Pular para o conteúdo principal

LULA, DEMONSTRANDO SEU DESPREZO À MEMÓRIA DA DITADURA, MOSTRA QUE SEU ESQUERDISMO MORREU

LULA, CORRENDO CONTRA O TEMPO PARA REVERTER SUA QUEDA DE POPULARIDADE, PREFERE SE OMITIR EM RELAÇÃO À LEMBRANÇA DO GOLPE DE 1964.

O governo Lula só continua dando as impressões de ser progressista e de esquerda para uma parcela de pessoas bem de vida, tão cheia de dinheiro e prestígio que acha que pode dar seu pitaco até naquilo que essa classe não entende bem. Só essa classe não consegue perceber que Lula mudou para pior, pois levou às últimas consequências as concessões à direita que, em outros tempos, ele fazia com certa cautela.

Observando bem às coisas, sem paixões políticas de qualquer espécie, nota-se que Lula está com uma performance bastante decepcionante no seu atual mandato. Ou seja, o chamado governo Lula 3.0 está fraquíssimo, com muito simulacro (discursos, estatísticas, rituais, propaganda, relatórios etc) e nada de resultados concretos. Até o valor de acréscimo nos aumentos salariais é menor do que nos mandatos anteriores: se antes o salário mínimo se reajustava com mais R$ 120, hoje só aumenta com R$ 90.

Lula se esforça para viver de seu mito e de seu carisma, tanto que se precipitou, no começo do atual mandato, em fazer viagens ao exterior, que ele priorizou até em relação ao combate à fome, causa maior de sua campanha eleitoral. Mas, fora desse mito visto como estonteante para seus seguidores e fãs, Lula está com desempenho fraco como governante, daí sua queda de popularidade, muito maior e mais grave do que as supostas pesquisas de opinião divulgaram recentemente.

Esta semana mostrou mais um item para a coleção dos erros cometidos pelo presidente que "não pode errar": Lula decidiu cancelar os atos em lembrança da tragédia da ditadura militar, quando o golpe que a originou faria 60 anos em Primeiro de Abril (apesar de oficialmente a data ser 31 de março, para evitar trocadilhos com o Dia da Mentira). Ou seja, não haverá cerimônia para lembrar o nefasto episódio do golpe civil-militar de 1964. Da mesma forma, Lula também cancelou a criação do Museu da Memória e dos Direitos Humanos.

Moisés Mendes, jornalista ligado à mídia esquerdista, tentou arrumar uma justificativa inconvincente: a de que Lula deixaria para o Judiciário a "guerra com os militares". No seu artigo "A guerra com os militares hoje é de Alexandre de Moraes, não de Lula", Moisés fala de "resultados concretos surpreendentes para a própria esquerda" do governo Lula, que nós, fora da bolha de plástico do Brasil-Instagram, não conseguimos perceber. Sobre o enfrentamento com os militares, Moisés argumentou:

"Lula afastou-se de iniciativas que pudessem aproximá-lo de ações, falas e eventos relacionados ao 31 de março. Afastou-se e pediu que membros do governo também se afastem.

Tanto que recomendou ao ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, que cancele um ato em memória das vítimas da ditadura, no Museu da República".

Dizendo que "não haveria ganhos" para Lula lembrar do pesadelo da ditadura militar, Moisés entra em contradição, quando cita que "políticos em função executiva" estão entre os que deveriam zelar pela memória das vítimas da ditadura militar. Mas Lula não é chefe do Executivo federal?

O que está em jogo nessa omissão de Lula é, na verdade, o fato de que o presidente brasileiro estabeleceu alianças e amizades com políticos remanescentes da direita civil que sustentava politicamente os anos de chumbo. Vide a tendenciosa campanha das Diretas Já, até certo ponto oportuna, mas sob o preço de vermos uma parte dos golpistas de 1964 embarcando na redemocratização do Brasil.

Lula, hoje, abandonou os princípios de esquerda. Hoje se limita a realizar uma combinação de Economia neoliberal com Assistencialismo, com uma euforia na divulgação de progressos econômicos aparentes que lembra muito o "milagre brasileiro" da própria ditadura militar, ou seja, muito lucro, muitas verbas mas nenhum reflexo na vida cotidiana do povo brasileiro.

O próprio Lula se preocupa menos com o golpe militar de 1964 do que com a revolta recente do golpe de 2023, no dia 08 de janeiro, hoje incluído numa série de processos de investigação criminal envolvendo a Operação Lava Jato, o assassinato de Marielle Franco e o bolsonarismo, em especial a conduta cínica de Jair Bolsonaro em relação à pandemia da Covid-19.

E se, quando Lula vai a Salvador, sempre é entrevistado pelo filhote da ditadura Mário Kertèsz, o conservador dublê de radiojornalista que, com seu culto à personalidade, é o astro-rei da sua Rádio Metrópole, então torna-se fundamental pensar no que Vladimir Safatle afirmou como a morte das esquerdas no Brasil, que perdeu a ambição da transformação estrutural da sociedade.

