Pular para o conteúdo principal

RÉGIS TADEU PASSOU A PASSAR PANO?


Admiro muito o Régis Tadeu, vejo muito seus vídeos, sempre quando tenho tempo.

Eu mandei quatro livros meus para o programa dele na USP, Rock Brazuca, para ver se ele divulga. Até agora, creio eu, não recebi alguma resposta.

É ótimo ver ele criticando os ritmos popularescos e a arrogância dos fãs de música comercial em geral, aos quais Régis define como "retardados".

Mas até que ponto Régis Tadeu consegue expressar seu senso crítico?

Até certos pontos em que o mainstream mostra suas "vacas sagradas" musicais, sejam elas Benito di Paula ou Marilyn Manson (em que pese a má reputação obtida por este devido aos escândalos sexuais).

Difícil navegar contra a corrente. Fácil é embarcar no Titanic do momento e festejar até que o aicebergue à frente possa destruir o navio com todas as pessoas dentro.

Régis não chega a embarcar nisso, mas vamos combinar que ele sofre as pressões do meio social em que vive.

Ele é jurado de Raul Gil, ao mesmo tempo que também faz parte do círculo social do establishment da crítica musical e do meio roqueiro mais convencional.

Daí as dificuldades em avançar no senso crítico. Em dado momento Régis Tadeu minimiza as críticas a um Chitãozinho & Xororó e ao poser metal. Em outro, ele precisa reconhecer a pretensa unanimidade dos "deuses" Paulo César de Araújo e Emicida.

Além do Rock Brazuca, Régis tem um programa que, em tese, é dedicado a expressões obscuras da música brasileira, o Lado Z.

O programa acaba sendo uma mistura de joio e trigo, incluindo coisas popularescas que quase todo mundo no Brasil finge que nunca fez sucesso, como Odair José, Amado Batista e Luiz Ayrão.

Mas certa vez o programa veio com essa... "Médium de peruca" recitando o poema "Pão", sob um fundo musical.

Nada mais asqueroso do que se lembrar desse religioso que mais defendeu a ditadura militar, à qual colaborou tanto quanto Cabo Anselmo. Se não tivesse colaborado, não teria recebido homenagens pomposas nem espaço para palestras na Escola Superior de Guerra.

Aí chega-se ao fundo do poço, num contexto em que se passa pano demais em medíocres, calhordas, canastrões, charlatões.

E o pior é que o tal "médium" é um dos maiores pés frios do Brasil. Existe até uma maldição associada a ele, pela qual muitos famosos que lhe prestaram adoração depois perderam seus filhos em tragédias surgidas do nada.

O "médium" é o mesmo que foi alvo de tantas gafes. Leonardo Stoppa, um dos comentaristas da mídia progressista, chamou o "médium" de "comunista", em gravíssimo equívoco (eu já mandei mensagem para ele no Facebook avisando, mas também não recebi resposta).

Afinal, não dá para chamar de "comunista" um religioso que, num programa de TV diante de audiência gigantesca, há mais de 50 anos, despejou comentários hidrófobos (sim, é isso mesmo) contra o comunismo.

Sei que Stoppa tem raiva do Silas Malafaia, mas não é qualquer contraponto a este pregador reaça da Assembleia de Deus que seja necessariamente um progressista.

Voltando ao Régis Tadeu, foi infeliz a inclusão do "médium" em um programa teoricamente voltado ao lado obscuro da música brasileira.

O mais grave é que, no momento de flanelização cultural em que vivemos, temos que engolir sapos e qualquer porcaria, porque ter senso crítico hoje é considerado antissocial, uma aberração se vermos que, mesmo nos primeiros anos da ditadura (1964-1968), podia-se expressar opiniões críticas.

Será que não podemos sequer criticar a inclusão de mensagem piegas de religioso retrógrado, com fundo musical cafona, num programa tido como "vanguardista"?

Não podemos mais criticar Emicida, Ivete Sangalo e nem Michael Sullivan? Temos que medir palavras, ficar cheios de dedos, ao relatar algum problema na nossa cultura?

Por sorte, Régis Tadeu, quando expressa seu senso crítico, o faz quase sempre de maneira corajosa e inteligente, o que o faz desagradável para muita gente que esperaria flanelas deslizando por aí.

Régis não chega a ser um passador de pano (Mauro Ferreira, com todo seu talento de jornalista, cumpre mais essa função flaneleira), mas vejo o quanto ele sofre pressões no seu meio.

Imagine ele criticar um ídolo popularesco que tem um empresário influente. Esse empresário indica um produtor que vai falar secretamente com pessoas como o Régis e dizer "vamos maneirar nas críticas, meu cliente precisa fazer sucesso".

Infelizmente estamos vivendo o crescimento do show business no Brasil e sua máquina voraz de fazer sucessos.

O que tem de estabelecimento comercial tocando música popularesca não está no blogue nem no Instagram, ou melhor, está, sim, porque eles também tocam música popularesca adoidado.

E aí vemos o quanto é esse negócio, que nada tem a ver com liberdade. É tudo comércio, mesmo. Até o "médium de peruca" está (postumamente desde 2002) envolvido por interesses comerciais de venda de livros, mercado midiático e marketing assistencialista (tipo Luciano Huck).

São as almas do negócio. Nada a ver com supostos excluídos ou injustiçados. É tudo mainstream metido a besta, mesmo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ESQUERDAS CORTEJANDO UMA CANTORA IDENTITARISTA... MAS CAPITALISTA

CARTAZ DA BOITEMPO JUNTANDO KARL MARX E MADONNA NO MESMO BALAIO. O Brasil está tendo uma aula gratuita do que é peleguismo, com Lula fazendo duplo jogo político enganando o povo pobre e se aliando com os ricos, e do que é pequena burguesia, com uma elite de classe média abastada que aoosta num esquerdismo infantilizado, identitarista e indiferente aos verdadeiros problemas das classes trabalhadoras. As esquerdas mainstream do Brasil, as esquerdas médias, são a tradução local da pequena burguesia falada pela teoria marxista. Uma esquerda que quer soar pop e que, através dos “brinquedos culturais” que fazem do Brasil a versão vida real da novela das 21 horas da Rede Globo, quer o mundo da direita moderada convertido num pretenso patrimônio esquerdista. Isso faz as esquerdas soarem patéticas em muitos momentos. Como se observa tanto na complacência do jornalista Julinho Bittencourt, da Revista Fórum, com o fato da apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, não ter músicos e

O PESADELO GAÚCHO QUE DESAFIA O "SONHO BRASILEIRO"

O CENTRO DE PORTO ALEGRE COM ÁGUA QUE ATINGIU CINCO METROS DE ALAGAMENTO. Não há como sonhar grande. O risco de cair da cama é total. A terrível tragédia do temporal no Rio Grande do Sul é algo que nos faz parar para pensar. Isso é normal para um país próspero? Falta alguma consciência ambiental no nosso país? Até o fechamento deste texto, 56 pessoas morreram e vários estão entre feridos, desabrigados e desaparecidos. Porto Alegre, Caxias do Sul e Gramado estão entre as inúmeras cidades atingidas por chuvas intensas, vendavais, trovoadas e transborda de rios, entre eles o Guaíba. E nós manifestamos pesar sobre essa traumatizante ocorrência e solidariedade às vítimas. A situação é muito triste, mas não deixa de ser lamentável o oportunismo das subcelebridades, aspirantes a super-ricos, de oferecer doações milionárias para as vítimas das enchentes. Uma sociedade que, em condições naturais, quer demais para si e, egoísta, não quer abrir mão do supérfluo para ajudar o próximo a ter o neces

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s