A intelectualidade "bacana" vê o mundo ruir. Infantilmente, acreditava no poder revolucionário de seus heróis, como Waldick Soriano, Zezé di Camargo & Luciano, Banda Calypso, MC Guimê, Fábio Jr.. Quem acreditava que a bregalização cultural traria a revolução bolivariana-guevarista para o folclore brasileiro errou redondamente.
Um por um, os bregas que a intelectualidade "bacana" empurrava goela abaixo para a mídia esquerdista aceitar de bom grado tiravam suas máscaras e se revelavam reacionários de carteirinha, em surtos que a "intelectualidade mais legal do país" não imaginava que ocorresse.
E olha que não se fala, por exemplo, de um Alexandre Pires abraçado a George W. Bush ou Bell Marques cumprimentando, feliz da vida, o arroz-de-festa da direita Aécio Neves. Ou Ivete Sangalo comandando o movimento Cansei. Ou Michael Sullivan como o feliz e obediente serviçal das Organizações Globo. Ou Chitãozinho & Xororó de mãos dadas com os ruralistas.
Mandaram tirar os vídeos de uma entrevista de Waldick Soriano ao TV Mulher, em 1983, defendendo o machismo e a ditadura militar, para o bem a memória curta que é sempre um grave cacoete para o Brasil. Só que a imagem "limpinha" que queriam fazer do ídolo brega ruiu e os que assim fizeram não puderam explicar suas posturas contraditórias no caso do Procure Saber.
Zezé di Camargo & Luciano tucanados, Banda Calypso com Joelma dando surto homofóbico, MC Guimê feliz da vida na capa da reacionaríssima revista Veja - que criminaliza tudo quanto é movimento social, mas é gentil com os funqueiros - , dando um banho de água quase congelada nos intelectuais que acreditavam na bregalização do país.
E, agora, vem o cantor Fábio Jr., o nosso Barry Manilow, que é mais talentoso como ator do que como cantor e compositor (lá fora, Fábio Jr. seria definido como entertainer, termo sem equivalente brasileiro mas que corresponde a um ídolo comercial que reduz a música a mero espetáculo de entretenimento consumista).
No Brazilian Day (evento patrocinado pela Rede Globo) recente, em Nova York, o cantor Fábio Jr., não bastasse aparecer com o rosto cheio de botox, se enrolou numa bandeira brasileira, e, à maneira da "urubologia" musical, como o roqueiro Lobão, fez um "protesto" contra a "desordem e roubalheira" no Brasil.
"O que está escrito na nossa bandeira? Ordem e progresso. E você sabem o que está acontecendo no Brasil? Desordem e roubalheira, uma quadrilha. Eu tenho o maior orgulho de vestir essa bandeira. Mas às vezes eu tenho vergonha alheia de ver os nossos governantes lá, todo mundo roubando, todo mundo metendo a mão. Dilma, Lula, José Dirceu, PMDB, vocês não têm mais o que fazer?", disse o cantor, sob aplausos do público.
O comentário soou patético, grosseiro e tendencioso. Como se observa em movimentos risíveis como Revoltados On Line, Acorda Brasil e outros, em que direitistas que, no fundo, são serviçais de Tio Sam, usam a bandeira brasleira e outros símbolos pátrios em benefício próprio.
Mas aí surge o "revoltado off-line" Pedro Alexandre Sanches, o "bacana dos bacanas", cria do Projeto Folha (o projeto neoliberal de Otávio Frias Filho, de quem Pedro foi aluno-modelo), mais uma vez na sua obsessão em ser esquerdista com o mesmo apetite que a carioca Rádio Cidade em sua obsessão com o rock.
Essa obsessão, aliás, se define quando alguém ou alguma instituição ou empresa ficam insatisfeitos em meter seus narizes onde nunca foram e nem serão chamados, não bastando para eles embarcar na causa alheia, fazendo tudo para ser seu "rei do pedaço".
Com o texto intitulado "Senta Aqui, Fábio", o jornalista que teima em ser o paradigma do "intelectual cultural de esquerda" na falta de alguém com tal vocação e boa visibilidade no Brasil, mas que guarda para seu íntimo sua devoção a São Francis Fukuyama, seu santo de cabeceira, escreveu um texto confuso e longo. Nele vários vídeos de Fábio Jr. extraídos do YouTube ilustram o pretensioso texto.
De repente Pedro Sanches virou um "Reinaldo Azevedo do B", fazendo de seus textos meros panfletos pós-modernos e pseudo-esquerdistas longos e confusos. Uma choradeira modernosa, de alguém que acreditava num Brasil mais brega e pensava que a revolução surgiria nesse caminho.
Parece que Pedro Alexandre Sanches desaprendeu a escrever, querendo ser pós-modernista a qualquer preço, usando a provocatividade que não provoca mais como um fim em si mesmo. Polemizar por polemizar é uma chatice de doer.
É curioso que ele fala mal do Bono Vox do U2, definido como "um chato de galocha supostamente esquerdista", quando sabemos que o esquerdismo de Sanches - que em termos ideológicos não parece saber para que lado está andando - é condicionado pelas conveniências e só é "convicto e sincero" enquanto George Soros financia as instituições nas quais o "filho da Folha" milita.
O texto confuso parece se perder na carona oportunista das críticas que se faz a Fábio Jr., que, no seu contexto, nunca seria mesmo progressista. Como não foi Roberto Carlos, nem Paulo Sérgio, nem José Augusto, nem Amado Batista e nem Odair José, o nosso Pat Boone. Todos tão conservadores quanto Lobão, mas alguns tendo pelo menos uma postura mais equilibrada de seu direitismo.
O que Sanches esperava? Que Fábio Jr. elogiasse a Venezuela e lembrasse de Hugo Chaves, exaltasse a figura de Ernesto Che Guevara, que celebrasse o aniversário de Fidel Castro e achasse que Dilma Rousseff deveria ler mais os livros de Karl Marx?
Não bastou o papelão que ele e seus coleguinhas jornalistas, antropólogos, cineastas, ativistas etc, aderindo a Zezé di Camargo & Luciano como se eles fossem símbolo do "sertanejo bolivariano (?!)" quando era lançado o filme Os Dois Filhos de Francisco (que a "bacanada" se esqueceu ser uma produção da Globo Filmes) e tomar um choque anafilático diante do surto tucano da dupla?
Sanches, que no seu observatório particular - leia-se visão fantasiosa que ele tem da realidade - , se acha acima das ideologias (às vezes ele "critica" esquerda, direita e centro), à maneira de seu não-assumido guru Fukuyama, apenas repete clichês do discurso esquerdista, mas amontoados numa gororoba discursiva cheia de trocadilhos e até baixarias, como a tal da "fixação anal".
É evidente que preocupa esse momento de tensão e crise que atinge nosso país. Mas não é o texto circense e prolixo de Pedro Alexandre Sanches que vai salvar a lavoura. Nos tempos em que ele era assumidamente tucano e trabalhava para Otávio Frias Filho, ele escrevia bem melhor.
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