Pular para o conteúdo principal

SECRETÁRIO ROBERTO ALVIM É DEMITIDO APÓS ANUNCIAR "NOVA CULTURA"


Roberto Alvim foi mais um membro da equipe de Jair Bolsonaro a cair. O hoje ex-secretário de Cultura foi exonerado por um motivo insólito.

Aparentemente, ele fez um pronunciamento num vídeo que, incluindo o anúncio do Prêmio Nacional das Artes, previsto para maio, narrado por uma locutora, durou seis minutos e meio.

Para quem é leigo, o discurso parece humanista. O fundo musical, com a sinfonia "Lohengrin", de Richard Wagner, compositor apreciado por Adolf Hitler, a princípio não causa estranheza para quem não tem ideia dessa obra.

As palavras de Alvim parecem "nobres", e ele ainda fala de uma "nova estética" e uma "nova cultura", de maneira imperativa e firme.

O problema é que ele havia feito uma citação inspirada no ministro da Propaganda de Hitler, Josef Goëbbels, cuja referida mensagem, publicada em 08 de maio de 1933, foi registrada na biografia do propagandista escrita por Peter Longerich.

Comparem as duas mensagens. Primeiro a de Alvim:

"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada".

Agora, a de Goëbbels:

"A arte alemã da próxima década será heroica, será ferramenta romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".

Roberto Alvim é o mesmo que esculhambou a renomada atriz Fernanda Montenegro, chamando-a de "sórdida" e "hipócrita".

Seu projeto de "cultura", claramente elitista, é compartilhado por aqueles que ele indicou para instituições ligadas à Secretaria Especial de Cultura, do qual era titular.

Vários deles são maestros eruditos e especialistas em cultura erudita mofada, anterior ao século XX.

A repercussão do discurso de Alvim foi extremamente negativa, e sofreu a pressão da Confederação Israelita do Brasil, do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pedindo a demissão do secretário.

Jair Bolsonaro teve que fazê-lo, a contragosto. Afinal, as ideias de Alvim são abertamente corroboradas e compartilhadas pelo presidente.

Alvim foi um diretor de teatro inexpressivo e ressentido, fracassado como foi Hitler. Como dramaturgo, ele não se destacou em obra alguma.

Quanto à perspectiva de cultura, devemos tomar cuidado.

O elitismo de Alvim e o populismo brega da intelectualidade "bacana" são dois lados da mesma moeda.

Não há diferença fundamental entre o intelectual que quer uma "cultura" subserviente que priorize valores elitistas como a música erudita, o teatro europeizado e a literatura rebuscada e o intelectual que quer a "esculhambação", a "cafonice" e a "libertinagem" cafona do "popular demais".

São duas perspectivas que se encaixam.

Uma zela pelo patrimônio das elites, que apreciam seus paradigmas culturais "ilustrados" em caráter privado e fora das comunidades populares.

Outra reserva para o povo o pior dos paradigmas culturais, como se o povo pobre fosse o depósito de lixo dos valores sociais, culturais e artísticos, mesmo com uma narrativa "positiva" e até mesmo "apologética".

Qual a diferença do intelectual que quer o melhor para as elites e o intelectual que quer o pior para o povo pobre?

Não adianta a intelectualidade "bacana" se esconder num discurso pretensamente científico, numa postura pretensamente ativista e com uma posição pretensamente esquerdista.

A intelectualidade que exalta o "funk", o Waldick Soriano, o É O Tchan etc não difere muito de Roberto Alvim querendo uma "cultura heroica e imperativa".

A diferença está no ponto de vista, mas eles não se divergem, eles se complementam.

Não dá para usar, mesmo com um discurso pseudo-científico e uma abordagem falsamente positiva, alegações que façam apologia à degradação cultural do povo pobre.

É fácil ficar ironizando as críticas contra a alienação e a decadência que a bregalização trazem para o povo pobre.

É fácil, também, atribuir nomes musicais impostos por gravadoras e pela mídia oligárquica como "símbolos representativos do cotidiano social das comunidades pobres".

Foi justamente a defesa da bregalização, trazida por antropólogos, jornalistas culturais, documentaristas, acadêmicos etc, sob a desculpa do "combate ao preconceito", que abriu passagem para figuras como Roberto Alvim e o próprio Jair Bolsonaro.

