O autor, diretor e produtor teatral Cláudio Botelho cometeu uma grande ofensa, e, também, uma grande gafe. Durante a encenação da peça Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos, o ator fez vários discursos de improviso durante a peça, que mistura trechos da obra do compositor carioca feitas para o cinema e teatro.
Foi ontem à noite, no Palácio das Artes do SESC, em Belo Horizonte. Cláudio despejou um comentário reacionário, com alusões racistas, e mostrando todo o ódio contra Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
"Será que todo mundo vendo a novela da 20 horas ou esperando a notícia de um presidente que foi preso? Ou será que a presidente está esperando seu impeachment?", foi uma das frases inseridas numa cena em que um grupo de pessoas chega a uma cidadezinha.
Ele havia feito uma série de ataques ao Partido dos Trabalhadores, ao ex-presidente Lula e à presidenta Dilma. Nos discursos inseridos, Cláudio sugeria a prisão de Lula e o impedimento de Dilma, que ainda foi chamada de "ladra".
Isso causou revolta na plateia, que gritou o prenome de Chico Buarque e frases como "Não Vai Ter Golpe" e, com muitas vaias e gritos, expulsaram Cláudio Botelho de cena, que foi obrigado, com seu elenco, a encerrarem a peça de forma abrupta.
O espetáculo foi cancelado. Algumas pessoas pediram a devolução do dinheiro dos ingressos. Botelho ainda teve uma discussão com a atriz e cantora Soraya Ravenle, integrante do elenco, que foi gravado em um vídeo publicado hoje. Botelho estava profundamente irritado por ter encerrado a peça sem completar a encenação. Ela expressou sua discordância com a atitude do ator e diretor.
"Eles não são neofascistas, neonazistas, são escrotos, são petistas, são o que há de pior no Brasil. São o que há pior no Brasil!", gritou Botelho, indignado com os protestos da plateia. Botelho ainda gritava dizendo que os membros da plateia "são bandidos, gente armada" e se achava injustiçado por ter sido forçado a encerrar uma peça no meio.
"Essa gente chega e peita um ator que está em cena. Um ator que está em cena é um rei, não pode ser peitado. Não pode ser peitado por um 'nego', por um filho da puta que está na plateia. Eu estava fazendo uma ficção", disse o ator e diretor, sugerindo um comentário racista usando a palavra "nego". Botelho tentou desmentir depois, dizendo que a palavra foi usada no sentido de "uma pessoa qualquer".
Exaltado, Botelho tentou comparar a ditadura ao PT ("em 1967 os militares barraram Roda Viva, hoje o PT barrou Roda Viva") mas se esqueceu da sua postura golpista. Além disso, Botelho se esqueceu da própria postura de Chico Buarque de Hollanda. Botelho ainda se considerou "censurado" pelos petistas. Além de ofensa e gafe, Botelho cometeu uma grande incoerência.
CLÁUDIO BOTELHO IGNORA QUE CHICO BUARQUE É AMIGO DE LULA E DILMA ROUSSEFF.
Uma declaração do professor de geografia Silvânio Fortini lembrou bem a postura do compositor: "O que me indignou foi ele (Cláudio Botelho) se apropriar da obra de Chico Buarque, um cara que hoje vive sendo achincalhado por suas posições políticas, para defender o contrário do que ele propõe. Acho que ele não sabe com que obra está lidando. Isso me indignou, além de ele ter agredido a plateia."
O próprio compositor ficou indignado com a atitude de Cláudio Botelho, reagindo com espanto e muito desagrado. Sabe-se que Chico Buarque é filiado ao PT, é muito amigo de Lula (colega de Chico nos jogos de futebol) e Dilma Rousseff. Chico é o que mais deseja a permanência de Dilma no governo e a garantia de posse de Lula como ministro da Casa Civil.
Diante do que Botelho fez na peça, Chico Buarque decidiu, através de comunicado divulgado por sua assessoria, não mais autorizar o diretor teatral a usar qualquer obra do compositor. Só o filme Os Saltimbancos Trabalhões - Rumo a Hollywood, com direção musical de Botelho, foi mantido em pé, por consideração a outros membros da equipe técnica e do elenco.
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