CIRO GOMES RETORNOU À DIREITA, COM O "MANIFESTO DOS PRESIDENCIÁVEIS".
Ontem foram 4.195 mortos pela Covid-19, com o agravante de que, por exemplo, o Hospital das Forças Armadas, no Rio de Janeiro, só atende militares doentes e deixa leitos ociosos que deveriam, em casos de emergência, serem reservados para civis.
E temos empresários fura-filas que tomam vacina contra a Covid-19 até mesmo antes do período de etapas etárias.
O Brasil está confuso, precário, irregular. E as pessoas presas em zonas de conforto.
Tão presas que recorrem à visão burra da abnegação religiosa: abrem mão daquilo que é necessário, como se estivessem adotando uma atitude nobre e corajosa, mas se apegam ao supérfluo e até ao nocivo e ainda se irritam quando são aconselhados a se desapegarem.
Há muita gente assim.
Enquanto não discutimos os problemas dos retrocessos trabalhistas, dos sem-teto que se multiplicam nas grandes cidades, a turma identotária implicou com Leandro Karnal, o Rick Bonadio da vez.
Karnal não é daqueles pensadores que sejam confiáveis, ele vem com aquele discurso conciliador que eu já ouvi e li, outrora, no Espiritismo feito no Brasil, sempre aquela confraternização da raposa com a galinha.
E ainda elogiou Sérgio Moro, tratando-o como se fosse uma personalidade "inteligente".
Mas assim como Rick Bonadio, que investiu no rock engraçadinho dos Fincabautes e Ostheobaldos da vida, unindo Tutinhas e Tatolas numa mesma causa pós-Mamonas, teve alguma razão para criticar o "funk" (alguma, porque, apesar de certa rejeição, ele até que passou pano levemente no ritmo).
Karnal fez um comentário condenando o uso de maconha recreativa, alertando que o uso de maconha medicinal deveria ser debatido por médicos:
"Não cedam à oferta de maconha, sua vida vai piorar, você vai ficar dependente e vai ficar mais idiota. Não existe gente interessante maconheira".
Foi aí que a patota identotária, o gado "livre" que acha que "liberdade" é tatuar o corpo todo, sofrendo horas de dor por uma tola obsessão em parecer "diferente", reagiu feito cães ferozes ou saiu dizendo bobagens por aí.
Sinto ter que citar um blogueiro progressista com ideias consistentes, mas que aqui escorregou mais do que patinador em crise de desmaio, Antônio Luiz M. C. Costa, no seu perfil no Twitter.
Vejam o comentário infeliz de Antônio:
"Pensem bem: se você fumar maconha corre o risco de ficar como Carl Sagan, Gilberto Gil, Gregorio Duvivier, Miley Cyrus, Whoopi Goldberg, Brad Pitt, Michael Phelps, Betty Faria ou Bob Marley. Se não fumar, fica como Leandro Karnal. O que você escolhe?".
O que Antônio, nesse erro textual, sugere, é que o uso de maconha virou o trampolim de sucesso de várias personalidades bem-sucedidas, o que não é verdade.
Para elas, ou para gente como Paul McCartney, Mick Jagger, Arnaldo Antunes e outros, o uso de maconha foi apenas um consumo casual, até um erro que, todavia, era motivado por ser uma droga que estimulava o prazer e as alucinações, embora de forma menos intensa que os ácidos lisérgicos.
Dizer, ou mesmo sugerir, que a maconha é escada para o sucesso, porque grandes personalidades a usaram um dia, é o mesmo que dizer que chupar bala na infância garante a maturidade de uma pessoa.
Tenho que me orgulhar que a minha única experiência com maconha simplesmente foi NENHUMA.
Quase me aventurei. Foi em 1992, numa aula da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.
Estava no Farol da Barra por conta de um encontro para um exercício de turma e colegas meus me insistiram para ir com eles para a FaCom, no antigo prédio no bairro do Canela, em Salvador. Eu tentei negar, os caras me insistiram, e eu fui com eles.
Me fingi de alguém ingênuo, fiquei alegre e fui com eles. Entramos na FaCom, que estava em horário sem aulas. Enquanto eles procuravam uma sala, eu me distanciei deles e andava no corredor, e fiquei parado na sala de datilografia.
Os caras estavam muito ansiosos que não deram pela minha presença, e aí encontraram uma sala com comongol, onde em outras épocas eu já tive aulas com o professor Wilson Gomes, que hoje escreve eventualmente na mídia progressista.
E aí, quando ouvi o barulho da porta fechando, resolvi descer. Para me distrair eu, que morava no bairro do Resgate, peguei um ônibus 1130 Cabula VI / Ondina indo para a Barra, para dar uma volta (é uma linha circular) e depois saltar perto do bairro onde morei.
Tudo ficou nisso mesmo, sem problema algum.
