Bem longe de fazer aqui qualquer conclusão taxativa, o que eu faço aqui é juntar as peças de um quebra-cabeça bastante incômodo.
Vamos partir do ponto em que a atriz Patrícia Pillar resolveu fazer um documentário sobre o ídolo cafona Waldick Soriano, Waldick - Sempre No Meu Coração, de 2008.
Isso já soava estranho se levarmos em conta que Patrícia Pillar, apesar de nascida em Brasília, é uma carioca típica, pelos anos em que viveu e se entrosou no Rio de Janeiro.
Ela tornou-se conhecida a partir de revistas de moda da Editora Bloch, fez o FMTV na extinta TV Manchete e fez a deliciosa Linda Bastos em Roque Santeiro, com aquele penteado tipo a Madonna no disco Like a Virgin.
Patrícia faz o tipo daquela jovem descolada da época, ligada ao Rock Brasil e a ala mais jovem da MPB.
Foi casada, não-oficialmente, duas vezes: uma é com o músico Zé Renato, do Boca Livre, e outra com o político Ciro Gomes. Sim, ele mesmo, que hoje esculhamba Lula.
E aí pensamos: o que uma atriz considerada culta, que nos anos 1980 tinha uma imagem associada à Zona Sul, à juventude arejada do pós-ditadura, à modernidade cultural do Rock Brasil e da MPB jovem da época, foi fazer um documentário sobre um ídolo brega dos mais retrógrados?
Por favor, não venham com a choradeira de "combate ao preconceito". Isso é que dá não ler Esses Intelectuais Pertinentes..., e sair por aí dando pitaco sobre o que não entende.
Waldick Soriano era uma figura reacionária, um sujeito ultraconservador, era a cafonice levada às últimas consequências.
Ele fez declarações machistas, defendendo que a mulher ficasse no lar fazendo tarefas domésticas e ele também era um defensor convicto da ditadura militar.
Só que, seguindo a proposta de Eu Não Sou Cachorro Não, de Paulo César de Araújo, o documentário de Patrícia Pillar remoldou a imagem de Waldick para ela se tornar palatável para as chamadas esquerdas identitaristas.
Detalhe chama a atenção: Patrícia era mulher de Ciro Gomes.
Ciro é um político cearense, mas nascido em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, por curiosa coincidência a mesma cidade natal de Geraldo Alckmin.
Apesar de Ciro Gomes ter flertado com as esquerdas naqueles anos 2000, informa-se que ele havia se formado nos quadros conservadores da ARENA e, durante anos, esteve ligado ao PSDB.
O que se nota é que, anos depois do documentário sobre Waldick e após a separação de Ciro Gomes, Patrícia Pillar não falou mais nisso e voltou aos seus redutos de MPB nos eventos sociais.
Quanto ao Ciro Gomes, ele teve um DNA mais conservador, de um interior paulistano que, esse sim, consumia Waldick Soriano, que a moderna juventude carioca dos anos 1980 não dava ouvidos.
Outro dado que chama a atenção é que Patrícia Pillar, depois da separação de Ciro Gomes e da propaganda direta ou indireta de seu filme, não falou mais sobre o assunto.
E quem imaginaria ela se esbaldando nos festões cafonas da sociedade de hoje, se decepcionou, porque ela voltou aos círculos emepebistas de sempre.
Não podemos distorcer a História e contá-la conforme o desejo de cada um.
Soam mentirosas as teses, hoje agradáveis e passíveis de consenso e até sujeitas a narrativas oficiais, de que Waldick Soriano era adorado pela juventude parafrentex de Ipanema nos anos 1980 e o "funk" surgiu no Quilombo de Palmares no Século XVIII.
O passado não pode estar a serviço do pensamento desejoso. Se Waldick sofreu censura de suas músicas e os funqueiros levavam dura da polícia, não é isso que os fará socialistas, modernos nem de vanguarda.
Isso seria assinar embaixo dos preconceitos de delegados de polícia e dos antigos chefes da Censura Federal dos anos de chumbo.
Quanto ao documentário, fica apenas uma pergunta no ar: Patrícia Pillar fez um documentário sobre Waldick Soriano visando agradar o então marido Ciro Gomes?
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