Quem acha que a bregalização é "bandeira das esquerdas", precisa ver as redes sociais. Os bolsomínions mais histéricos, descontando uma parcela de ortodoxos, era o que mais defendia a bregalização que poluiu as páginas de Caros Amigos, Revista Fórum e Carta Capital.

O que a "santíssima trindade" da intelligentzia - Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna - defendeu como "cultura popular", na verdade, foi o que enfraqueceu culturalmente o povo pobre.

Enfraquecendo culturalmente, tirou do povo pobre a iniciativa de mobilização social.

E isso se agravou quando o discurso intelectual pró-brega contribuiu para manter o povo pobre brincando de "ativismo provocativo" através do entretenimento popularesco.

Isso eliminou, justamente nas bases, o apoio necessário aos governos progressistas nos momentos de crise.

Cadê o pessoal para defender Dilma Rousseff? Estava brincando o "funk", o tecnobrega, a axé-music.

Para complicar ainda mais, o amigo de Luciano Huck, de jornalistas "globais" e políticos golpistas, o empresário-DJ da Furacão 2000, Rômulo Costa, enganou as esquerdas com aquele "baile funk" de Copacabana, de 17 de abril de 2016.

Aquilo foi, para o governo Dilma, o que a Revolta dos Marinheiros foi para o governo João Goulart. Factoides "identitários" que iludiram as esquerdas e permitiram o golpe, com Cabo Anselmo irritando os generais e Rômulo Costa tranquilizando os deputados federais golpistas.

Enfurecendo ou tranquilizando, houve o mesmo favorecimento ao golpe.

E também não adianta a intelectualidade "bacana", sobretudo aquela ligada ao "funk", falar mal da política entreguista de Paulo Guedes. O próprio "funk", originário da Flórida anti-castrista, nos EUA, é entreguista até a medula.

O Rio Parada Funk, por exemplo, tem patrocínio privado, oculto por seus organizadores. Ou será que até a cerveja fornecida pelo evento é estatal? Não tenho conhecimento de uma marca estatal de indústria de bebidas.

A raiz do golpe de 2016 está, em muitos aspectos, na bregalização pregada por uma elite de intelectuais burgueses e do fato das esquerdas terem passado o pano nessa discurseira toda.

E aí abriu-se caminho para o bolsonarismo obter protagonismo. E será inútil sair Roberto Alvim, se não há um empenho para tirar o próprio Bolsonaro do poder. No lugar de Alvim, entrará alguém igual ou pior na secretaria de Cultura.

Aos pragmáticos, aguentem a dor que sentem mas se recusam a admitir isso. Paguem a conta pelas baixas exigências e pela aceitação de tudo que é pior.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

BRASIL PASSOU POR SEIS DÉCADAS DE RETROCESSOS SOCIOCULTURAIS

ANTES RECONHECIDA COMO SÉRIO PROBLEMA HABITACIONAL, A FAVELA (NA FOTO, A ROCINHA NO RIO DE JANEIRO) TORNOU-SE OBJETO DA GLAMOURIZAÇÃO DA POBREZA FEITA PELAS ELITES INTELECTUAIS BRASILEIRAS. A ideia, desagradável para muitos, de que o Brasil não tem condições para se tornar um país desenvolvido está na deterioração sociocultural que atingiu o Brasil a partir de 1964. O próprio fato de muitos brasileiros se sentirem mal acostumados com essa deterioração de valores não significa que possamos entrar no clube de países prósperos diante dessa resignação compartilhada por milhares de pessoas. Não existe essa tese de o Brasil primeiro chegar ao Primeiro Mundo e depois “arrumar a casa”, como também se tornou inútil gourmetizar a decadência cultural sob a desculpa de “combater o preconceito”. Botar a sujeira debaixo do tapete não limpa o ambiente. Nosso país discrimina o senso crítico, abrindo caminho para os “novos normais” que acumulamos, precarizando nosso cotidiano na medida em que nos resig...

