Pular para o conteúdo principal

TOCAR O DEDO NA FERIDA NÃO LACRA A INTERNET

ERA SÓ O QUE FALTAVA - Uma das "salvações" para boa parte dos brasileiros são os romances fictícios e distantes da Idade Média. 

Neste Brasil paralelo que insiste em ser feliz sem motivo, esse parque de diversões que se tornaram as redes sociais desde 2016, tocar o dedo na ferida não lacra a Internet.

As pessoas fogem do Conhecimento, do senso crítico, fazendo o Brasil ficar flanelinha, de tanto passar o pano em tudo.

Criticar só é permitido quando a agenda setting, espécie de hit-parade dos fatos e assuntos, autoriza.

Em 2018, por exemplo, criticar Jair Bolsonaro era relativamente permitido, mas sem efeitos práticos. Hoje é mais do que permitido.

Criticar os "neopenteques" nos anos 1990? Era sinal de "preconceito" e "injustiça" com quem busca "o conforto pelo Evangelho". Hoje já se atacam tanto os neopentecostais que já se está chutando cachorro morto, enquanto os coiotes do Espiritismo brasileiro cobiçam até as ovelhas negras do ateísmo.

Hoje a engenharia social da guerra híbrida não faz o Espiritismo de chiqueiro suspeito entre os brasileiros. 

Tem "médium" baiano que construiu sua "iluminada cidade" (de forma ilegal, sem alvará da prefeitura) para, em suas palestras, ofender pessoas gordas e mulheres falsas-louras, que goza da impunidade que nem os "caciques" do PSDB recebem, e pintava quadros aberrantemente falsos.

O farsante religioso, cujas palestras eu já vi muitas vezes quando me iludi com este engodo religioso, entre 1995 e 2008, explora as crianças que abriga em sua instituição, tatando-as como animais domésticos. Os mais crescidos atuam como flanelinhas nos arredores de um bairro da orla de Salvador.

E ele pinta quadros falsos, vendidos a preços caros, enfeitados com nomes como Renoir, Manet, Manet e até um risível Portinari diferente do original. E a Justiça baiana não pega esse picareta.

Juízes só chegam perto do "médium" farsante não para processá-lo nem notificá-lo a prestar depoimento na Polícia Federal, mas para abraçá-lo e pedir conselhos.

Falar mal da canastrice "roqueira" da Rádio Cidade, entre 2002 e 2007, era risco de ser atingido pelo linchamento digital do "Tribunal da Internet", com direito a gozações do gado virtual e um blogue de ofensas e difamações montado pelo líder valentão da boiada.

Hoje nem é tanto assim. Com o rock em baixa, a emissora carioca que transformou o dial FM do Brasil e traiu sua história presa a uma jaqueta de couro, teve que abandonar o rádio físico para ser mais uma webradio entre tantas, 20 anos após seus fanáticos adeptos esnobarem as rádios digitais.

A patrulha que defendia a 89 FM e a Rádio Cidade nos anos 2000 foram para outra "praia": o "sertanejo universitário", o "forró-brega", o "funk". Hoje eles ouvem Guns N'Roses intercalado com BTS, Anitta, Jorge & Mateus e os Barões da Pisadinha.

Ter senso crítico é o verdadeiro alvo de preconceito, não bastasse pessoas que usam a lógica para avaliar os problemas da realidade serem consideradas erroneamente "preconceituosas".

Quem tem senso crítico é linchado na Internet, é definido pela intelectualidade "bacana" como um "monstro insaciável" - e logo essa intelectualidade, dita "sem preconceitos", criando preconceitos piores - e é visto pela sociedade com um desdém terrivelmente esnobe.

Sim, a sociedade lacração, a sociedade "do bem", que só quer ouvir e expressar coisas agradáveis. Sociedade que prefere passar pano em quase tudo, e demonizar quem toca o dedo na ferida.

Daí que o livro Esses Intelectuais Pertinentes... ganhou, por acidente, o título de "livro mais polêmico do Brasil". Nem Olavo de Carvalho e seus livros terraplanistas consegue tal façanha.

Por que isso ocorre? Porque o que prevalece é a literatura analgésica, dentro de um contexto em que, no Brasil, o "novo normal" da música brasileira é o ultracomercialismo popularesco de "funk", "sofrência" e "pisadinha".

