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VEM AÍ O COXINGLÊS, POR ENQUANTO UM DIALETO COXINHA


No ano de 2019, uma "nova" linguagem, ou melhor, uma novilíngua se desenvolveu e deve ditar o tom neste ano.

Diante do sucesso da gíria "balada" (©Jovem Pan), a mídia venal criou um setor no qual despeja qualquer tipo de gíria que a juventude bem diagramada - que frequenta lugares como Trancoso e Jurerê Internacional - acolhe e transforma em "gíria universal".

As esquerdas ignoram esse problema, acham que o fenômeno do "vocabulário do poder" mencionado pelo jornalista britânico Robert Fisk se refere apenas a jargões governamentais e a assuntos como o Oriente Médio.

Errado. E Robert Fisk, que nada tem a ver com a marca de curso de inglês com este sobrenome, apenas falou o problema no seu contexto.

Aqui, o contexto é outro. E mais perverso, injetado na nossa cultura, terreno no qual até as esquerdas acham ser um paraíso de pureza e inocência, onde ninguém ainda comeu a maçã proibida, mas já consumiu muita cerveja, maconha e nicotina.

Errado. Desde 1985, quando a dupla "sertaneja" Antônio Carlos Magalhães e José Sarney fizeram a farra das concessões radiofônicas, a cultura está mais para um inferno onde oligarquias brincam com as fraquezas emocionais do grande público.

Foram essas concessões que desenharam a "admirável cultura popular" que a intelligentzia "mais legal do país" pede para aceitarmos em nome do tal "combate ao preconceito".

E aí as pessoas pensam que "cultura" é algo que vem como um vento, como um ar que respiramos.

Não é isso. Infelizmente muitos fenômenos, até pelo valor duvidoso que carregam, são na verdade mercadorias difundidas pela mídia venal, e atendem a interesses estratégicos dos "barões da mídia".

Mas se tem muita gente gargalhando com essa constatação, fazer o quê? O pessoal acha tudo espontâneo, mas foi isso que fez Jair Bolsonaro ser eleito presidente do Brasil.

Agora a onda é o "coxinglês", aquele misto de dialetos e gíria estranhas que a mídia dá de "presente" para o público falar.

Já temos o "parnasianismo" às avessas da gíria "galera", que faz com que, a-ham, a "galera" prefira complicar a linguagem do que simplificar.

Enquanto expressões como "família", "equipe", "turma" e "grupo" são condenadas ao desaparecimento por causa da gíria "galera".

E aí tudo se complica. As pessoas que simplificam demais no internetês e transformou o termo que já foi "vossa mercê" do período colonial nas vogais "vc" complicam quando falam "galera lá de casa", "galera lá da escola", "galera lá do trabalho".

Haja saliva para pronunciar o "l" de "galera"!

E ainda tem a gíria "balada" (©Jovem Pan), popularizada por Luciano Huck.

Mas há também uma invasão de barbarismos que transformam nosso idioma num amontoado de jargões em inglês.

Não temos mais maquiagem. Agora é make. Garoto virou boy. Maiô, que já era um galicismo (do francês maillot), virou body, sem chance para o aportuguesamento para "báre".

Boas energias viraram vibe. Animais domésticos, pet. Entrega a domicílio, delivery.

Jogos viraram games. Apartamento, flat. Bicicleta tornou-se bike. Sinopse virou spoiler. Forma física, shape. E por aí vai.

E aí vemos o quanto as pessoas absorvem isso como papagaios, o que mostra o quanto nossa sociedade anda muito hipermidiatizada.

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