Infelizmente, não se pode criticar a cloroquina nem questionar seus efeitos limitados, mesmo sob argumentos científicos.
Isso acaba rendendo ameaças de morte de "robôs" bolsonaristas, que em bando - o chamado "gado" bolsomínion - , como a que recebeu um produtor de vídeos, Bruno Sartori, de um internauta registrado nos Estados Unidos.
Tudo começou quando Sartori publicou uma piada com Jair Bolsonaro fantasiado de Tiririca cantando uma letra alterada do sucesso do ex-político, "Florentina", relacionado à cloroquina, substância que os bolsonaristas alegam ser "eficiente" na cura da Covid-19.
As mensagens foram publicadas via WhatsApp.
Incluíam uma foto de um pelotão encapuzado, enquanto anunciava a ameaça "Minha Guarnição vai te pegar!", acrescida de figuras de uma faca e uma caveira. Em seguida, a mensagem concluiu: "Aproveite bem essa quarentena, seu moleque". ("Moleque" está gravado em internetês, "mlk").
Foram publicados dados pessoais de Sartori e sua mãe, como se fossem de um banco de dados de segurança pública, com acesso privativo a policiais.
O internauta, identificado como "Papa Mike MG" ("apelido" coloquial da Polícia Militar de Minas Gerais), ainda disse na mensagem: "Vamos te ensinar a Respeitar o Presidente".
A Polícia Militar de Minas Gerais está apurando o caso e tomará as devidas providências assim que identificar o internauta que usou o nome da instituição para ameaçar e intimidar outrem.
Pesquisadores da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que estava atuando em testes de uso de cloroquina num hospital em Manaus, também sofreram ameaças de morte de bolsonaristas.
Eles foram atacados nas redes sociais por internautas registrados no Brasil e EUA que contaram com o apoio do deputado Eduardo Bolsonaro, que acusa os pesquisadores de "desqualificarem a cloroquina".
Os pesquisadores tiveram dados pessoais divulgados na Internet, para reforçar o linchamento digital.
Mas o bolsonarismo não parou aí. Ontem, além das carreatas pedindo o fim do isolamento social e a reabertura do comércio, tiveram também atos bolsonaristas em frente aos quartéis.
Nestas manifestações, ocorridas em várias partes do país - o de Brasília contou com o próprio Jair Bolsonaro - , houve defesa da intervenção militar (eufemismo para golpe) e de um novo AI-5, referência ao mais repressivo ato institucional da ditadura militar.
A crise sócio-política brasileira está indo a níveis extremos, ameaçando as instituições e amaldiçoando a centro-direita, agora também creditada (erroneamente) como "comunista".
Nomes antes associados ao golpe político de 2016, como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o governador de São Paulo, João Dória Jr., agora são classificados como "comunistas", assim como a Rede Globo, também símbolo da centro-direita midiática.
Rodrigo Maia e o presidente do Senado, David Alcolumbre, se demonstraram preocupados com a ameaça de Jair Bolsonaro à democracia, mas tambem se mostram incapazes de fazer alguma coisa.
Aí, a situação se torna mais complicada. O consolo é que o coronavírus não seleciona por ideologia e a cloroquina mata quem sofre problemas cardíacos.
Do jeito que os bolsomínions têm pavio muito curto, eles são os primeiros a serem vulneráveis com esse uso irresponsável da cloroquina, que não tem cura comprovada contra a Covid-19.
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