Legal é passar pano em tudo, é mostrar o lado flanelinha da vida, agradando tudo e todos dentro da "paz sem voz" das bobagens lacradoras.

Os livros que prevalecem nas vendas são pura água com açúcar literária, embora com algum gosto amargo de dramalhão estrangeiro que se alterna com o oba-oba das auto-ajudas e dos livros de coach, escritos por autores surgidos do nada que viram "campeões de vendas".

São dramalhões juvenis tipo "E se ela ficar?", "E se ela for embora?", "E se ela morrer?", "E se ela se f****?", séries que no fim das contas custam mais caro do que os R$ 55 com frete que todos têm medo de gastar com o revelador Esses Intelectuais Pertinentes....

Livros com capinhas de florestas sombrias em noites frias com meninas pálidas sem saber aonde ir.

Mas a "nata" dessa literatura analgésica são os livros medievais: cavaleiros atormentados à procura de segredo isso, mistério aquilo, bruxas cada vez mais sombrias e estudantes que viram vampiros.

O problema, desses livros, não são autores como Gayle Forman, J. K. Rowling (em que pese seus ataques transfóbicos) e o xará do produtor dos Beatles, George R. R. Martin ou o finado J. R. R. Tolkien, mas o mal do filão que eles, sem querer, acabaram inaugurando.

E vira um ciclo vicioso. Tem burguês da Barra da Tijuca fazendo livrinho de aventura medieval, sem conhecer sequer 0,5% do que é a Romênia em dias de inverno, e vira best-seller em páginas de livros independentes.

E tudo com livros de 280, 330 páginas com texto para só 140, 180 páginas, por conta de sua diagramação folgada que aumenta fontes, espaçamentos entre linhas e entre título e textos, tem páginas ilustradas, páginas em branco etc.

O produto encarece e vai lá o gado literário comprar o livro, triplamente irreal-surrel: fictício, de uma época mais antiga e distante, de um país igualmente distante.

Fácil buscar a solução do Brasil a partir de aventuras imaginárias de cavaleiros medievais procurando o segredo de uma medalhinha.

Fácil buscar o Saber através de delírios confusos e fantasiosos dos livros de auto-ajuda.

E todo mundo sorrindo nas redes sociais. Um sorriso que lacra, um sorriso que conforta, que faz a boiada digital dormir tranquila. Claro, é a literatura para boi dormir, acompanhada do "melhor acalanto" de funqueiros, piseiros e sofrentes.

Enquanto isso, o nosso país enfrenta uma trabalheira para desmontar o governo Jair Bolsonaro, na tentativa de evitar que ele faça um golpe para botar o Brasil todo a perder.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

LULA NÃO CONVENCE COM SEU JOGO DE CENA

A atitude tardia de Lula de tentar fazer algo para salvar sua popularidade, investindo em propostas e bravatas para reverter sua decadência, não dá para convencer. Tudo soa jogo de cena, sobretudo pela supervalorização do papel de orador do presidente brasileiro, que com sua saúde arriscada, torna-se até perigosa, juntamente com sua agenda sobrecarregada. Lula, vendo agora seu isolamento político, só vai ahravar as coisas com seu teatro bonapartista. O discurso “contra os super-ricos” soa fajuto, pois o presidente Lula não tem a bravura de um Leonel Brizola. Toda a “bravura” do “leão de Garanhuns” morre no aparato das palavras vibrantes, mas intensas como fogo de palha. O presidente mostrou que não mantém a palavra. Não dá explicações sobre atos equivocados, quando decide não quer ouvir conselhos, não tem autocrítica e só percebe os erros depois dos estragos feitos. Portanto, Lula não é digno de confiança e “sinceridade” é apenas uma palavra no seu jingle de campanha. Vemos o quanto é ...

