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TRINTA ANOS DE UMA NOVELA DA PESADA

A PRIMEIRA VERSÃO DE A VIAGEM "PRESENTEOU" OS FUNCIONÁRIOS DA TV TUPI COM A FALÊNCIA DA EMISSORA.

Triste país em que executivos de TV e empresários do entretenimento montam uma falsa nostalgia, forjando valores e fenômenos falsamente cult para enganar as novas gerações, que levam gato por lebre com esse pseudovintage feito para lacrar nas redes sociais. Vide a gourmetização da mediocridade musical com, por exemplo, Michael Sullivan, Chitãozinho e Xororó e É O Tchan, nomes que deveriam cair no esquecimento público, pelas obras deploráveis que fizeram.

Na dramaturgia, a coisa não é diferente num país em onde Caio Ribeiro, Luva de Pedreiro e um tal de Manoel Gomes (do sucesso "Caneta Azul") são considerados cult e hit-parade é confundido com vanguarda, qualquer coisa pode ser alvo dessa "nostalgia de resultados " que transforma o Brasil no Olimpo da idiotização cultural.

A coisa chega ao ponto de uma novela infeliz, com temática mais medieval do que Game of Thrones, ser alvo desse saudosismo pré-fabricado que só empolga a elite do bom atraso, essa burguesia ilustrada e de chinelos que se acha "dona de tudo", privatizando tanto a cida humana para as mãos dessa classe que ela agorra precisa da ajuda do Estado forte para financiar suas vidas e manter as grandes fortunas em dia.

Trata-se da novela A Viagem, baseada num pavoroso livro "mediúnico" do abominável "médium da peruca", claramente plagiado de uma obra de um reverendo inglês mas que os trouxas do Brasil pensam ser o "relato realista do mundo espiritual". A novela, na versão produzida pela Rede Globo de Televisão, conpleta 30 anos sob uma campanha falsamente nostálgica e pseudocult.

A primeira versão da novela, lançada em 1975 pela TV Tupi, mostra o quanto este estelionato moral chamado Espiritismo brasileiro é um manancial de mau agouro, próprio do "médium da peruca" do qual os brasileiros, mesmo aqueles com um pingo de seriedade, adoram passar pano.

Pois o efeito da novela é devastador. Gravada no bairro da Casa Verde, em São Paulo, a novela da Tupi fez o bairro parar no tempo, a ponto de seus moradores não terem direito a curtir a capital paulista, dificultados até a ir de ônibus direto para o Parque Ibirapuera, pois a linha que passa perto deixa de circular nos fins de semana e feriados. O bairro da Casa Verde ficou tão atrasado que ele mais parece um bairro suburbano perdido de Osasco ou Guarulhos.

Mas o maior efeito dessa "linda estória" foi o fim da TV Tupi, desfecho que não se deu sem dor, choros nem ranger de dentes. A falência dos Diários Associados fez com que o grupo, há mais de uma década depois do falecimento de Assis Chateaubriand, o Chatô, enxugasse seu patrimônio, fechando a rede de TV Tupi, que exigia muitas despesas.

Funcionários fizeram protestos, greves e vigílias em 1980 diante das demissões em curso. Muita gente foi para o olho da rua. Talvez nossos sorridentes "espíritas", que sorriem até quando alguém está prestes a cair de um abismo, sugiram aos demitidos da TV Tupi a enviar currículos para fornecedor de sopinhas em Nosso Lar.

E Chatô foi também vítima indireta da novela global, pois um de seus atores, Guilherme Fontes, decidiu ser cineasta e enfrentou adversidades graves em dimensões kafkianas para terminar o filme Chatô - O Rei do Brasil, que só foi lançado em 2015, cerca de duas décadas após o começo da produção. E, infelizmente, como a religião "espírita", que é o Catolicismo medieval de botox, tem um lobby danado entre os famosos, Guilherme Fontes, em vez de reclamar do mau agouro da novela em que participou, resolveu passar pano e embarcar nesse falso saudosismo de lacração.

É por isso que o Brasil não vai para a frente. E ainda há quem acha que nosso país vai para o Primeiro Mundo...

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