Mais uma vez, a crise extrema do governo Michel Temer.
E, mais uma vez, o "funk" mostrando seu discurso vitimista para as esquerdas que tiverem algum coração mole.
A gente viu esse filme.
As forças esquerdistas terminam recebendo chacotas dos sociopatas de plantão, que enchem de moral em querer ver Lula e Dilma Rousseff na prisão.
O "funk" não era para ser considerado uma força progressista.
Seu histórico envolveu uma relação de cumplicidade com o poder midiático local, sobretudo com a Rede Globo.
Sua retórica de "movimento cultural" foi tramada pelas Organizações Globo, que deu um toque "social", e pelo Grupo Folha, em que o próprio Otávio Frias Filho criou um verniz mais "artístico" e "ativista" para o estilo.
A plutocracia artística apoiava o "funk": Casseta & Planeta já em aventuras tucanas, Alexandre Frota, Susana Vieira.
Nem vamos detalhar muito as parcerias políticas, como o PMDB carioca, o PSDB, partidos satélites como PP, PTB e PPS, de políticos fluminenses que patrocinaram o "funk de raiz"...
Até o "protesto" de Rômulo Costa, da Furacão 2000, contra o então deputado Eduardo Cunha, naquele 17 de Abril de 2016, ficou meio um clima "fomos aliados mas você me traiu no meio do caminho".
Depois daquele papelão do "baile funk" que abafou o protesto popular contra o impeachment de Dilma Rousseff e colocou a dança acima da manifestação política.
Isso favoreceu os próprios parlamentares anti-Dilma que, com o "batidão" sufocando as vozes dos manifestantes, o "funk" soou como música relaxante para quem tramou o cenário político que hoje se encontra em crise.
"Funk" é o Cabo Anselmo dos tempos atuais, com aquele discurso que faz a linha "membro do Departamento de Estado dos EUA fazendo palestra sobre marxismo".
Sou contra a criminalização do "funk" porque isso é exagero, não há motivo para isso e a coisa acaba gerando um efeito contrário.
Afinal, foi a "campanha" de setores da imprensa policialesca ao noticiar incidentes em "bailes funk" que abriu o caminho para a intelectualidade "bacana" vestir a camisa do ritmo brega-popularesco.
Foram tantas coberturas policiais que empresários-DJs de "funk" articularam uma retórica um tanto oportunista, marqueteira mas com muito papo-cabeça, com setores das elites intelectuais e artísticas.
Era um porre ouvir aquele papo de "cultura das periferias", aquela retórica da "pobreza linda", da "favela legal", de "como é lindo ser pobre".
Cai um temporal violento numa cidade e vamos ver se é legal ser pobre.
Esse discurso em prol do "funk" é muito hipócrita e é vendido como "progressista" nas mídias esquerdistas.
Só que esse discurso causa o efeito contrário: em vez do fortalecimento dos movimentos sociais, quem sai fortalecido são os plutocratas.
Poucos se esquecem que Luciano Huck abriram as portas para o "funk" e que, entre 2003 e 2005, era ordem da famiglia Marinho botar "funk" em tudo que for programa e veículo das Organizações Globo.
Ia do caderno Ela, de O Globo, à revista Quem Acontece. Do Casseta & Planeta ao Mais Você. Do Caldeirão do Huck ao canal Futura. Da Globo News ao hoje extinto portal Ego.
Muitos fingem que isso não aconteceu, embora o "funk" aparecia com claro apelo de mershandising até em novela na Globo, no palco do Domingão e do Caldeirão e tudo.
Se até Danilo Gentili e a revista Veja deram espaços elogiosos ao "funk", que "movimento de sem-mídia" ele expressaria, se essa discriminação midiática nunca existiu?
O que preocupa é que o "funk", que aborda as populações pobres de maneira estereotipada, caricatural e mercantilizada, sempre anda patrulhando as esquerdas em toda crise recente na plutocracia política.
Sempre com aquele discurso do "funk" pegando carona nos movimentos sociais.
Aquele papo cansativo: "a MPB já era, hoje o must é a provocatividade, o empoderamento, a ostentação" etc.
Um discurso mais marqueteiro e que não revela o verdadeiro cotidiano das classes populares.
Na vida real, o povo pobre batalha, se diverte por conta própria, reivindica qualidade de vida e cidadania mais do que o consumismo.
No "planeta funk", o povo finge que luta por seus direitos e prefere o espetáculo e o consumismo. Cidadania e qualidade de vida são só um detalhe.
Fico imaginando como se dará isso se crescer o fenômeno do "pobre de direita".
Os futuros Lobão e Roger aparecerão no "funk", no caso de não ser mais possível patrulhar as esquerdas e perderem as esperanças de Lula voltar para os funqueiros arrancarem verbas públicas da Lei Rouanet.
No caso da plutocracia ficar no poder em definitivo, os funqueiros passarão a adotar gradualmente um discurso claramente mais conservador.
E aí pergunta-se como ficarão as esquerdas que morderam a isca dos funqueiros que as apunhalam pelas costas e vão comemorar suas conquistas nos palcos da mídia venal.
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