“ROCK PADRÃO 89 FM” PERMITE CULTUAR BANDAS FICTÍCIAS COMO O VELVET SUNDOWN

Antes de irmos a este texto, um aviso. Esqueçamos os Archies e os Monkees, bandas de proveta que, no fundo, eram muito boas. Principalmente os Monkees, dos quais resta vivo o baterista e cantor Micky Dolenz, também dublador de desenhos animados da Hanna-Barbera (também função original de Mark Hamill, antes da saga Guerra nas Estrelas).  Essa parcela do suposto “rock de mentira” até que é admirável, despretensiosa e suas músicas são muito legais e bem feitas. E esqueçamos também o eclético grupo Gorillaz, influenciado por hip hop, dub e funk autêntico, porque na prática é um projeto solo de Damon Albarn, do Blur, com vários convidados. Aqui falaremos de bandas farsantes mesmo, sejam bandas de empresários da Faria Lima, como havíamos descrito antes, seja o recente fenômeno do Velvet Sundown, grupo de hard rock gerado totalmente pela Inteligência Artificial.  O Velvet Sundown é um quarteto imaginário que foi gerado pela combinação de algoritmos que produziram todos os elementos d...

“GALERA”: OUTRA GÍRIA BEM AO GOSTO DA FARIA LIMA

Além da gíria “balada” - uma gíria que é uma droga, tanto no sentido literal como no sentido figurado - , outra gíria estúpida com pretensões de ser “acima dos tempos e das tribos” é “galera”, uma expressão que chega a complicar até a nossa língua coloquial. A origem da palavra “galera” está no pavimento principal de um navio. Em seguida, tornou-se um termo ligado à tripulação de um navio, geralmente gente que, entre outras atividades, faz a faxina no convés. Em seguida, o termo passou a ser adotado pelo jornalismo esportivo porque o formato dos estádios se assemelhava ao de navios. A expressão passou a ser usada, também no jornalismo esportivo, para definir o conjunto de torcedores de futebol, sendo praticamente sinônimo de “torcida”. Depois o termo passou a ser usado pelo vocabulário bicho-grilo brasileiro, numa época em que havia, também, as sessões de cinema mostrando notícias do futebol pelo Canal 100 e também a espetacularização dos campeonatos regionais de futebol que preparavam...

LULA DEVERIA SE APOSENTAR E DESISTIR DA REELEIÇÃO

Com o anúncio recente do ator estadunidense Michael Douglas de que iria se aposentar, com quase 81 anos de idade, eu fico imaginando se não seria a hora do presidente Lula também parar. O marido de Catherine Zeta-Jones ainda está na sua boa saúde física e mental, melhor do que Lula, mas o astro do filme Dia de Fúria (Falling Down) , de 1993, decidiu que só vai voltar a atuar se o roteiro do filme valer realmente a pena  Lula, que apresenta sérios problemas de saúde, com suspeitas de estar enfrentando um câncer, enlouqueceu de vez. Sério. Persegue a consagração pessoal e pensa que o mundo é uma pequena esfera a seus pés. Seu governo parece brincadeira de criança e Lula dá sinais de senilidade quando, ao opinar, comete gafes grotescas. No fim da vida, o empresário e animador Sílvio Santos também cometeu gafes similares. Lula ao menos deveria saber a hora de parar. O atual mandato de Lula foi uma decepção sem fim. Lula apenas vive à sombra dos mandatos anteriores e transforma o seu at...

A FALSA RECUPERAÇÃO DA POPULARIDADE DE LULA

LULA EMPOLGA A BURGUESIA FANTASIADA DE POVO QUE DITA AS NARRATIVAS NAS REDES SOCIAIS. O título faz ficar revoltado o negacionista factual, voando em nuvens de sonhos do lulismo nas redes sociais. Mas a verdade é que a aparente recuperação da popularidade de Lula foi somente uma jogada de marketing , sem reflexão na realidade concreta do povo brasileiro. A suposta pesquisa Atlas-Bloomberg apontou um crescimento para 49,7%, considerado a "melhor" aprovação do presidente desde outubro de 2024. Vamos questionar as coisas, saindo da euforia do pesquisismo. Em primeiro lugar, devemos pensar nas supostas pesquisas de opinião, levantamentos que parecem objetivos e técnicos e que juram trazer um recorte preciso da sociedade, com pequenas margens de erros. Alguém de fato foi entrevistado por alguma dessas pesquisas? Em segundo lugar, a motivação soa superficial, mais voltada ao espetáculo do que ao realismo. A recuperação da popularidade soa uma farsa por apenas envolver a bolha lulist...