DEFESA DO AUMENTO DO IOF DESGASTA IMAGEM DE LULA

Às vezes Lula tem obsessão de implantar medidas impopulares, que são defendidas com mão de ferro por seis adeptos só porque trazem a marca do petista. A transposição do Rio São Francisco é um exemplo, uma desnecessária intervenção da natureza que, na prática, beneficiou os grandes fazendeiros apoiadores do presidente, já nos mandatos anteriores. Trmos a obsessão de Lula, no seu atual mandato, em explorar petróleo na Amazônia Equatorial, o que pode ser um sério perigo para a biodiversidade. Mesmo assim, o presidente insiste nessa exploração, sob a desculpa de produzir riquezas para a nação. Agora temos o caso do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), vetado pelo Congresso Nacional. Lula recorreu da decisão e acionará o Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter o veto. Só que o aumento do IOF irá influir no aumento dos preços sobretudo nas operações de crédito, no câmbio referente ao comércio internacional e nos fretes de transporte de produtos. Em muitos casos, isso ir...

DESESPERADOS, LULISTAS LUTAM PARA GARANTIR REELEIÇÃO DE SEU ÍDOLO

Lula poderia ter feito muito para o Brasil. Só que, no atual mandato, pouquíssima coisa fez e, mesmo assim, nada que pudesse fazer diferença a qualquer outro governante da nossa nação. A dança dos números, palavras e imagens dos relatórios e das supostas pesquisas de opinião nada dizem para a realidade, e por isso o povo da vida real deixou de apoiar o presidente, mais preocupado com a festa do que com o trabalho. Devido aos erros do governo Lula, sua popularidade despencou e isso causa muita preocupação, diante do isolamento político do presidente. E isso se agrava quando a proposta do governo de aumento do IOF é rejeitada no Congresso Nacional. Lula já sinalizou que vai acionar a justiça para reverter a decisão do Legislativo. O governo Lula, para tentar recuperar a popularidade, tem que tomar como prioridades propostas urgentes que o presidente “queria fazer, mas não muito”: a taxação dos mais ricos e o fim da escala 6x1 do trabalho. As duas medidas são urgentes, mas Lula ficou muit...

A ESTÚPIDA NOÇÃO DE CARIDADE DA ELITE DO BOM ATRASO

CENÁRIOS ASSIM ALIMENTAM A "MASTURBAÇÃO PELOS OLHOS" DA HIPÓCRITA ELITE PATERNALISTA BRASILEIRA. Instituições como o Espiritismo brasileiro e a Legião da Boa Vontade, duas seitas obscurantistas que enganam a sociedade com seus lábios de mel que mascaram uma religiosidade medieval, buscam promover sua propaganda através de um falso altruísmo e de um pretenso culturalismo dotado de falsa sabedoria e promessas de "inteligência pura e fortalecida". Num "centro espírita" situado na Rua Alfredo Pujol, em Santana, pessoas de forma ingênua foram em massa para contribuir para uma "feira do livro espírita", adquirindo as obras retrógradas dessa religião que trai mais Allan Kardec do que Judas traiu Jesus Cristo, pois os "postulados" se baseiam mais no velho Catolicismo punitivista e conservador da Idade Média, que marcou durante séculos a formação religiosa do Brasil no período colonial. Essa constatação é tão certa que os padres jesuítas são evo...

BRASIL PASSOU POR SEIS DÉCADAS DE RETROCESSOS SOCIOCULTURAIS

ANTES RECONHECIDA COMO SÉRIO PROBLEMA HABITACIONAL, A FAVELA (NA FOTO, A ROCINHA NO RIO DE JANEIRO) TORNOU-SE OBJETO DA GLAMOURIZAÇÃO DA POBREZA FEITA PELAS ELITES INTELECTUAIS BRASILEIRAS. A ideia, desagradável para muitos, de que o Brasil não tem condições para se tornar um país desenvolvido está na deterioração sociocultural que atingiu o Brasil a partir de 1964. O próprio fato de muitos brasileiros se sentirem mal acostumados com essa deterioração de valores não significa que possamos entrar no clube de países prósperos diante dessa resignação compartilhada por milhares de pessoas. Não existe essa tese de o Brasil primeiro chegar ao Primeiro Mundo e depois “arrumar a casa”, como também se tornou inútil gourmetizar a decadência cultural sob a desculpa de “combater o preconceito”. Botar a sujeira debaixo do tapete não limpa o ambiente. Nosso país discrimina o senso crítico, abrindo caminho para os “novos normais” que acumulamos, precarizando nosso cotidiano na medida em que nos resig...

