OSMUNDO PINHO E RONALD RIOS - REFORÇO PARA BLINDAR O BREGA-POPULARESCO.
Sempre quando surge uma crise grave nos governos de direita, após o golpe de 2016, o "funk" é acionado pelo botão de emergência.
A ideia é usar o ritmo popularesco como pretexto para uma suposta mobilização popular, para evitar que as verdadeiras mobilizações aconteçam.
Depois da chacina de Paraisópolis, que mostra o dado estranho do "funk" se promover justamente às custas da repressão policial para criar o discurso vitimista de sempre, se promovendo às custas do povo favelado, o ritmo de origem estadunidense apela para a mesma ladainha.
De repente pipocaram artigos e manifestos em favor do "funk", reeditando a choradeira que ocorreu no auge das pregações da intelectualidade "bacana" e sua "santíssima trindade" (Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna).
E aí vemos o exemplo do professor e antropólogo Osmundo Pinho, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, que se empenha em "estudos" em favor do "funk" e do "pagodão" baiano. Ele foi entrevistado pelo portal Brasil 247.
Combinando uma abordagem "etnográfica", espécie de assistencialismo intelectual, com os mesmos relatos de sempre - "cultura das periferias", "expressão do povo pobre" - , Osmundo é um dos mais novos colaboradores da intelectualidade "bacana".
Ou seja, seu empenho é transformar meros ritmos comerciais em supostas fenomenologias sociológicas.
Minha discordância nesse sentido é que nem o "pagodão" nem o "funk" são patrimônios do povo pobre, mas subprodutos da indústria do entretenimento e objetos estratégicos para a expressão do poder midiático regional e nacional através do entretenimento popularesco.
Evidentemente, a baixa escolaridade faz o povo pobre assimilar o que a mídia deseja que ele ouça.
Isso envolve questões sobre indústria cultural que não cabem aqui.
Mas podemos afirmar que o "funk" e o "pagodão" são ritmos comerciais sem valor cultural, mas artificialmente inseridos em contextos etnográficos e comportamentais por tendenciosas abordagens antropológicas conhecidas.
Além de Osmundo, temos também o "manifesto" de Ronald Rios, ex-humorista do CQC, que investiu também na surrada tese de que "funk também é música".
Se fosse o funk autêntico de James Brown, Earth Wind & Fire e, no Brasil, Tim Maia, Banda Black Rio etc, diria, sim, que funk é música.
Mas não esse engodo chamado "pancadão", no qual o próprio Ronald Rios entregou, sem querer, o atestado de mediocridade.
"Mesmo que os olhos da plateia, tal qual no rap, sempre acabam mais fixados no MC, o DJ merece igual carinho. E é responsabilidade do DJ libertar o pancadão, do contrário o MC fica igual uma mosca ali em cima", escreveu o articulista.
Isso é horrível. Que "maravilha artística" é essa? Se fosse no jazz, por exemplo, com o trompetista diante da orquestra na ausência do maestro, ele não ficaria igual a uma mosca, mas faria um baita improviso musical.
Esta é minha bronca, que separa o "funk" do samba. Se houvesse mesmo um valor artístico-cultural, o MC improvisaria com instrumento, cantando etc, na falta de um DJ.
Toda essa discurseira é uma farsa, e dotado de muito pretensiosismo.
A roupagem antropológica, os manifestos apelativos - como Ronald comparando os funqueiros a Bob Dylan (vejam só!) - e a discriminação à música de qualidade tornam-se o tom dos adeptos do "funk" que choram mas também mordem.
Daí as acusações que vão do moralismo ao elitismo, o que mostra o discurso pró-funqueiro cujo verniz progressista é tão falso quanto uma nota de três reais.
Na verdade, se o MC ficaria que nem mosca na ausência do DJ, o "funk" é marcado por um gosto estético, sim.
A abordagem do "funk", do "pagodão", da objetificação "positiva" do corpo feminino e outras campanhas desse pessoal "sem preconceitos", na verdade, mostra preconceitos muito profundos.
Certa vez, ao defender o "arrocha" baiano, Malu Fontes pisou no tomate: disse que ninguém podia reivindicar cultura musical melhor para o povo pobre porque "é isso que ele sabe fazer". Chamou as classes populares de "burras".
Ivana Bentes, figuraça do esquerdismo intelectual, também marcou feio. Duas vezes.
Ela disse uma vez, sobre a objetificação do corpo feminino:
"A bunda (e o corpo das mulheres) pode se deslocar da objetificação para a subjetivação! A bunda viva de Anitta com sua celulite sem photoshop é sujeito e não objeto".
E mais:
"Se Anitta decide oferecer seu bumbum para ser cutucado por dedos masculinos ou feito percussão de forma lúdica, quem vai achar ruim? Os homens brincaram com seus paus por séculos e erigiram uma cultura falocêntrica, que se auto homenageia, um paucentrismo, que produziu 'tudo que está aí'".
