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ELZA SOARES SE DESPEDE DE NÓS DIANTE DE UM CENÁRIO CULTURAL FRAGILIZADO

ELZA SOARES EM 1960 E EM 2021.

Elza Soares nos deixou, depois de dar tudo de si para deixar um legado contemporâneo, mostrando sua lucidez até quando suas energias físicas e mentais lhe permitiam.

Uma das cantoras mais talentosas do Brasil, além de eventual compositora, Elza, um dos personagens do meu livro 1961 - O ANO QUE HAVÍAMOS ESQUECIDO era também um exemplo de antropofagia cultural.

Sem qualquer medo, Elza começou a carreira assimilando o jazz e a soul music no seu cardápio musical, que incluiu samba e os derivados híbridos da Bossa Nova e do sambalanço. Assimilava o som negro dos EUA sem deixar de ser brasileira e até reforçando e enriquecendo sua brasilidade.

Elza teve uma vida sofrida. Para ela, favela não era coisa linda, e ela penou muito, com casamento precoce que depois deu em viuvez, e começando sua carreira com sete filhos para sustentar.

Ela veio do "planeta fome", num tempo em que favela era considerado, pelos mais renomados intelectuais e jornalistas do Brasil, um sério problema habitacional. Nada do "paraíso suburbano" que as narrativas dos últimos 20 anos tentam fazer prevalecer.

Mesmo assim, Elza era de um tempo em que as classes populares produziam cultura de qualidade, inclusive musical.

Quem ouvir os dois primeiros discos da cantora, Se Acaso Você Chegasse, de 1960, e A Bossa Negra, de 1961, se surpreenderia pela farta informação musical oferecida pela cantora em dois álbuns vibrantes.

Ela veio num contexto em que a negritude se manifestava de certas formas, na conquista de seus espaços e reconhecimento social.

Eram os sit-ins dos estudantes negros nos EUA (sim, a Contracultura mostrava vestígios em 1960), as independências dos países da África, a ascensão da soul music e a ascensão de atores como Sidney Poitier.

No Brasil de 1960, Elza Soares chegou junto a Carolina Maria de Jesus, outra negra pobre que chamou a atenção do Brasil com Quarto de Despejo.

E como a história se repete como uma farsa, se antes tínhamos Jânio Quadros renunciando de repente em 1961 e uma crise política foi resolvida com João Goulart politicamente castrado por Tancredo Neves, hoje temos algo parecido na época do começo e fim de carreira de Elza Soares.

Hoje temos a crise de Jair Bolsonaro, enquanto a solução política oferecida é de um Lula politicamente castrado por Geraldo Alckmin, afilhado político de Mário Covas que era afilhado político do mesmo Tancredo Neves que governou na fase parlamentarista de Jango.

A diferença é que Elza Soares surgiu num tempo em que se discutia e revalorizava a cultura musical de raiz, principalmente pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional de Estudantes (CPC-UNE).

Era uma forma de lembrar que a cultura musical dos pobres era de qualidade, diferente da visão de hoje em que se atribui ao povo pobre a mediocridade musical e apenas se passa pano em cima de tudo isso.

Elza deu tudo de si, teve uma vida de infortúnios mas deu a volta por cima por conta de uma personalidade forte, que foi a marca dela, feminista, empoderada e ativista negra de maneira espontânea, pois seu ativismo fluía naturalmente.

Ela foi um grande nome da MPB moderna, e faleceu com 92 anos incompletos no mesmo dia 20 de janeiro que seu marido, o craque de futebol Mané Garrincha, faleceu em 1983, com 50 anos incompletos. Portanto, ela faleceu numa diferença de 39 anos após o jogador.

Infelizmente, Elza quase nunca teve espaço no rádio - descontado o começo de carreira, no programa de auditório de Ary Barroso, onde ela, caloura, falou que vinha "do mesmo planeta" que o autor de "Aquarela do Brasil", o "Planeta Fome".

Lamentavelmente, só se tem uma rádio de MPB em cada dial regional não de toda parte do país, mas apenas de algumas capitais e regiões metropolitanas. 

