Pular para o conteúdo principal

LOCUÇÃO E RADIALISMO ROCK: UM PROBLEMA


O mercado simplesmente não sabe o que é locução em rádio de rock. O preconceito que os empresários de rádio têm com o público jovem é que influencia nesse quadro de radialismo rock que temos, limitados à ação de rádios pop que não conseguiram manter a liderança no seu ramo e usam o rock como meio de se jogarem para a plateia.

É uma verdade que os internautas não querem saber. Nas mídias sociais, os defensores da Rádio Cidade, por exemplo, são as pessoas mais chatas do mundo. Sua compreensão sobre rock não vai além da ideia de que "rock" é "pedra" em inglês e, no entanto, se acham os donos da verdade da cultura rock, julgando o rock através de suas convicções (ou ignorância?) pessoais.

No cotidiano das rádios comerciais ditas "de rock", os locutores não têm a menor compreensão do que é rock, entram nas emissoras sem saber a diferença entre punk e metal, e vão para os microfones com a mesma animação de quem comanda ginásticas aeróbicas ou festas infantis. E chegam na rádio dez ou quinze minutos antes do horário e pegam os textos prontos.

Eles leem os textos e anunciam as músicas sem saber do que se trata. Se o nome da música é escrito errado, eles leem sem verificar. Eles são locutores pop, a fala quase efeminada dos locutores masculinos é a regra, assim como certos locutores destacados, mesmo gordinhos, chegam a passar a imagem de "gostosões", estão lá mais para atrair o público feminino do que se envolver com rock.

A importância do locutor é crucial para a identidade de uma rádio. O locutor é um porta-voz, um cartão de visitas, um apresentador da rádio. Se uma rádio que se diz de rock adota o mesmo tipo de locução e de linguagem, contratando locutores masculinos com voz quase efeminada, e ainda por cima tem um fundo musical de tecno, que perfil rock essa rádio quer ter?

Foi constrangedor eu passar por uma loja cujo aparelho de som estava ligado na Rádio Cidade. Um locutor animadinho havia anunciado um evento de tributo a Raul Seixas, com um fundo musical de tecno e o mesmo timbre efeminado que esses locutores pop têm. Com toda a sinceridade e sem a menor sombra de ironia, eu pensei que fosse a Mix FM.

Enquanto eu esperava vir a vinheta gritando "Mix!", veio outra vinheta eletrônica, pronunciando "Cidade", e aí veio "Number of The Beast", uma música do Iron Maiden que, nesse contexto, foi simplesmente desrespeitado pela rádio.

Isso é uma grande ofensa aos fãs do grupo britânico de metal, porque a banda de Bruce Dickinson não é igual o One Direction, não dá para usar linguagem de FM pop para anunciar a banda. Daí a bronca da inutilidade do lema "rock de verdade" para uma rádio de mentirinha.

Os locutores pop, pela formação que eles têm, possuem uma visão do rock vinda "de fora". Não são especializados em rock e não têm segurança de sugerir nem recomendar coisa alguma, nem de sentir um faro sobre o que vai ser bem-sucedido no futuro. Eles possuem preconceitos cruéis e tristes em relação ao público roqueiro e são obrigados a se segurar senão pega mal.

Pouco adianta a "correia" que os produtores de uma suposta "rádio rock" jogam nos locutores, obrigando-os a ficarem presos ao texto. Não é a mesma coisa do que uma rádio de rock autêntico, quando produtores e locutores entendem igualmente de rock, são do ramo e os locutores não possuem aquela fala efeminada cheia de gracinhas e gírias da moda.

Numa rádio autenticamente rock, o locutor também é entendido em rock e é capaz de sacar aquela música de rock pouco conhecida, mas com potencial de se tornar clássico. Ele pode até improvisar e falar para o produtor - isso quando o locutor não se envolve com a produção - que aquela música vale a pena ser tocada, por mais obscura que seja.

Mas na rádio comercial "de rock", não existe isso. Além da rádio ter uns dois ou três produtores ranzinzas - os produtores da Rádio Cidade parecem editores da revista Veja, com aquele mau humor ao mesmo tempo odioso e servil ao "sistema" - , eles parecem ter uma guerra fria com os locutores animadinhos que usam os microfones da rádio.

Para piorar, são os mesmos locutores que haviam trabalhado nos 102,9 mhz quando o prefixo correspondia à última encarnação da Jovem Pan FM no Rio de Janeiro. Como é que a "rádio do rock de verdade" quer se afirmar com locutores assim de estilo escancaradamente pop? Despedir Alexandre Hovoruski não resolve o problema.

O locutor Demmy é até remanescente daquele grupo de radialistas e DJs "demolidores de rádios" que vieram nos anos 90, divididos entre "roqueiros" como Rhoodes Dantas e Paulo Becker e "dançantes" como Victor Orelhinha, Marcelo Arar, Mário Bittencourt e DJ Saddam.

É a mesma turma, uma gangue só que achava o máximo derrubar FMs tradicionais como a Flu FM, a Rádio Cidade de 1977 e depois a Imprensa FM, e puxaram, para o mercado, uma série de derrubadas de FMs tradicionais em nome de marcas novas que só serviam para alimentar o mercado publicitário mediante uma programação radiofônica oca, superficial e maçante, embora mais "digestível".

Rhoodes Dantas "entregou" a Fluminense FM para Arar, Orelhinha e companhia trabalharem, depois, a Jovem Pan FM e a Jovem Rio. Tutinha, da JP, cedeu Alexandre Hovoruski para trabalhar os perfis da 89 FM e Rádio Cidade na dita "rede rock", em que a "bandeira do rock" mal era representada por um vitrolão de sucessos, muitas vezes de gosto duvidoso.

A 89 FM deu um tiro no pé quando lançou programas na Rede TV! para dar maior visibilidade aos seus locutores, como Zé Luís e Tatola. As comparações com o Pânico da Pan (que começou na Rede TV!) tornaram-se fortes e inevitáveis, "queimando" de vez as tentativas da 89 em parecer "rádio de rock séria".

Já a Rádio Cidade, que nunca teve tradição no rock - chamar teimosia de "tradição", como seus defensores fazem, é dose - e surgiu como emissora de pop convencional, a coisa fica ainda mais complicada. Afinal, que satisfação fará uma rádio dessas em 2017, quando completará 40 anos sem ter assumido originalmente o rock, só tardiamente pegando carona na cauda do cometa?

A rádio nem criou uma grade de programas realmente roqueiros. A grade que está aí se limita apenas a padrões de programação que toda rádio pop tem: programa de sucessos, de flash back e de novidades. Tudo numa perspectiva hit-parade, por mais que evoque o tal "rock de verdade".

É também constrangedor que os seguidores da Cidade falem mal do Restart, do "rock coloridinho e alegre" e tudo o mais. Deveriam prestar atenção na Hora dos Perdidos e no Rock Bola (perda de tempo tratar o futebol como "esporte rock'n'roll" quando a quase totalidade dos futebolistas torce o nariz para o rock), com a mesma mentalidade do Restart, da Jovem Pan etc.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...