Bizarra a elite do bom atraso, nesse Brasil louco dos anos loucos à brasileira (ou Roaring Twenties pós-tropicalistas). Gente com orgulho de jogar comida fora, que acha futebol sinônimo de civismo, que adora filmes sobre pretensos fenômenos “espíritas” a ponto de botar frases de “médium” picareta defensor da ditadura militar para “alegrar o dia”, que não tem dinheiro para ajudar o próximo mas tem grana de sobra para comprar cervejas (consumidas em dimensões diluvianas) e até cigarros.
Essa gente egoísta metida a generosa ainda será assunto em outra postagem, pois aqui vamos mostrar apenas um aspecto desta burguesia ilustrada que se acha dona de tudo e ainda não se curou da obsessão de dominar o mundo, agora esperançosa de, quem sabe, contar com o apoio da senhorita Ciccone para tamanha ambição planetária.
Pois a patota do viralatismo cultural enrustido, que acha que “música vintage” é Odair José, Michael Sullivan e É O Tchan e que acha que a perda do cantor do medíocre grupo Molejo, Anderson Leonardo, deixou “uma lacuna irreparável para a MPB (sic)” e não imagina que o trap brasileiro, pelo padrão vocal de seus MC's, tem mais robô do que feira de tecnologia de Tóquio, está ouvindo duas músicas sem perceber a relação direta entre elas, havendo um aspecto muito comum, e bem menos agradável do que parece, neste contexto de “sociedade democrática em que vivemos”.
Quando fazem aquelas festas do churrasco, simulando festas na laje em seus condomínios, com aquele “samba da melhor qualidade” (na verdade eufemismo para aquela ala politicamente correta do sambrega, tipo Exaltasamba e Revelação, que estão no modo “imitasamba”), o pessoal costuma colocar no repertório uma canção chamada “Separação”, sucesso na voz de Simone Bittencourt, em sua breve fase abertamente comercial, no fim dos anos 1980.
A música é conhecida pelo refrão: “Mas vá embora / Antes que a dor machuque mais meu coração / Antes que eu morra me humilhando de paixão / Que me ajoelhe te implorando pra ficar comigo”.
Aparentemente, “Separação” foi adotada pelas rodas burguesas de “pagode”, nas churrasqueiras dos condomínios, e antes que os desavisados imaginassem que a música é de autoria de Jorge Aragão ou Arlindo Cruz, devemos avisar aos navegantes do Instagram que este sucesso foi composto por um cantor brega, José Augusto, recentemente declarado adepto do bolsonarismo.
É o mesmo José Augusto que, com as letras de um Paulo Sérgio Valle precisando de uma graninha extra, fez a música “Evidências”, hoje associada aos latifundiários musicais Chitãozinho & Xororó. Aí o pessoal cai da cadeira de sua casa. Ué, não foram os dois irmãos que fizeram a música?
A resposta é não.
“Separação” e “Evidências”, aliás, foram originalmente gravadas por José Augusto que, anos antes de manifestar seu apoio a Jair Bolsonaro, a exemplo de outro bregalhão, Amado Batista, ainda recebeu o apreço, nos anos 2010, de uma blogueira catarinense professora e de esquerda, que também manifestou admiração ao reacionário e machista Waldick Soriano, ídolo cafona apoiador fervoroso da ditadura militar. Na época escrevi uma bronca na página de respostas e ela reagiu dando chilique com desculpas inconvincentes.
Sentimento dói com o tempo, né, pessoal? Deve ser o excesso de cerveja que, de tanto entrar nos corpos dessa gente transada, devem estar até cobrindo os olhos dessas pessoas, deixando-as com, digamos, uma cegueira etílica.
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