E, mesmo assim, elas só tocam o que de MPB passa nas trilhas sonoras de novela da Rede Globo, ou então a geração recente de "carneirinhos" tipo Anavitória, Melim, Letrux, Tiago Iorc, Vítor Kley e outros.

E isso é vergonhoso. Num dial FM que chega a ter, em média, três FMs noticiosas, cinco rádios transmitindo futebol e mesas redondas (várias delas com um índice de audiência terrivelmente raquítico, apesar da persistência em permanecer no ar), não temos rádios de MPB mais abrangente.

Se tivéssemos, muita coisa boa do passado ou mesmo do presente estaria sendo apreciada pelo público mais jovem, como contraponto a essa imbecilização de "sofrência", "funk", pisadinhas, arrochas e outras aberrações musicais brega-popularescas.

O pessoal poderia conhecer Elza Soares não só pelas notícias, mas pela música, que nos últimos anos acolhia o hip hop e o Tropicalismo. 

Elza também foi a primeira a furar o cerco dos cantores de escolas de samba no Carnaval do Rio de Janeiro, cantando para a Acadêmicos do Salgueiro no desfile de 1969. E isso quando, lembra bem José Ramos Tinhorão, quatro anos depois do Carnaval carioca sucumbir ao comercialismo elitista.

O que significa que Elza Soares buscava manter algum vínculo com as raízes populares que se perderam depois do Carnaval que celebrou os 400 anos de fundação da cidade do Rio de Janeiro, cujo padroeiro, São Sebastião, é celebrado no dia em que Elza faleceu.

Ela estava muito doente e não conseguia mais andar. Mas tinha lucidez e, quando pôde, lançou álbuns recentes de inéditas. Realista, ela não se iludia com a onda das causas identitárias, porque ela sabia que essas causas eram apenas parte de um grande humanismo que deveria ser levado em conta.

Isolado de outros contextos como o trabalhista e as desigualdades sociais, o identitarismo se esvazia, sucumbindo a ser uma mera mercadoria simbólica de acordo com os interesses das elites econômicas.

Elza tem conhecimento de causa: ela atravessou os períodos de intenso ativismo sociocultural, absorvendo os ventos da Contracultura à sua maneira, aproveitando a influência da cultura negra estaduindense para dialogar e fortalecer a cultura negra brasileira.

Elza Soares não é a "titia da feijoada" dos identitaristas vazios (os mesmos que acham que o "funk" é a "salvação da humanidade" e hoje estão excitados em ver Geraldo Alckmin ser anunciado vice de Lula), porque sua figura humana é imponente, respeitável e de altíssimo conceito.

Ela fez o possível para viver os tempos atuais, ser uma das poucas vozes consistentes nesse Brasil culturalmente fragilizado no qual o chamado "senso comum" apenas finge ser um cenário cultural próspero e brilhante.

Não, não é. O cenário consistente e vibrante era o dos anos 1960 que Elza Soares testemunhou e foi personagem bastante ativa e marcante.

Remanescente daqueles tempos, Elza Soares mostrava uma força de talento que resistiu mesmo com sua fragilidade física.

Agora Elza se junta a outros representantes de um tempo em que o músico pobre não era o estereótipo do medíocre coitadista do "popular demais" dos últimos tempos. 

Ela agora está ao lado de Jackson do Pandeiro, Cartola, Marinês, Luís Gonzaga, Nelson Cavaquinho e tantos outros mestres de origem humilde.

Agora precisamos repensar nossa cultura, já que nossa MPB está idosa e seus integrantes morrendo um a um.

Precisamos parar de fingir que a bregalização é "uma maravilha", porque ela explora o povo pobre de maneira idiota, e, portanto, devemos investir em combater a supremacia, a níveis quase totalitários, da música brega-popularesca no gosto dos jovens.

Devemos também fazer a MPB ir além dos luaus fonográficos dos ídolos "carneirinhos" e suas letrinhas de amor açucarado. Temos um grande patrimônio musical a zelar e ele mereceria ser resgatado, como foi no 1960 que lançou a hoje saudosa Elza Soares.

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