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A COISIFICAÇÃO DAS PESSOAS NA "SOCIEDADE DO AMOR"


É preocupante que a "sociedade do amor", que prometeu derrubar Jair Bolsonaro impedindo sua reeleição, sob a garantia de haver "mais amor, por favor", numa aparente onda de "humanismo democrático" dos últimos anos, esteja na verdade mais preocupada com o consumismo do que com a dignidade humana.

Pessoas ganhando fácil demais em sorteios, concursos e promoções diversos, das loterias aos concursos públicos, em benefícios inesperados, mal conseguem perceber que essas aparentes vantagens são somente testes para avaliar seu nível de generosidade e egoísmo. Na maior parte dos casos, acaba prevalecendo o egoísmo, que contamina até mesmo pessoas que eram pobres mas que, ganhando alguma vantagem financeira, caíram na tentação de puxar o tapete do outro, deixar os concorrentes para trás e fechar a mão contra qualquer necessidade de ajuda ao próximo.

O mercado de trabalho nunca experimentou momento de grande boçalidade e estupidez. E não se fala somente dos tais trabalhos análogos à escravidão, mas dos critérios "objetivos" de contratação de empregados, envolvendo uma equação maluca que combina preconceito etarista com exigência de experiência. Até para fritar ovo se exige experiência, funções simples que poderiam ser ensinadas pela empresa contratante em até um ou dois meses, se exige trocentos anos de trabalho.

Nossa sociedade ainda está apegada a antigos valores, como se ainda estivéssemos sob o governo do general Ernesto Geisel. Paradigmas de religiosidade, mérito social, valores culturais e até nas formas de lazer e entretenimento ainda mostram regras sociais que parecem mais adequadas para um país regulado pelo tenebroso Ato Institucional Número Cinco, o AI-5, que inspira até o terror digital e supostamente jovial do "tribunal da Internet".

As pessoas se tornaram "coisas". Sejam bolsonaristas, lulistas ou os "isentos" que embarcarem nesse mesmo sistema de valores. Muito consumo, menos cidadania. Pessoas se achando no direito de ter o supérfluo, pouco ligando para aqueles que precisam do necessário e vivem o pesadelo econômico de acumular dívidas, não poder arrumar emprego e ver o dinheiro acabando na sua caixa.

Enquanto isso, vemos pessoas não abrindo mão de sua cerveja, bebida em doses diluvianas. Ou do cigarro, que faz muito neo-mauricinho de barba e pose de maioral fumar na rua. Famílias viajam para o exterior já com vontade de voltar, pois são as mesmas viagens para Paris, Bariloche, Cancun e Orlando, passeios rotineiros que já não dão prazer e só são feitos para causar impressão nos parentes e amigos.

Há também festinhas de aniversário toda semana, na verdade fachadas para as mesmas festas de churrasco, picanha, cerveja e tubaína (esta para a garotada) animadas com muito sambrega, sofrência, "funk" e piseiro e que, de tão rotineiras, já nem trazem alegria, muito pelo contrário, pois a frequência das festas acaba gerando abusos, estresses e as brigas vão surgindo no decorrer do tempo.

Lula governa mais para aqueles que passam a madrugada rindo alto, fazendo barulho e contando piadas sem graça (que só eles acham engraçadas) e fofocas pessoais de madrugada. Que se dane o trabalhador que precisa dormir cedo, não só para trabalhar no dia seguinte, mas para caminhar cedo no feriado ou fim de semana ou, no caso de quem realmente viaja por prazer, embarcar no ônibus cuja passagem é mais barata para o horário de viagem mais cedo.

Com a "sociedade do amor" - que, sem medo e sem amor, só tem esse nome para se contrapor ao ódio bolsonarista - , as pessoas viraram "coisas", com o hedonismo desenfreado escravizando instintos, com o corpo livre escravizando a alma, a liberdade do corpo fazendo a consciência prisioneira dos impulsos humanos, uma "liberdade" nada livre, dominada por emoções baratas.

A ocasião é, portanto, de apenas consumir, consumir, consumir, e é esse pessoal que, com o tempo disponível para consumir (sim, novamente esta palavra) as redes sociais, é o que mais boicota o pensamento crítico, evitando ler textos que destoem de suas linhas simplórias de compreensão.

Nunca a realidade humana foi tão desprezada. Nunca os dramas humanos foram tão criminosamente ignorados, quando, fora das bolhas lulistas, pessoas acumulam dívidas e precisam comer em restaurantes populares que vendem almoço a um real para segurar por algumas semanas o dinheiro que se esgota sem se renovar.

Nunca se viu um mercado de trabalho tão vil. Corretores de imóveis trabalhando de graça até conseguirem sua primeira venda. Empresários arrivistas como os únicos que aceitam gente talentosa, usada como trampolim para os empregadores irresponsáveis. 

Enquanto isso, quem deveria empregar gente talentosa se alterna entre a exigência absurda de candidatos com "menos idade e mais experiência" e gente "divertida" para "interagir com os colegas", sem temer que é nesses casos que surgem escândalos de assédios morais e até sexuais.

Há papelarias que, na discriminação etarista, preferem contratar fumantes de 30 anos de idade, supostamente com "mais energia", do que candidatos saudáveis de mais de 50 anos, com força para carregar estoques de novos produtos. E há empresas de Comunicação contratando comediantes e influenciadores que roubam o emprego de jornalistas, mentindo quanto à suposta "longa carreira jornalística" de quem fica apenas fazendo stand up comedy e fala bobagens no YouTube e Instagram.

Tudo apenas é voltado para o consumo, a festa, a positividade tóxica que se tornou a doutrina maior dessa "sociedade do amor" que não quer saber de qualquer tipo de uso proveitoso e aprofundado do cérebro, pois agora o lulismo usa o coração como "lugar de raciocínio", alegando que fica mais próximo para combater o fígado que é o "local de pensamento" dos bolsonaristas.

Mas em ambos os casos o cenário é vexaminoso e, dentro desse "admirável mundo novo" à brasileira, onde os privilegiados, salvo exceções, são falsamente generosos, escondendo seu egoísmo cotidiano, há um Brasil que não faz parte do clubinho lulista, do "Brasil único" em que "todos são um, mas uns são mais únicos do que os outros".

Um Brasil humano, que se emociona, que se indigna, que pensa, que precisa comer e pagar as contas, que considera que na vida nem tudo é festa, nem tudo é gandaia, um Brasil que não é "samba, suor e cerveja", esse Brasil grita em vão, pois a "sociedade do amor" faz muito barulho para abafar os dramas alheios.

A cada vez até universitários e uma parcela de profissionais liberais de renda sofrível - se é que conseguem ter alguma renda, como os corretores de imóveis que só dependem de comissão, impedidos até de trabalhar em condições dignas até que o "sim" de um cliente, o que é raríssimo, lhe salve da miséria - frequentam restaurantes de comida a R$ 1, enquanto os "bem de vida" premiados de forma "inesperada" por concursos públicos, sorteios de promoções e loterias, vão comprando grandes pratos de comida para jogar fora depois de algumas garfadas.

Vivemos esses anos loucos, mais loucos do que os anos 1920 dos EUA. E essa loucura brasileira, de tão insana e frenética, pode trazer 1929 mais cedo para nosso país. E, com Bolsonaro e Moro virtualmente mortos politicamente, um Milei possa emergir do nada numa futura crise brasileira. 

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