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COMO FORJAR UM FALSO SUCESSO NO EXTERIOR


O brega-popularesco consegue fazer sucesso no exterior? Segundo a deficitária e provinciana mídia "popular" brasileira, não só consegue como deixa o mundo ajoelhado aos pés dos ídolos do momento. O discurso, tão badalado e causando euforias aqui e ali, não passa de uma falácia. Por quê?

Porque se trata da velha conversa de pescador. O ídolo se apresenta em locais de segunda categoria para uma plateia de imigrantes brasileiros e volta inventando que conquistou o mundo, que deixou os gringos se ajoelhando aos pés, tudo para tentar impressionar o povo daqui da "roça".

Essa lorota sempre acontece com algum sucesso radiofônico, e já fez a festa de muito funqueiro surgido do nada, desconhecido até mesmo no Rio de Janeiro ou em São Paulo - no caso do chamado "funk ostentação" - , e que é empurrado prematuramente para fazer turnê na Europa quando nem na sua cidade natal consegue ter algum sucesso.

O mais recente caso foi o de Wesley Safadão, que ficou se achando porque se apresentou nos EUA. Ele voltou para casa feliz da vida, escondendo, no entanto, que se apresentou apenas para um grupo de imigrantes e turistas brasileiros, estes vindos através de promoção de rádio, TV, agência de viagens e o escambau. Os gringos nem estavam aí para o ídolo do "forró eletrônico" cearense.

A grande prova de que esse sucesso não passou de uma mentira será quando passarem os meses e ninguém mais falar no assunto. Será o mesmo que o caso do falso sucesso mundial de Michel Teló, tanto mimimi em torno de uns poucos jogadores de futebol dançando ao som de "Ai Se Eu Te Pego" e alguns intelectualoides bacanas ruminando falso esquerdismo (como Pedro Alexandre Sanches escrevendo que Michel Teló fazia "bolivarianismo musical").

Em outras palavras, o caso Michel Teló como "líder mundial" morreu na praia, e houve até momentos em que ele teve que cancelar apresentação por falta de público. Certamente, os brasileiros não iriam deixar de ver um "cidadão do mundo", não é mesmo? Os fracassos que estão por trás de tantos bregas empurrados para o mundo (só Morris Albert se deu bem) dariam um longo livro.

Mas a gente fica pensando o que faz a "indústria cultural" brasileira empurrar tantos ídolos do brega-popularesco para o exterior. Identificamos alguns mecanismos que envolvem todo esse processo de fabricar um "sucesso mundial" que só existe na imaginação da mídia brasileira. Vamos lá.

1) O EMPRESÁRIO DO ÍDOLO POPULARESCO ALUGA, PELA INTERNET, UM PACOTE DE CASAS DE ESPETÁCULOS PARA SEU CLIENTE SE APRESENTAR NO EXTERIOR

Geralmente, são casas de espetáculos de segunda categoria, na melhor das hipóteses. O empresário do ídolo popularesco é cheio da grana - não adianta a intelectualidade "bacana" dizer que é uma música de gente pobre, porque não procede - e resolve comprar esse pacote de boates, que tanto podem ser todas localizadas num país, como os EUA, como em vários países, como na Europa.

A partir daí, é só agendar as viagens para o ídolo se apresentar no exterior.

2) COMUNICAR RÁDIOS E OUTRAS MÍDIAS E FAZER PROMOÇÕES PARA OUVINTES E FÃS DO REFERIDO ÍDOLO

A ideia é fazer uma promoção do tipo "Está a fim de ver cantor Fulano se apresentando no exterior?", que geralmente uma rádio "popular" lança todos os dias. Aí, só para não causar estranheza, criam-se sorteios para cada ouvinte ou número restrito de ouvintes, ao longo da programação, para não entregar que se trata de uma multidão de beneficiados.

Dessa forma, os passageiros que lotarão a plateia da apresentação do tal Fulano serão contemplados aos poucos, de hora em hora, dia após dia, e sem que alguém note, se faz uma "multidão" que irá ao exterior fazer o papel de falsos gringos que farão a festa da imprensa falaciosa.

3) ENTRAR EM CONTATO COM IMIGRANTES NAS ÁREAS ONDE HAVERÁ APRESENTAÇÃO

Contatos desse tipo são feitos de diversas formas. Na Internet, na mídia ou mesmo por via diplomática, comunicando aos consulados sobre o evento e combinando com eles a divulgação de cada apresentação.

Dessa maneira, é convidada mais gente para preencher a plateia e fazer a encenação do público gringo, que neste caso é mais verossímil, porque são brasileiros que vivem no lugar estrangeiro e, por isso, conhecem o cotidiano do lugar, e por isso podem fazer o papel de gringos de forma mais convincente.

4) JUNTAR DINHEIRO E PAGAR MATÉRIAS PARA A IMPRENSA BRASILEIRA DE CELEBRIDADES E DAÍ PARA O RESTO DA MÍDIA NACIONAL

Com dinheiro na mão, o empresário do ídolo "popular" começa a montar a notícia, através de sua Assessoria de Comunicação, que já montará uma matéria que será enviada pronta para a imprensa publicar sobre o ídolo popularesco. A nota geralmente é publicada na véspera, com a promessa de que o ídolo Fulano irá fazer uma apresentação vitoriosa no exterior e por aí vai.

Essa relação de matérias pagas ocorre também depois da apresentação, quando notas produzidas pela assessoria e enviadas para a imprensa "trabalhar suas notícias" comemorando a "vitoriosa turnê", com as mentiras habituais (o ídolo conquistou os gringos, lotou plateias etc) feitas para impressionar os brasileiros, enquanto os gringos ficam indiferentes a essa loucura toda.

5) CRIAR ARTIFÍCIOS DE TODO TIPO

Comprar espaço de divulgação em periódicos menos expressivos no exterior, entrevistar falsos gringos (imigrantes brasileiros que se passam por nativos do lugar onde vivem), distribuir poucos ingressos para a totalidade dos brasileiros convidados a "povoar" as plateias (porque assim os ingressos esgotam e pode-se mentir que o sucesso "foi absoluto") etc.

Esses artifícios podem "temperar" ainda mais a farsa, para que assim pareça mais "convincente" o papo de que o ídolo popularesco realmente fez sucesso no exterior.

Com esses cinco ingredientes, forja-se um falso sucesso do ídolo popularesco no exterior, de forma que a chamada "mídia popular", no Brasil, possa espalhar essa mentira e fazer o "povão" acreditar que aqueles ídolos que ouvem nas rádios do gênero realmente conquistaram o mundo, quando a verdade é que os gringos nem chegaram perto desses ídolos que lhes soam bastante fajutos.

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