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NA VITÓRIA OU NA DERROTA, FUTEBOL BRASILEIRO RENDE UMA PAIXÃO TÓXICA

ÔNIBUS DESTRUÍDO POR TORCEDORES REVOLTADOS COM O REBAIXAMENTO DO SANTOS FUTEBOL CLUBE PARA A SÉRIE B DO CAMPEONATO BRASILEIRO.

O futebol brasileiro rende uma paixão tóxica, um fanatismo doentio e obsessivo que, no Rio de Janeiro, chega ao nível do assédio moral nas relações sociais e profissionais. Mas, mesmo sem chegar a esse ponto, o fanatismo futebolístico é coisa que rende uma histeria que faz muita gente agir como se fosse um zumbi.

Imagine, por exemplo, você convidar um amigo para passear em Campos do Jordão ou Ouro Preto, cidades com seus lugares bastante atraentes, no dia em que acontece um jogo do Brasileirão. Seu amigo, de repente, passa a ter um semblante estranho e fica grudado no celular ou, indo a um bar, com os olhos presos na tela da TV, para ver aquela partida de futebol de seu interesse. Uma grande falta de educação, é como conversar no celular enquanto acontece uma peça teatral.

O Campeonato Brasileiro de 2023 encerrou com dois casos de muita paixão tóxica. A histeria em torno da vitória do Palmeiras, cujo jogo ainda tinha uma gritaria barulhenta e nervosa dos torcedores, tornou-se intensa com a realização deste resultado, com pessoas chegando a postar esta conquista em perfis que nada têm a ver com futebol. Até páginas relacionadas com profissões publicavam a celebração da vitória do célebre time cuja arena é o Allianz Parque, estádio situado na Barra Funda, em São Paulo.

Se a histeria da vitória de um time faz com que as pessoas não pensassem em outro assunto e invadissem outros ambientes sociais para falar do assunto, imagine então a derrota. Se o próprio Palmeiras, ao perder para o Chelsea numa partida, no ano passado, fez seus torcedores ficarem violentos e eu mesmo vi um torcedor com um semblante pesado de tão rancoroso, o rebaixamento do Santos FC, time que consagrou Neymar e Pelé, para a Série B do Brasileirão, ao perder para o time cearense do Fortaleza, causou um tumulto extremamente violento no entorno da Vila Belmiro.

Torcedores passaram a queimar carros e ônibus (seis foram danificados), feriram onze policiais e depredaram vários lugares da cidade a ponto de causar queda de energia elétrica e Internet. O Centro de Treinamento (CT) do Santos Futebol Clube foi depredado. O repórter da TV Tribuna, Matheus Croce, teve o rosto ferido por uma garrafa de vidro jogada por um torcedor, e o jornalista registrou o próprio ataque que ele sofreu. E um torcedor postou na Internet uma mensagem pedindo o fuzilamento dos conselheiros do Santos, definidos como "tudo mendigo".

A mídia esportiva lava as mãos achando que a violência das torcidas organizadas não tem a ver com a "saudável" euforia do futebol. Tem, sim, e muito. O futebol - que o meio radiofônico trata como se fosse a "religião da emoção" - rende um sentimento puramente tóxico, e isso reflete na obsessão em ver um time sendo campeão, que contamina muitas pessoas, mesmo aquelas que possuem algum escrúpulo ou controle emocional, mas principalmente os que não conseguem ter esse equilíbrio.

Em todo caso, o futebol brasileiro não vive dias melhores e todos os torcedores brasileiros, no fundo, perseguem alguma glória que se perdeu para sempre no passado. Hoje futebol é só mercadoria, comércio, máquina de fazer dinheiro que faz os dirigentes de futebol se tornarem super-ricos e até magnatas árabes comprarem vários times.

Enquanto isso, o grande acervo de filmes do Canal 100, este sim mostrando um futebol bem mais vibrante, pede socorro e necessita urgentemente de uma restauração. Mas a toxicidade emocional do fanatismo futebolístico nem para resgatar a memória do passado do próprio esporte se presta a defender.
 

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