LULA DEVERIA SE APOSENTAR E DESISTIR DA REELEIÇÃO

Com o anúncio recente do ator estadunidense Michael Douglas de que iria se aposentar, com quase 81 anos de idade, eu fico imaginando se não seria a hora do presidente Lula também parar. O marido de Catherine Zeta-Jones ainda está na sua boa saúde física e mental, melhor do que Lula, mas o astro do filme Dia de Fúria (Falling Down) , de 1993, decidiu que só vai voltar a atuar se o roteiro do filme valer realmente a pena  Lula, que apresenta sérios problemas de saúde, com suspeitas de estar enfrentando um câncer, enlouqueceu de vez. Sério. Persegue a consagração pessoal e pensa que o mundo é uma pequena esfera a seus pés. Seu governo parece brincadeira de criança e Lula dá sinais de senilidade quando, ao opinar, comete gafes grotescas. No fim da vida, o empresário e animador Sílvio Santos também cometeu gafes similares. Lula ao menos deveria saber a hora de parar. O atual mandato de Lula foi uma decepção sem fim. Lula apenas vive à sombra dos mandatos anteriores e transforma o seu at...

“GALERA”: OUTRA GÍRIA BEM AO GOSTO DA FARIA LIMA

Além da gíria “balada” - uma gíria que é uma droga, tanto no sentido literal como no sentido figurado - , outra gíria estúpida com pretensões de ser “acima dos tempos e das tribos” é “galera”, uma expressão que chega a complicar até a nossa língua coloquial. A origem da palavra “galera” está no pavimento principal de um navio. Em seguida, tornou-se um termo ligado à tripulação de um navio, geralmente gente que, entre outras atividades, faz a faxina no convés. Em seguida, o termo passou a ser adotado pelo jornalismo esportivo porque o formato dos estádios se assemelhava ao de navios. A expressão passou a ser usada, também no jornalismo esportivo, para definir o conjunto de torcedores de futebol, sendo praticamente sinônimo de “torcida”. Depois o termo passou a ser usado pelo vocabulário bicho-grilo brasileiro, numa época em que havia, também, as sessões de cinema mostrando notícias do futebol pelo Canal 100 e também a espetacularização dos campeonatos regionais de futebol que preparavam...

BEATITUDE VERGONHOSA… E ENVERGONHADA

A idolatria aos chamados “médiuns espíritas” - espécie de “sacerdotes” desse Catolicismo medieval redivivo que no Brasil tem o nome de Espiritismo - é um processo muito estranho. Uma beatitude rápida, de uns poucos minutos ou, se depender do caso, apenas um ou dois dias, manifesta nas redes sociais ou pelo impulso a algum evento da mídia empresarial, principalmente Globo e Folha, mas também refletindo em outros veículos amigos como Estadão, SBT, Band e Abril. Parece novela ruim esse culto à personalidade que blinda esses charlatães da fé dita “raciocinada” - uma ideia sem pé nem cabeça que pressupõe que dogmas religiosos teriam sido “avaliados, testados e aprovados” pela Ciência, por mais patéticos e sem lógica que esses dogmas sejam - , tamanho é o nível de fantasias e ilusões que cercam esses farsantes que exploram o sofrimento humano.  Os “médiuns” foram e são mil vezes mais traiçoeiros que os “bispos” neopentecostais, mas são absolvidos porque conseguem enganar todo mundo com u...

LULA 3.0 NÃO REPRESENTOU RUPTURAS NEM TRANSFORMAÇÕES

O governo Lula, no seu atual mandato, tornou-se frustrante porque o presidente não realizou qualquer tipo de ruptura ou transformação, agindo apenas no âmbito das aparências e quase nunca fazendo atos significativos. O que ele realizou no governo esteve dentro da média que qualquer governo medíocre de centro-direita faria, inclusive nas medidas sociais. Daí que Lula pode ter saído vencedor nas redes sociais, na sua campanha contra os super-ricos, mas sua popularidade continua baixa. O povo pobre não confia mais em Lula. O presidente se perdeu falando demais e trabalhando menos, e o excesso de expectativas de que seu terceiro mandato seria muito melhor do que os dois anteriores foi para o ralo. E aí vemos o quanto Lula demonstrou ser impotente para combater o legado do golpe político de 2016, sem enfrentar o legado maligno de Michel Temer. O intelectual Vladimir Safatle lembra muito bem que nenhuma das leis relacionadas ao pacote de maldades de Temer foi revogada e isso teria sido um do...