Sabe-se que, nos últimos anos, a mediocridade musical dos anos 1990 virou genial.
Isso não é exclusivo do Brasil.
Nos EUA, o chamado poser metal, que nos anos 80 era tratado como se fosse uma versão roqueira da menudomania, passou a ser adotado como filho bastardo do heavy metal e do classic rock.
O caso do Guns N'Roses, Bon Jovi e Motley Crue são ilustrativos.
No Brasil, são os cantores, duplas ou grupos de "sertanejo" e "pagode romântico" que fizeram sucesso na Era Collor (1989-1992).
Mas às vezes também o forró-brega, a axé-music ou mesmo o compositor Michael Sullivan, que também fizeram sucesso na época, agora são tidos como "geniais".
Não fomos nós que mudamos. Mas a junção de interesses de conveniência aqui e ali.
Não passamos a ver em um Guns N'Roses um "novo Led Zeppelin" ou em Alexandre Pires um "novo Wilson Simonal".
Do mesmo modo, o Molejão não virou o novo "Originais do Samba" e Chitãozinho & Xororó não viraram sócios tardios do Clube da Esquina.
Todos continuam medíocres como antes, só simbolizam um grande sucesso comercial que permaneceu inabalado durante anos.
O problema é que os interesses comerciais de parte da imprensa especializada fizeram com que tais nomes se tornassem "aproveitáveis" no âmbito da "música de qualidade".
Tudo de mentirinha, é claro.
Coisa de fazer vender revistas especializadas ou garantir passaporte gratuito para críticos musicais viajarem o país.
Que a música brega-popularesca de 1989-1992 pareça verossímil em relação a hoje, é verdade.
Mas o fato dela parecer "divertida" ou ser alvo de algum saudosismo dos fãs não significa que ela virou genial.
Temos que avaliar as ondas de saudosismos, porque sempre imaginamos a nostalgia como coisa exclusivamente positiva e saudável.
Isso é discutível. Nostalgia não é, em si, boa ou ruim.
Tem seus lados ruins. A vontade de setores da extrema-direita de regressar a ditadura militar, sob o rótulo de "intervenção militar", é um exemplo.
O próprio governo de Michel Temer, apesar da roupagem civil, é um cruzamento dos governos dos generais Castelo Branco e Ernesto Geisel.
É um governo que quer retornar o Brasil aos padrões "democráticos" de 1974-1976.
A breguice musical tem também esse saudosismo, apesar do discurso "guevarizador" que a intelectualidade "bacana" empurra para as esquerdas.
Ela quer retomar o período de separatismo musical dos tempos de Geisel.
A MPB isolada nas elites universitárias, o brega para o grande público, o rock para os "desbundados".
Aliás, o que há hoje é pior. Nem os universitários podem mais ouvir MPB, pois a breguice de hoje é quase totalitária, está tomando os espaços restantes da MPB.
Há até esforços para renovação da MPB, mas eles esbarram em muitos impasses.
Terão que competir com os "carneirinhos" que fazem sub-Jovem Guarda com verniz pós-tropicalista e os "provocativos" que, ocupados com tanta polêmica, se esquecem de fazer boa música.
Com isso, enquanto a MPB autêntica é condenada a ser revival de si mesma, os neo-bregas da geração 90 são vistos como "geniais" e empurrados até para o público alternativo.
Vide o constrangedor tributo "alternativo" ao grupo Raça Negra, com capa imitando a estética dos discos do Sonic Youth.
O grande temor é que a mediocridade, sempre que completar duas décadas de sucesso, ganhará verniz de falso ouro.
As "genialidades" que hoje muitos veem na geração neo-brega de 1989-1992, ou mesmo um pouco mais tarde, através do É O Tchan, eram as baixarias que afligiam os conhecedores de música de então.
Eles não se tornaram melhor nem as percepções das pessoas se tornaram mais generosas. O que mudou foi o jabá, cada vez mais ambicioso em subornar pessoas além dos meros programadores de rádio FM.
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