentemente, quando entrei no Twitter (abandonei o FB há quatro meses), de mandar linques para o DCM sobre assuntos relativos à mídia oligárquica e ao governo Temer, entre outros incidentes do tipo.
O DCM muitas vezes aceitava minhas sugestões.
Era bom ver Paulo e Kiko Nogueira escrevendo sobre a realidade sombria que eles viram dentro das redações da imprensa comercial.
Eles podiam criticá-la porque conviveram com esse processo, em que a profissão jornalística se degradava até o ponto de hoje, com baixarias e mentiras.
Paulo e Kiko saíram em boa hora, quando viram que a natureza do jornalismo, de cobrir os fatos com o máximo de transparência possível, era deixada em segundo plano.
Hoje até a Globo News e a Veja atuam como produtoras de fake news, tão paranoicas em seu furioso reacionarismo ideológico.
E o Jornal Nacional virou uma palhaçada, misto de novela com programa humorístico, não sendo sequer verossímil como noticiário.
Neste sentido, o "gigante Golias" do JN foi derrubado pelo "pequeno David" do DCM, que buscava provar que o trabalho jornalístico continua firme e forte.
O DCM continua em frente, com Kiko Nogueira, irmão de Paulo, Emir Nogueira, primogênito do já saudoso jornalista, e uma equipe de redatores como Nathali Macedo, Joaquim de Carvalho e outros.
Outra filha de Paulo, Camila Nogueira, também escreve para o DCM.
Paulo Nogueira deixou como legado uma lógica de perseverança, honestidade e coragem de navegar contra a corrente da grande mídia, que permanece vivo em sua equipe.
Paulo deixou, portanto, sementes fortes, com seu trabalho e as lições deixadas no DCM.
E hoje o Brasil protesta contra Temer lutando pelo país de padrões escandinavos que sonhava Paulo Nogueira.
Além de ser o protesto contra um governo decadente, a greve e as passeatas acabam sendo, acidentalmente, uma gratidão a pessoas como Paulo.
Afinal, ele em parte é responsável por divulgar informações e conhecimentos que inspiraram a indignação popular e o retorno das grandes manifestações.
Fica nossa gratidão, portanto, à carreira e ao legado de Paulo Nogueira, lamentavelmente encerrada no meio do caminho. Vá em paz, Paulo!
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