EX-MINISTRO E AMIGO DE LULA, JOSÉ DIRCEU TEVE QUE ADMITIR, A CONTRAGOSTO, QUE O ATUAL GOVERNO ESTÁ FOCADO NA CENTRO-DIREITA.
O Brasil vive um momento muito sinistro, com a "sociedade do amor", sem medo e sem amor, mostrando seu apetite voraz de animais selvagens do consumismo frenético, tanto que, recentemente, um passageiro da Empresa Nossa Senhora da Penha, famosa empresa de linhas rodoviárias de ônibus de Curitiba, teve a infeliz ideia de fumar um cigarro dentro do veículo e provocar, em seguida, um incêndio.
Isso é ilustrativo, para uma classe que adora fumar cigarros e consumir cervejas de maneira neuroticamente obsessiva, aproveitando o "bom momento" em que os que ganham demais na vida esbanjam profundo egoísmo, ao mesmo tempo recusando ajudar quem mais precisa e cobrar demais de quem não tem o que pagar. Uma "boa" sociedade, a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos que joga comida fora, joga papel no chão, fala português errado e ainda quer introduzir "dialetos" em inglês no seu vocabulário rasteiro, meio Faria Lima, meio Festa de Barretos com um pouco de Maracanã e Circuito Barra-Ondina da axé-music.
Pois o governo Lula, que finge estar ignorando a classe média abastada, na verdade sempre governou, neste atual mandato, para ela. Hoje é essa elite invisível a olho nu, descendente de escravocratas, bandeirantes e latifundiários, que se configura como uma burguesia festiva, que aproveita que Lula virou o Papai Noel da Faria Lima para esbanjar seu egocêntrico privilégio de classe, se enriquecendo de maneira crescente, enquanto, culturalmente, nosso país afunda na bregalização musical mais rasteira, com o som popularesco monopolizando todos os lugares.
O Ministério da Cultura é capaz até de financiar as festinhas de aniversário disfarçadas de "eventos culturais", festas que contam com subcelebridades e até alguns famosos com algum talento mas que conseguem a visibilidade plena porque, coincidentemente, embarcam no mercadão dos factoides. E o entretenimento virou um milharal de grandes fortunas, com super-ricos surgindo feito pragas no alpinismo social que disputa a lista dos 100 brasileiros mais ricos da Forbes.
Cada vez mais gente sem talento ganha dinheiro demais, enquanto o Brasil de quem é sensível, que utiliza o cérebro, que trabalha duro em troca de poucos tostões, que tenta arrumar seu cantinho miserável num calçadão de uma cidade qualquer, ou de gente solitária que fica em casa nas noites de fins de semana, esse Brasil realmente excluído, e excluído do "Brasil único" de Lula, está sofrendo horrores, vendo o dinheiro sumir de suas mãos e de suas contas.
Mas esse Brasil não é o Brasil de fantasia de Lula, com pobres caricatos de novelas e comédias, com a classe média abastada, com as classes identitárias, todo mundo vivendo do consumismo, do entretenimento, da festa sem fim orquestrada pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Lula quer unir o Brasil mas não consegue, pois seu projeto político só aceita o Brasil festivo, consumista e sem reclamações, deixando de fora o outro Brasil que já chegou a receber tratamento digno, e foi nos tempos de Juscelino Kubitschek, há cerca de 65 anos.
Lula faz um governo de centro-direita, alternando políticas econômicas de caráter abertamente neoliberal - apesar das narrativas do governo que tentam desmentir isso - com assistencialismo. De um lado, uma industrialização tradicional que é até válida, mas que dificilmente fará do nosso país uma potência. De outro, medidas sociais de caráter paliativo, que não enfrentam os problemas crônicos das classes populares, presos a um sistema de valores velho e antiquado.
O próprio José Dirceu, que foi ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula, teve que admitir que o presidente brasileiro, em seu atual mandato, está voltado a um projeto de centro-direita, esclarecendo que se trata da "exigência do momento". Não há como esconder isso, pois Lula voltou muito estranho, aumentando ainda mais as concessões à direita que, nos mandatos anteriores, era relativamente contida e condicional. Lula cada vez mais escancara sua aliança com a centro-direita, a ponto do PT, agora, ser apelidado pelos críticos pelo nome de "Partido dos Tucanos".
"O governo Lula foi eleito nessas condições e não montou um governo de centro-esquerda, não. Ele montou um governo de centro-direita. Eu falo isso e todo mundo fica indignado, às vezes dentro do PT. Isso é exigência do momento histórico e político em que nós vivemos", disse Dirceu, em tom de lamento.
No entanto, com a repercussão da declaração, José Dirceu, temendo ser visto como um "Ciro Gomes da vez", pediu para sua assessoria corrigir, dizendo que Lula faz "um governo de centro-esquerda, mas apoiado por partidos de direita". A nota também diz:
"Sua fala se deu no contexto de análise da atual polarização política, reforçando a ideia de que o governo se pauta pelo diálogo, com o ingresso de partidos como PP e Republicanos - 'uma exigência do momento histórico em que vivemos'".
Mas a prática mostra que Lula faz, hoje, um governo de centro-direita, mesmo. Por mais que Lula tente jurar de pés juntos que não fez concessão alguma para sair da prisão, a prática diz que ele concedeu, sim. Quem acompanha este blogue sabe que Lula cometeu muitas estranhezas, e é isso que faz o outrora maior líder popular dos últimos 50 anos perder popularidade.
Só na semana passada, Lula decepcionou um considerável número de segmentos das classes populares: professores, servidores públicos, indígenas, camponeses e pequenos agricultores e cientistas e pesquisadores em geral. Se a frustração destes seguir adiante e se tornar irreversível, adeus reeleição de Lula. Os indígenas admitiram terem voltado atrás e aceitam negociar com Lula, mas mantém as cobranças de agilidade na demarcação de terras.
O próprio Lula não agrada com sua postura de quem não dá explicações, de quem despreza críticas, de quem decide à revelia de advertências e conselhos alheios, e só é movido pelos seus impulsos pessoais. Lula sinaliza que abandonou o povo brasileiro, e isso se vê no cotidiano de qualquer lugar, quando até os nordestinos, que se supunha serem fiéis ao presidente, estão se decepcionando e até ficando revoltados com o jeito "monalisa" do chefe da nação.
Lula prometeu um governo "mais à esquerda", mas acabou oferecendo o contrário, um governo neoliberal que só favorece quem está cheio da grana. O povo é só um detalhe, o pobre é só uma palavra solta da boca de Lula.
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