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EM 1964, AS ESQUERDAS PECARAM POR ACHAR QUE “PODIAM TUDO”

O IPES - PARTE DO COMPLEXO IPES-IBAD DE MANIPULAÇÃO IDEOLÓGICA DA DIREITA - FOI UM DOS INSTITUTOS DE FACHADA QUE CONTARAM COM A PARTICIPAÇÃO DA BURGUESIA NACIONAL, QUE AS ESQUERDAS ACREDITAVAM SER ALIADAS EM 1964.

É certo que o colunista Arnaldo Jabor, falecido há poucos anos, teve seus surtos Reacionarismos à parte, Jabor falava das ilusões que as esquerdas tiveram em 1964 e sua enganosa ideia de onipotência e invulnerabilidade. As ilusões do subdesenvolvimento poetizado pela arte, a utopia de que as esquerdas podiam tudo no Brasil e de que a burguesia nacional era aliada das esquerdas brasileiras.

Mas, na distância do tempo, temos que refletir sobre os erros que as esquerdas cometem nos últimos vinte anos e que, agora, mais uma vez são repetidos e, às vezes, agravados sob a ilusão da conduta autossustentável do presidente Lula.

Entre 1963 e 1964, as esquerdas eram menos ingênuas que seis décadas depois. Havia uma glamourização do subdesenvolvimento bem menos grosseira que a de hoje. Havia uma crença de que a burguesia nacional apoiava os janguistas e que os esquerdistas achavam que podiam tudo.

Com menos credulidade e voando nas nuvens em planos mais baixos do que atualmente, as esquerdas de 1964 foram derrubadas pelo famoso golpe civil-militar. Não adiantou o general Argemiro Assis Brasil, ministro da Guerra (atual Defesa) de João Goulart, afirmar que seu dispositivo militar estava preparado para frear o golpe. O tal dispositivo virou a casaca e foi realizar o golpe.

A burguesia nacional, décadas depois, estava envolvida na fachada de pseudo-intelectualismo do IPES-IBAD. O sargento José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, enganou as esquerdas com um coitadismo farsesco que fez Jango morder a isca ao anistiá-lo.

E hoje? Com mais ingenuidade, as esquerdas, hoje, são capazes de endeusar tão tolamente um retrógrado “médium” que, num programa de grande audiência de 1971, manifestou defesa radical da ditadura e nunca se arrependeu de tal defesa e de comentários hidrófobos contra as esquerdas, algo muito estranho para um homem que muitos tolos acreditavam ser chamado de “Amor”. O religioso “médium” nunca se mobilizou pela redemocratização do país mas levou, por vergonhoso erro das esquerdas, uma fama equivocada e ilógica de “progressista”.

EMPRESÁRIO E DJ DA FURACÃO 2000, RÔMULO COSTA FEZ UM PAPEL SEMELHANTE AO DE CABO ANSELMO EM 1964, ENGANANDO AS ESQUERDAS E O POVO NA FALSA DEFESA DE DILMA ROUSSEFF, ANESTESIANDO A POPULAÇÃO COM O "FUNK" E GARANTINDO A TRANQUILIDADE NA VOTAÇÃO DO IMPEACHMENT.

Mas nossas esquerdas, tão tolas, aceitaram até que o rico empresário e DJ de “funk” Rômulo Costa fosse o “Cabo Anselmo” de 2016, num papel dividido com Bruno Ramos, da Liga do Funk. Ambos viveram seus quinze minutos de fama como “esquerdistas sinceros”, até o golpe contra Dilma Rousseff ter sido consumado e os dois nomes do “funk” apunhalarem as esquerdas pelas costas, colaborando com pessoas e instituições que derrubaram a presidenta.

O negacionismo factual tenta criar ou defender narrativas que tentem manter as esquerdas intatas nas suas ilusões douradas. Tudo é feito para que essas ilusões, num clima de ingenuidade ainda maior, permaneçam mais crédulas, na fantasia de que, desta vez, as esquerdas médias “podem tudo mesmo”.

O protagonismo das esquerdas hoje é postiço, artificial, garantido somente pelas brechas abertas pelo Judiciário e por setores do MDB e do PSDB que atiaram no golpe de 2016. Eles apenas ofereceram espaços de atuação política das esquerdas em troca da suavização de seu projeto político, tornando-se inofensivo em relação aos privilégios abusivos das classes dominantes.

O maior risco disso tudo é a ilusão de autossuficiência, de sustentabilidade sociopolítica e da invulnerabilidade que as esquerdas que hoje respaldam o presidente Lula acham que têm. Todos juram que nada lhes vai atingir, que Lula tem força para governar por mais 40 anos e que o Brasil será um país desenvolvido e desbancará a Finlândia do posto de país mais feliz do planeta.

Sonhar alto demais soa bonito, mas o problema é o momento em que seus sonhadores sofrerão uma queda repentina, o que será doloroso demais.

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