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ALIANÇA LULA-ALCKMIN: CADÊ A PALAVRA DO GERALDO?


A aliança entre Lula e Geraldo Alckmin é um dos fenômenos mais estranhos e bizarros da política brasileira, e tornam o petista a figura mais decepcionante da história recente do Brasil.

Diante de tantos aspectos aberrantes - sobretudo a crença ingênua das esquerdas médias de que Lula fará um governo "mais esquerdista que os anteriores" mesmo tendo a direita neoliberal a tiracolo - , um outro aspecto chama a atenção.

Geraldo Alckmin, um dos mais interessados no processo e o principal envolvido nos acordos, não dá uma palavra consistente, uma longa entrevista a respeito.

Quando entrevistado, ele se limita a dizer que "a aliança está dando bom resultado", "está feliz em ser vice de Lula" e "quer participar da chapa de Lula de qualquer maneira".

No entanto, não se vê Geraldo Alckmin dando seus posicionamentos, sobretudo quando se exige dele, pelo menos, uma autocrítica a respeito de sua recente performance como governador de São Paulo.

Ele até tem o direito de mudar. Mas para mudar não basta deslocar de um lado para outro no plano ideológico.

Durante os governos de Lula, já vimos o deslocamento ideológico de nomes como Mário Kertèsz (o filhote da ditadura que hoje é "astro-rei" da Rádio Metrópole, em Salvador) e Pedro Alexandre Sanches, cria do anti-esquerdista Projeto Folha, da Folha de São Paulo.

Não basta fazer um deslocamento "caprichado", bancar o "bom esquerdista", seguir o figurino de um "marxismo pop", cumprir os clichês de um protocolo mínimo de um "esquerdismo exemplar".

É necessário haver um posicionamento real, que envolve autocrítica, arrependimento sincero, e mudança de procedimentos, ideias e concepções.

Não dá, por exemplo, para defender os movimentos sociais e, ao mesmo tempo, pregar a bregalização cultural, que trata o povo pobre de maneira caricatural (sim, falamos do tal "popular demais", o brega-popularesco).

Assim como não dá para se solidarizar com a luta das classes trabalhadoras e, ao mesmo tempo, atender aos interesses das elites do poder financeiro.

UMA DAS MANCHAS FORTES DA TRAJETÓRIA DE GERALDO ALCKMIN, COMO GOVERNADOR PAULISTA: SER O MANDANTE DA TRAUMÁTICA DESTRUIÇÃO DE PINHEIRINHO, BAIRRO POPULAR DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS.

Não se ouve nem se lê, de Geraldo Alckmin, qualquer mudança de posição, não se sabe de uma autocrítica sequer.

Sobre ele pesam episódios terríveis como ordenar a repressão violenta a estudantes, professores, proletários mais pobres, metroviários etc. Chegava mesmo a ridicularizar as greves e os protestos.

Alckmin também está associado ao acolhimento do pedido do nada admirável magnata Naji Nahas - que, apesar da corrupção, é queridinho das colunas sociais - para uma reintegração de posse de um terreno abandonado de uma fábrica, em São José dos Campos.

Pois esse terreno foi inicialmente invadido por pessoas carentes e se transformou no bairro popular de Pinheirinho, que foi destruído de maneira violenta e traumática em 2012, sob ordens do hoje "generoso" Geraldo Alckmin. O episódio foi denunciado para a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Ele apenas está para ir para o PSB - partido "socialista" nascido de um "racha" da antiga UDN e que, nos últimos anos, havia abrigado direitistas como Jaime Lerner e Gabriel Chalita, católico "guru" do próprio Alckmin.

Lembremos que não dá para levar a sério pessoas que viram "esquerdistas" porque "é legal" e "faz a pessoa ficar bem na fita".

Tem muita gente que nunca leu Karl Marx, Antonio Gramsci ou muito menos José Ramos Tinhorão e se acha "marxista de carteirinha".

Como isso soma, em quantidade, embora caindo em qualidade, na multidão de "esquerdistas", muita gente boa de esquerda aceita e apoia. É mais gente no lado das esquerdas mainstream, não é mesmo?

Isso junta mais gente para o eleitorado, para a base de apoio, para a tal "governabilidade" ou para qualquer vantagem para as esquerdas dominantes.

E é esse o caso da aliança entre Lula e Geraldo Alckmin, além da sede do petista em querer fazer alianças com a centro-direita e até com conservadores, visando não só facilitar a vitória eleitoral como também garantir a tal "governabilidade", que ninguém consegue explicar o que realmente é.

Tudo isso é apenas para "encher o balaio" do esquerdismo, ainda que sob o preço de sua agenda temática ser seriamente comprometida e até prejudicada com o fenômeno da "esquerda à moda da casa".

Ver que nomes como Pabblo Vittar e Valesca Popozuda viram "esquerdistas" assim do nada é extremamente constrangedor. 

Vergonha ver as esquerdas cultuarem, sob o pretexto da "caridade", figuras religiosas tão reacionárias quanto Jair Bolsonaro, como Madre Teresa de Calcutá e um "médium espírita" de Minas Gerais que, de forma radical e explícita, foi para um programa de TV apoiar convictamente a ditadura militar.

E lembremos que o tal "médium" nunca se arrependeu dessa posição, foi condecorado pela Escola Superior de Guerra e nunca defendeu a redemocratização do país. 

E seus 400 e tantos livros "mediúnicos" são um receituário do que há de pior no ultraconservadorismo brasileiro, com defesas explícitas à precarização do trabalho e à submissão humana mais servil, além da demonização do senso crítico e da liberdade do pensamento intelectual.

Como é que pessoas assim ainda podem estar em boa conta com as esquerdas brasileiras?

São os "brinquedos culturais" da direita, que as esquerdas acolhem por verem o Brasil como um "novelão das nove", essas esquerdas de classe média da Faria Lima, do Baixo Gávea e Recreio dos Bandeirantes, do Corredor da Vitória, de Savassi, da Praia de Icaraí, de Jurerê Internacional etc.

São pessoas que não sabem o que é a realidade de quem trabalha no chão de fábrica, pega na enxada para capinar e plantar sob um sol escaldante, que costura em ritmo frenético para produzir roupas em pouco tempo sob o risco de ferir até sangrar.

Quer dizer, essa classe média "sabe" dessa realidade, mas sua solidariedade mais parece letra morta diante da falta de percepção mais visceral dos dramas desses trabalhadores.

E aí vemos as pessoas aceitando como "novo aliado" um Geraldo Alckmin que nunca abriu o jogo sobre o que realmente quer agora na política.

Ele nunca disse se apoia a revogação da reforma trabalhista, do teto de gastos etc. E nunca deu um pingo de declaração de algum arrependimento de episódios abomináveis como o caso Pinheirinho.

Espera-se que Alckmin dê alguma longa e sincera declaração sobre se ele realmente quer mudar ou não.

Caso contrário, a farsa do lulo-alckminismo se revelará e prejudicará até mesmo a imagem de Lula, já arranhada pelos seus erros recentes.

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