ATÉ PARECE BRIGUINHA DE ESCOLA

A guerra do tarifaço, o conflito fiscal movido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, leva ao paroxismo a polarização política que aflige principalmente o Brasil e que acaba envolvendo algumas autoridades estrangeiras, diante desse cenário marcado por profundo sensacionalismo ideológico. Com o "ativismo de resultados" pop das esquerdas woke  sequestrando a agenda esquerdista, refém do vício procrastinador das esquerdas médias, que deixam as verdadeiras rupturas para depois - vide a má vontade em protestar contra Michel Temer e Jair Bolsonaro, acreditando que as instituições, em si, iriam tirá-los de cena - , e agora esperam a escala 6x1 desgastar as mentes e os corpos das classes trabalhadoras para depois encerrar com essa triste rotina de trabalho. A procrastinação atinge tanto as esquerdas médias que contagiaram o Lula, ele mesmo pouco agindo no terceiro mandato, a não ser na produção de meros fatos políticos, tão tendenciosos que parecem mais factoides. Lula transforma seu...

NEM SEMPRE OS BACANINHAS TÊM RAZÃO

Nesta suposta recuperação da popularidade de Lula, alimentada pelo pesquisismo e sustentada pelos “pobres de novela” - a parcela “limpinha” de pessoas oriundas de subúrbios, roças e sertões - , o faz-de-conta é o que impera, com o lulismo se demonstrando um absolutismo marcado pela “democracia de um homem só”. Se impondo como candidato único, Lula quer exercer monopólio no jogo político, se recusando a aceitar que a democracia não está dentro dele, mas acima dele. Em um discurso recente, Lula demoniza os concorrentes, dizendo para a população “se preparar” porque “tem um monte de candidato na praça”. Tão “democrático”, o presidente Lula demoniza a concorrência, humilhando e depreciando os rivais. Os lulistas fazem o jogo sujo do valentonismo ( bullying ), agredindo e esnobando os outros, sem respeitar a diversidade democrática. Lula e seus seguidores deixam bem claro que o petista se acha dono da democracia. Não podemos ser reféns do lulismo. Lula decepcionou muito, mas não podemos ape...

RADIALISMO ROCK: FOMOS ENGANADOS DURANTE 35 ANOS!!

LOCUTORES MAURICINHOS, SEM VIVÊNCIA COM ROCK, DOMINAVAM A PROGRAMAÇÃO DAS DITAS "RÁDIOS ROCK" A PARTIR DOS ANOS 1990. Como o público jovem foi enganado durante três décadas e meia. A onda das “rádios rock” lançada no fim dos anos 1980 e fortalecida nos anos 1990 e 2000, não passou de um grande blefe, de uma grande conversa para búfalos e cavalos doidos dormirem. O que se vendeu durante muito tempo como “rádios rock” não passavam de rádios pop comuns e convencionais, que apenas selecionavam o que havia de rock nas paradas de sucesso e jogavam na programação diária. O estilo de locução, a linguagem e a mentalidade eram iguaizinhos a qualquer rádio que tocasse o mais tolo pop adolescente e o mais gosmento pop dançante. Só mudava o som que era tocado. Não adiantava boa parte dos locutores pop que atuavam nas “rádios rock” ficarem presos aos textos, como era inútil eles terem uma boa pronúncia de inglês. O ranço pop era notório e eles continuavam anunciando bandas como Pearl Jam e...

A CORTINA DE FUMAÇA DA "SOBERANIA" DO GOVERNO LULA

LULISTAS ALEGAM QUE O PRESIDENTE LULA "RECUPEROU" A POPULARIDADE, MAS OS FATOS DIZEM QUE NÃO. O triunfalismo cego dos lulistas teve mais um impulso diante dos tarifaços do presidente dos EUA, Donald Trump, que pelo jeito transferiu a sua esfera de reality show  para a polarização política. Lula, supostamente vitorioso no episódio, havia se reunido ontem com o empresariado para responder à medida lançada pelo empresário-presidente na pátria de Titio Samuca. Essa suposta vitória se deu pela campanha que os lulistas - que, na prática, são a maior e principal corrente dos movimentos identitários brasileiros - estão lançando, a partir do próprio Governo Federal, defendendo a "soberania" brasileira, em tese insubmissa aos EUA. Lula também anunciou a criação de dois comitês para reagir ao tarifaço do presidente estadunidense. Dizemos em tese, porque nosso culturalismo brasileiro - que vai além das pautas politicistas do "jornalismo da OTAN" - se vale por uma músi...