Pular para o conteúdo principal

JÁ PENSO OS 50, 60 ANOS


A "turma" de empresários, executivos e profissionais liberais que é de seis a um ou dois anos mais velha do que eu já chegou aos 45 e uns aos 50 antes de mim.

No entanto, esses homens, trancados nos seus escritórios, vivendo entre seus ambientes de trabalho e os eventos formais, apenas tropeçaram nas idades e agora recuam diante da pressa da maturidade.

Vejo eles vestindo e tentando parecer dez anos mais jovens, enquanto são impotentes de mostrar uma experiência de vida à altura de suas idades.

Viveram entre os escritórios ou consultórios e as festas de gala, como corredores de Fórmula 1 que ficaram tempo demais no pit stop ou partiram antes de se dar o sinal de largada.

Nasci em 1971. Mas não é segredo algum para mim o mundo dos anos 1950 e 1960. Já sentia falta dos anos 1960 quando eu tinha apenas dois anos de idade, em 1973.

Não acho impossível observar as coisas longe do berço. Só que isso não é tarefa de qualquer um.

Vide o saudoso Umberto Eco, especialista da Idade Média. Ou o jornalista Ruy Castro, nascido em 1948, mas capaz de se especializar nos anos 1930 e 1940 de maneira impecável.

Mas isso não é tarefa que profissões liberais ou empresariais garantem de bandeja, nem os bailes de gala que ocorrem na alta sociedade.

Pelo contrário. Vejo pessoas impotentes, incapazes de recuperar valores culturais dos tempos em que juram terem vivido como adultos, mas eram apenas simples crianças pequenas.

Os homens, nascidos nos anos 1950, crianças nesse tempo, mas que juram hoje terem sido adultos a ouvir Frank Sinatra e a se reunir com Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues, Sérgio Porto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes nos bares de Ipanema, em 1958.

Como se reunir com eles em 1958, tendo cerca de quatro, cinco ou cerca de oito ou dez anos em 1958?

E os homens nascidos nos anos 1960, crianças nesse tempo, mas que procuram pautar seus referenciais culturais como se fossem adultos de 1969 a observar à distância a farra da Nação Woodstock.

Como, tendo cerca de um, dois, quatro ou mesmo zero ano de idade, ou talvez estando na barriga da mãe para compreender esse tempo todo?

Existem pessoas que vivem festas e agitos durante a madrugada, mas que não guardam lembranças dessas horas em que viveram.

E existem pessoas que dormem a madrugada toda, mas têm facilidade para perceber o que nela ocorreu e até conseguem ouvir alguns barulhos que percorrem seus sonhos dorminhocos.

Eu, com oito anos de idade, já observava a vida aos 16 anos. Com 12, 15, já sabia o que era ter 18 anos de idade. Com 22 anos já sabia o que é ter 30 anos.

Hoje, com 45 anos, vejo a vida aos 47, 48 anos, aos 50, aos 60 anos. Fico pensando nessas vidas o tempo todo, como há tempos eu imaginava o que era ter 45 anos.

E, por incrível que possa parecer, sou bastante jovial. Continuo essencialmente o mesmo que era aos 15 anos, com as mudanças que me foram necessárias adotar, mas sem me preocupar com "papéis determinados" a viver em cada faixa etária.

Vejo empresários, executivos e médicos, economistas e advogados que exercem cargos de comando no trabalho, se comportando de forma humilhante na hora do lazer.

Sua incompreensão com o lazer e a necessidade de diversão é muito mais atrapalhada do que a incompreensão de jovens estagiários que desempenham um trabalho pela primeira vez.

Vejo homens de 48 anos, verdadeiros patrões no trabalho, perguntando a rapazes de 14 como se diverte na vida.

Vejo homens de 47, 49, 50 anos reformulando vestuários, mudando o comportamento, reinventando o lazer, mudando dietas e tudo o mais.

Em outros tempos, gente dessa idade já realizava palestras e procurava ensinar coisas.

Hoje, salvo honrosas exceções, eles já não são capazes de ensinar coisa alguma.

Fora de seus escritórios e consultórios, homens de até 65 anos se comportam mais como aprendizes, e talvez até necessitassem fazer o ENEM e reingressar nas faculdades.

Eles são apenas jovens enferrujados que queriam ser velhos por antecipação.

Mas, na hora de exprimir lições, viraram apenas plágios pálidos do que seus pais eram outrora.

Isso porque a overdose de negócios e eventos formais corromperam sua compreensão.

Isolados em escritórios e consultórios, eles viveram a ilusão de estarem à frente de um mundo em curso.

Pelo contrário, o mundo é que os ultrapassou fora de suas quatro paredes.

Eu, felizmente, não tive a "oportunidade" de me fechar em escritórios ou consultórios e acompanhar o mundo girando.

Tive sorte de saber observar de longe as coisas. Não sou sábio, mas procuro me informar bem das coisas.

Daí que penso os 50 e 60 anos, me prevenindo das armadilhas da vida. E preparado para quando empresários de 47 e 48, quando completarem 50 anos de idade, me perguntarem o que é a vida aos 50 anos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...