Hoje o "esquerdismo" de Lula, pelo contrário, se serve de estruturas arcaicas vigentes ou derivadas do cenário político e sociocultural da ditadura militar. Os "brinquedos culturais" que a direita civilizada emprestou às esquerdas médias, de "médiuns espíritas" a funqueiros, fez as forças progressistas caírem no ridículo de defender um modelo de Brasil tão postiço quanto o enredo de novela das 21 horas da Rede Globo.

Recentemente, o "passinho", dança derivada do "funk", virou "patrimônio cultural imaterial" por mais um arranjo político da deputada estadual Verônica Lima, do debilitado PT fluminense. A classificação de "patrimônio cultural imaterial" não veio pelo viés técnico, como, em 2009, foi o caso do próprio "funk", mas através de artifício parlamentar, sempre se apoiando na choradeira dos funqueiros, que já estão no mainstream do mainstream há muito tempo, mas sempre apelam para o vitimismo para se promoverem.

E, enquanto os defensores do "funk" vem com a narrativa de "cultura das periferias", sempre caprichando no discurso claramente paternalista visando a domesticação sociocultural do povo pobre, os ídolos funqueiros cada vez mais se enriquecem por fora, pois as "verbas culturais" só servem para comprar carrões, mansões e iates, pois musicalmente o "funk" continua horrível, apenas variando, agora, com a franquia do trap estadunidense, aqui adaptado com a batida com som de lata de ervilha.

Mas é essa a manobra da "boa" sociedade, da burguesia ilustrada que sequestrou as esquerdas, que se renderam a esses dominadores com gosto. E é por isso que Lula não parece muito interessado em promover o debate sobre a ditadura militar, até porque o atual presidente brasileiro está a serviço da mesma ordem social, a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, que estabeleceu seus privilégios nababescos nos tempos do "milagre brasileiro".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

O NEGACIONISMO FACTUAL E A 89 FM

Era só o que faltava. Textos que contestam a validade da 89 FM - que celebra 40 anos de existência no dia 02 de dezembro, aniversário de Britney Spears - como “rádio rock” andam sendo boicotados por internautas que, com seu jeito arrogante e boçal, disparam o bordão “Lá vem aquele chato criticar a 89 novamente”. Os negacionistas factuais estão agindo para manter tudo como o “sistema” quer. Sempre existe uma sabotagem quando a hipótese de um governo progressista chega ao poder. Por sorte, Lula andou cedendo mais do que podia e reduziu seu terceiro mandato ao mínimo denominador comum dos projetos sociais que a burguesia lhe autorizou a fazer. Daí não ser preciso apelar para a farsa do “combate ao preconceito” da bregalização cultural que só fez abrir caminho para Jair Bolsonaro. Por isso, a elite do bom atraso investe na atuação “moderadora” do negacionista factual, o “isentão democrático”, para patrulhar as redes sociais e pedir o voicote a páginas que fogem da assepsia jornalística da ...

A RELIGIÃO QUE COPIA NOMES DE SANTOS PARA ENGANAR FIÉIS

SÃO JOÃO DE DEUS E SÃO FRANCISCO XAVIER - Nomes "plagiados" por dois obscurantistas da fé neomedieval "espirita". Sendo na prática uma mera repaginação do velho Catolicismo medieval português que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial, o Espiritismo brasileiro apenas usa alguns clichês da Doutrina Espírita francesa como forma de dar uma fachada e um aparato pretensamente diferentes. Mas, se observar seu conteúdo, se verá que quase nada do pensamento de Allan Kardec foi aproveitado, sendo os verdadeiros postulados fundamentados na Teologia do Sofrimento da Idade Média. Tendo perdido fiéis a ponto de cair de 2,1% para 1,8% segundo o censo religioso de 2022 em relação ao anterior, de 2012, o "espiritismo à brasileira" tenta agora usar como cartada a dramaturgia, sejam novelas e filmes, numa clara concorrência às novelas e filmes "bíblicos" da Record TV e Igreja Universal. E aí vemos que nomes simples e aparentemente simpáticos, como...

“JORNALISMO DA OTAN” BLINDA CULTURALISMO POPULARESCO DO BRASIL

A bregalização e a precarização de outros valores socioculturais no Brasil estão sendo cobertos por um véu que impede que as investigações e questionamentos se tornem mais conhecidos. A ideologia do “Jornalismo da OTAN” e seu conceito de “culturalismo sem cultura”, no qual o termo “cultura” é um eufemismo para propaganda de manipulação política, faz com que, no Brasil, a mediocridade e a precarização cultural sejam vistas como um processo tão natural quanto o ar que respiramos e que, supostamente, reflete as vivências e sentimentos da população de cada região. A mídia de esquerda mordeu a isca e abriu caminho para o golpismo político de 2016, ao cair na falácia do “combate ao preconceito” da bregalização. A imprensa progressista quase faliu por adotar a mesma agenda cultural da mídia hegemônica, iludida com os sorrisos desavisados da plateia que, feito gado, era teleguiada pelo modismo popularesco da ocasião. A coisa ainda não se resolveu como um todo, apesar da mídia progressista ter ...

O BRASIL DOS SONHOS DA FARIA LIMA

Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus. Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “ dog ”, “ body ” e “ bike ”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”. E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasile...