Nos últimos dias, a Globo News, hoje ideologicamente aparelhada, veicula campanhas de seus programas com alto grau de personalização de seus apresentadores e comentaristas.
Não se trata apenas de apresentar o apresentador, o que seria natural, mas enfatizá-lo como se ele fosse mais importante que a notícia.
Algumas campanhas envolvem programas com William Waack, Cristiana Lobo e tem até o Jornal das Dez.
Essas campanhas enfatizam nomes como Waack, Cristiana, Merval Pereira, Alexandre Garcia e outros como "formadores de opinião".
Não gosto muito dessa glamourização do jornalista.
Essa heroificação, essa imagem do comentarista que personifica a "análise dos fatos", a "informação aprofundada" etc.
Isso até existe no exterior, se vê na CNN, mas é bem mais sutil e discreto.
Na BBC matriz, mais discreto ainda.
Mas no Brasil, há aquela mística do jornalista que "combateu a censura da ditadura militar" que prevaleceu até uns quinze anos após a redemocratização.
Essa imagem empurrou até a inserção de rádios jornalísticas em FM, e não em AM (faixa de sintonia sabotada pelos barões da mídia), desalojando até rádios autênticas de rock.
Ela também alimentou o bonapartismo eletrônico da Rádio Metrópole FM, de Salvador, e seu astro-rei, Mário Kertèsz.
É aquele mito do jornalista que parece ser o "senhor da opinião", um pretenso "sábio em miniatura", que se julga acima da opinião.
Não gosto dessa imagem do jornalista que se coloca acima das notícias, como se segurasse o mundo com as mãos.
Esse mito aumentou demais o poder dos jornalistas na sociedade e permitiu a supremacia que hoje se vê na grande mídia.
E escondeu as relações hierárquicas que têm os chefes de redação, os articulistas e os repórteres.
Geralmente o repórter trabalha e os louros vão para o redator-chefe, que se autoproclama o "batalhador da notícia".
Muita mitologia foi feita, colocando o jornalista como acima da sociedade, sob a desculpa de ser um "simples representante" da mesma.
Tudo virou um "imprensocentrismo", no qual informação era confundida com conhecimento.
Felizmente, os próprios abusos da grande imprensa nos últimos quinze anos permitiram que se questionasse esse mito que parecia inabalável.
Apesar de eu ser jornalista, com registro profissional e diploma, nunca coloquei o jornalismo como a medida de todas as coisas.
Às vezes, preferia ver um desenho animado do que um noticiário.
Em outras, via um noticiário mais pela beleza da apresentadora.
É chato ficar ouvindo noticiário o tempo todo, ainda mais que, com a agenda setting, que é o hit-parade da notícia, diferentes veículos acabam noticiando a mesma coisa.
Pode parecer politicamente incorreto um jornalista formado não ser fanático por noticiários.
Mas a vida funciona assim, mesmo. Ninguém vive para ficar só ouvindo notícia.
E ainda tem a overdose de informação, fenômeno nunca devidamente analisado no Brasil e que é uma grande armadilha social.
Na overdose de informação, a pessoa tem a falsa impressão de estar bem informada, mas a sobrecarga de informações provoca o emburrecimento e a alienação, além de uma certa submissão ao "âncora" de ocasião.
Ainda mais quando a mídia se torna bastante reacionária, facciosa e tendenciosa.
Como a Globo News, aparelhada nos últimos dois anos e agora vendendo o personalismo de seus ideológicos âncoras e comentaristas como se fosse a "melhor expressão da opinião pública".
Diante disso, é preferível arejar a mente e, de vez em quando, ficar longe dos noticiários.
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