Eu nunca consumi maconha e nem por isso virei Leandro Karnal. Acreditar nisso é o mesmo que acreditar que não fazer tratamento precoce nem usar Cloroquina faz da pessoa um jacaré.
As esquerdas deveriam falar dos retrocessos trabalhistas e de como revertê-los e se preocupar com a anorexização do Estado, em vez de tantas bobagens lacradoras. Deveriam se envergonhar em se apegarem a pautas tão supérfluas, só para agradar as comunidades digitais.
Que mentes são essas esquerdas identitaristas, que no fundo não passam de "bolsomínions do bem".
Acreditam que a maconha é uma "religião libertária" e, por isso, devem ver nela um portão para o sucesso. Não é. Ela foi apenas uma droga casual que os arroubos de juventude fizeram desejar e decidir pelo seu consumo.
Não é a maconha que produz um Carl Sagan, um Paul McCartney ou uma Whoopi Goldberg. São os talentos que eles carregavam na vida, principalmente desde os tempos de infância onde não se pensava em "fumar um baseado".
É triste que o gado de esquerda, muitas vezes, interage com os bolsomínions (sim, o "gado" cujos "vaqueiros" digitais são gente como Carluxo e Olavo de Carvalho), principalmente nos linchamentos digitais sobre qualquer coisa.
Fui só endossar uma crítica à gíria "balada" (©Jovem Pan) para ser linchado no Orkut por um bando comandado por pseudo-esquerdistas que faziam das esquerdas identitaristas seus fantoches anos antes de saírem do armário e assumirem seu olavo-bolsonarismo.
Essas esquerdas identitaristas, muitas vezes, preferem gostar de Miley Cyrus... E de Miley "Ciro".
Afinal, temos Ciro Gomes, o economista-lacrador, querendo lacração com seus comentários hidrófobos contra Lula, que boa parte dos pseudo-esquerdistas finge adorar, desde que Lula deixe para trás o líder sindical e vire uma espécie de cover do Dom Pedro II.
Ciro Gomes desviou a rota do PDT para a direita, coisa que já havia um certo tempo. O PDT abrigou muito bolsonarista, muito ruralista, e não só do interior. Durante um tempo, o tecnocrata Jaime Lerner, em Curitiba, e o ruralista e "barão midiático" Marcos Medrado, fizeram parte do partido.
Aliás, citei Jaime Lerner, que foi da ARENA de onde veio Ciro Gomes, Fernando Collor e Mário Kertèsz. E o empresário fundador da 89 FM A (dita) Rádio Rock, José Camargo, também foi arenista.
Muita gente a qual os progressistas encaravam, se não com ingênuo respaldo, ao menos com silêncio complacente. Mesmo em relação à 89 FM, que ajudou a surgir o fenômeno dos roqueiros de direita.
E aí Ciro Gomes, em declaração recente, pediu para que Lula abrisse mão de ser candidato à Presidência da República.
Usou como pretexto o fato de Christina Kirschner ter se oferecido para ser vice do atual presidente, Alberto Fernandez. Mas aquilo é diferença de contexto.
Ciro tem medo de Lula e, não tendo o carisma que este possui, quer esculhambá-lo e surfar com o anti-petismo.
E ele então fala que não quer saber o que certos golpistas fizeram no "verão passado" (leia-se 2016) e foi se aliar aos assinantes do "manifesto dos presidenciáveis" de Eduardo Leite, João Amoedo, João Dória Jr., Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta.
Lula, sem dúvida, é a grande solução para o país, mas tenho receio de que, com tanto apoio vindo de outros setores da centro-direita, ele acabe podando demais o seu programa de governo.
Há um medo de Lula se entusiasmar demais com as alianças contra o bolsonarismo que, em caráter provisório, faz muitos golpistas convictos de 2016 flertar artificialmente com o petismo.
Não falo das pessoas que realmente mudaram, mas de apoios da centro-direita a Lula que parecem fáceis demais.
Eu, que sou um dos poucos a ter desconfiado do pretenso apoio da intelectualidade pró-brega ao petismo - para saber detalhes, adquira meu livro aqui - , gente que mamava no colo de Fernando Henrique Cardoso e depois se vendeu como "esquerdista", ando muito cético com essa "frente ampla".
Não se pode furar a bolha como quiser, sair por aí se aliando ao primeiro direitista que abre os braços saudando "Ei, Lula, meu amigo!!", ou se oferecendo para pagar uma rodada de cerveja ou, com criança pobre no colo, prometer a paz mundial com o Brasil como "pátria do Evangelho".
Isso tudo só dará em desastre e, a médio ou longo prazo, a outros golpes ou sabotagens.
Enquanto isso, mais gente morre de Covid-19, os sem-teto aumentam nas ruas e o pessoal achando que a maconha é a escada para o sucesso. Quanta "viagem"...
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