É notória a gafe de uma reportagem sobre "funk" publicada em Caros Amigos, em 2009, quando a jornalista escreveu que o funqueiro Mr. Catra "seguia invisível às corporações da grande mídia". Naquela época, Mr. Catra, em rede nacional, se apresentava para ninguém menos que o "rei da visibilidade" Luciano Huck, apresentador do badalado e bem visto Caldeirão do Huck.
Huck, amigo de Aécio Neves e filiado ao PSDB, é um dos maiores divulgadores do "funk" no Brasil, o que faz com que setores das esquerdas ainda não tenham digerido a ideia de que o ritmo carioca - agora com "sucursal" paulista, o "funk ostentação" - sempre foi um aliado das corporações midiáticas, e não o contrário.
Antes que as esquerdas estarem oficialmente associadas ao "discurso socializante" do "funk", essa retórica foi toda armada pelas Organizações Globo e pelo Grupo Folha, os artífices desse discurso todo de "cultura das periferias", "expressão do povo pobre" etc.
É só localizar as edições de O Globo e da Folha de São Paulo, dos anos de 2004 e 2005, e verá que esse discurso de ver o "funk" como um "ativismo sócio-cultural" não tem a ver com bolivarianismo ou coisa parecida.
O "funk" é música de mercado, pop comercial mais rasteiro, e está a serviço da chamada "sociedade do espetáculo". Esse discurso de "ativismo sócio-cultural" foi armado pela Globo e Folha para impedir o verdadeiro ativismo social das classes populares e isolar o verdadeiro debate público para uma pequena parcela de lideranças e ativistas.
REVISTA VEJA, QUE CRIMINALIZA OS MOVIMENTOS SOCIAIS, FEZ ALTOS ELOGIOS A FUNQUEIROS COMO MC GUIMÊ.
Criou-se até um simulacro de ativismo comunitário aqui e ali, como se o "funk" estivesse "sintonizado" com os debates públicos nos movimentos sociais. Mas até a APAFUNK nada seria se não fosse o cineasta José Padilha, direitista assumido e que havia apadrinhado a organização assim que pôs, no filme Tropa de Elite, o "Rap das Armas", de MC Júnior & MC Leonardo.
Foi graças a José Padilha, que anunciou que vai fazer um filme sobre a Operação Lava-Jato, usando, é claro, a abordagem da grande mídia reacionária, com Sérgio Moro transformado em "herói" e tudo, que MC Leonardo obteve visibilidade e foi fundador e primeiro presidente da entidade funqueira.
O vínculo do "funk" com a grande mídia é notório. Nos aspectos gerais, ele gira em torno de uma parcela da mídia direitista mais flexível, nas quais se incluem a Folha de São Paulo e a Rede Globo de Televisão, que abordam as classes populares de maneira espetacularizada.
Entre 2003 e 2005, portanto os primeiros anos da Era Lula, as Organizações Globo reagiram à vitória de um líder popular com a espetacularização das periferias pelo "funk", em que quase todos os espaços e veículos da corporação dos irmãos Marinho faziam alguma propaganda do "funk".
Até o Casseta & Planeta criaram personagens funqueiros que serviriam de "escada" para a "superioridade artística" dos funqueiros: MC Ferrow & MC Deu Mal. O "funk" até apareceu no Canal Futura, através da presença do one-hit wonder MC Leozinho no programa de Jairo Bouer.
Foi nessa época que Mr. Catra, o funqueiro de não-sei-quantos filhos, apareceu no Caldeirão do Huck, junto ao apresentador tucano líder em visibilidade nacional. Em rede transmitida para todo o país, a aparição de Mr. Catra numa grande corporação de mídia só foi invisível para a imaginação da repórter de Caros Amigos.
Outro detalhe é que, pouco depois do "mais bacana" dos intelectuais "bacanas", Pedro Alexandre Sanches, tratar o funqueiro MC Guimê como "revolucionário" - delirantemente, o farofafeiro chegou a dizer que o ídolo do "funk ostentação" seria "o novo João Gilberto" - , o supertatuado rapaz (que, como fenômeno de mídia, tenta ser um arremedo politicamente correto do Eminem), apareceu em nada menos que a capa da revista Veja.
Sim, a revista Veja, conhecida pela sua linha altamente reacionária, que chega mesmo a ser anti-jornalística, tratando os funqueiros de forma bastante elogiosa. MC Guimê apareceu na capa de uma edição, ilustrando uma reportagem bastante elogiosa e positiva a ele.
O "funk" sempre teve boa cotação entre os barões da grande mídia. Quando ia a seus veículos, se apresentava como vitorioso e triunfante, com "sucesso merecido". Quando ia à mídia de esquerda, o "funk" fazia sua "choradeira", posando de vítima, para forçar o apoio dos esquerdistas e, depois, apunhalá-los pelas costas, voltando ao establishment midiático abraçados a seus poderosos chefões.
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