Em 2004, uma tese absurda foi defendida pelos fãs da Rádio Cidade e 89 FM, supostas rádios de rock do Rio de Janeiro e de São Paulo, respectivamente. Eu havia questionado o fato de que as duas rádios eram feitas por radialistas sem especialização de rock e citava até um locutor, Rhoodes Dantas, que afirmava que nunca gostou de rock.
Aí, os fanáticos defensores das duas emissoras, provavelmente combinando uma resposta em conjunto para forjar "unanimidade", vieram com a besteira de dizer que é por não gostar nem entender de rock que o radialista se torna um melhor profissional.
O pretexto era de que gostar e entender de rock era visto como "masturbação" e que, por isso, o cara "de fora" teria "maior imparcialidade" para trabalhar o gênero, como se não entender nem gostar de rock pudesse "abrir mais a mente" para uma programação "mais consistente".
Na teoria, tudo parece lindo. Só que na prática, é uma das visões mais preconceituosas e estúpidas que se pode ter. E, na prática, reflete na repetição e na mesmice que as duas rádios fazem, que praticamente reduzem a divulgação dos grandes nomes do rock a um ou dois sucessos manjados.
Com tanto repertório de rock, é humilhante que, por exemplo, o Deep Purple só seja lembrado por "Smoke on the Water". Ou o Cult, com "She Sells Sanctuary" e "Revolution". Isso é uma grande falta de respeito, antes as duas "rádios rock" nem tivessem voltado. Fica a impressão de que, se elas pudessem tocar "sertanejo", estariam tocando muito mais músicas.
Gostar e entender do que faz é regra para qualquer trabalho. Se você não entende nem gosta do que faz, você não fará o trabalho da melhor maneira. O papo de "imparcialidade" é furado, porque na verdade o que existe é a subordinação às normas pré-estabelecidas e uma insegurança e incompetência de ir além da rotina profissional padrão.
O profissional que não entende do seu ofício nem gosta dele não tem imparcialidade. Tem insegurança. Ele só faz aquilo que lhe cabe fazer, mas cumpre as regras quase que como um robô. Na melhor das hipóteses, é um profissional insosso, que não prejudica a empresa mas também não tem o menor diferencial nem a faz progredir.
Só que, em muitos casos, o "correto" profissional que não entende nem gosta do que faz se perde, quando um imprevisto surge. Aí ele é incapaz de contornar a situação, e geralmente é o entendedor mais experiente que é chamado para contornar uma crise ou um problema, enquanto o "bom profissional" que não entende nem gosta do que faz é deixado de lado.
No radialismo rock, os "bons profissionais" que não entendem nem gostam de rock não conseguem sacar o que é bom e promissor no gênero. Não percebem se uma música é boa, porque a mentalidade deles é preconceituosa. Se não está na Billboard e não é o "sucesso" que as gravadoras determinam, não presta.
Com isso, as "rádios rock" dão uma demonstração do que é um péssimo profissionalismo, discriminando músicas e artistas interessantes que "não fazem sucesso" e deixando de acompanhar dignamente o trabalho de um artista de rock, se limitando apenas a tocar um ou dois hits consagrados, geralmente muito antigos.
E isso chega ao ponto das gafes. Afinal, a rapaziada animadinha que opera as "rádios rock", quando artistas solo como Mark Knopfler e David Gilmour fazem turnê no Brasil, se limitam a tocar poucos e velhos hits de suas respectivas bandas, e ignoram completamente seus novos trabalhos solo.
Quando eles vieram divulgar seus novos trabalhos, as "maravilhosíssimas rádios rock" se limitaram a tocar apenas sucessos dos Dire Straits - "Sultans of Swing", "So Far Away", "Money For Nothing", "Walk of Life" e "Lady Writer" - e Pink Floyd - "Time" e "Another Brick in the Wall (Part 2)", o que é um grande "mico".
Depois a gente reclama e o pessoal não gosta. As duas rádios já tiveram seu "exército de trolls" que simplesmente "queimaram" as duas emissoras, há exatos dez anos. E mostram o quanto elas são antiprofissionais, porque o bom trabalho sempre é feito por quem entende do ramo e por quem realmente gosta dele.
Portanto, não há como esperar imparcialidade e profissionalismo em um bando de locutores poperó e coordenadores "sertanejos" que operam essas supostas rádios de rock. Como também não se espera, em qualquer outro trabalho, que pessoas "de fora" possam trazer alguma criatividade e isenção. Quem não entende nem gosta do que faz sempre corre o risco de fazer errado e cometer gafes absurdas.
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