Fico preocupado com esse hedonismo que as "esquerdas médias" pregam, e que não passam de uma versão mofada, caricata e míope da Contracultura de 1967 e seus diversos movimentos identitários.
O que ocorre aqui é uma "Contracultura de resultados", um consumismo de emoções, uma suposta mobilidade que utopicamente se usa para combater o bolsonarismo, cujo contesto golpista pós-2016 corresponde a uma espécie de macartismo tropical, também bastante caricato, embora perigoso.
Mesmo que houvesse sentido nessa "Contracultura de resultados" de glúteos sem controle, pancadões em alto volume, LGBTQs estereotipados etc, o momento não é para isso.
E o "funk" - assim como o "pagodão" baiano - são cortinas de fumaça com efeitos similares aos das "Manifestações Populares Híbridas", armação que busca desviar as atenções da opinião pública para as verdadeiras causas públicas.
Isso cheira muito a Cabo Anselmo, que em 1963-1964 tornou-se a famosa "cortina de fumaça" que desnorteou as esquerdas, que até hoje não aprenderam dignamente com o caso.
Elas se sentem tentadas em abraçar o "funk", ignorando que este nunca passou de uma colcha de retalhos de referenciais supostamente culturais desenvolvidos pela mídia venal.
E vejo o quanto tornou-se tendencioso e estranho o novo surto de apelos pró-funqueiros, num momento em que o governo Jair Bolsonaro está em crise sob múltiplos aspectos.
E como Lula está solto, a preocupação do establishment é evitar que manifestações da envergadura do Chile e do Equador ocorram no Brasil.
Por isso a ênfase no entretenimento, na especulação.
E as esquerdas mordem a isca. Elas ignoram que boa parte do discurso pró-funqueiro, pró-pagodão, pró-popozudas etc difundido sob o aparato de "manifestos", "monografias", "documentários" e "grandes reportagens", é financiado por gente muito conservadora.
Tem verba da CIA (através de ONGs associadas, como a Fundação Ford), da Ambev, da Rede Globo, das multinacionais, do PSDB, tudo para manter o povo preso no "saudável entretenimento popular".
Esse discurso intelectualoide, do qual Osmundo Pinto torna-se o exemplo mais recente, lembra muito o do antigo IPES-IBAD que nos anos 1960 vendia o neoliberalismo como se fosse uma "causa pública".
"Funk" e "pagodão" são apenas meros mercadões que servem de "cortina de fumaça" para as tensões sociais em curso.
Para a sociedade ultraconservadora, é melhor o povo pobre rebolar um "funk" e um "pagodão" do que reivindicar o cancelamento das reformas trabalhista, previdenciária e administrativa.
Da mesma forma, é melhor uma mulher popularesca viver de mostrar os glúteos, num processo de distrair homens com a punheta diária e aconselhar as mulheres de classes menos abastadas a evitarem ter filhos.
Um grande higienismo está em curso, além de todo um processo de domesticar as classes populares e evitar os protestos anti-golpe.
E isso ocorre tanto se infiltrando nas esquerdas quanto usando um veículo da mídia venal, o UOL, para fazer tais pregações.
A sociedade "sem preconceitos", mas muito preconceituosa, finge apoiar Lula. Mas, ao pregar o "funk" e derivados como "cortina de fumaça" para as tensões sociais existentes - à maneira do Cabo Anselmo, no passado - , esse pessoal "admirável" quer mesmo é que o golpismo continue.
Essa sociedade quer apenas que haja o "carne-vale" identitário como quebra provisória do cotidiano fascista vigente. Uma ruptura de mentirinha, que não atrapalhe os projetos de Paulo Guedes de vender as riquezas brasileiras.
Para isso, nada como usar um ritmo, o "funk", surgido na Flórida, EUA - embora os ideólogos definam o ritmo como "genuinamente brasileiro" - , para distrair e enganar as esquerdas mais ingênuas.
Já vimos no que deu. O barulho da Furacão 2000 abafando os protestos contra o impeachment e a garantia de que o golpismo político veio para ficar. E deve ficar, se prevalecer todo esse apelo pró-funqueiro e pró-pagodão, entre outros similares.
Sempre quando surge uma crise grave nos governos de direita, após o golpe de 2016, o "funk" é acionado pelo botão de emergência.
A ideia é usar o ritmo popularesco como pretexto para uma suposta mobilização popular, para evitar que as verdadeiras mobilizações aconteçam.
Depois da chacina de Paraisópolis, que mostra o dado estranho do "funk" se promover justamente às custas da repressão policial para criar o discurso vitimista de sempre, se promovendo às custas do povo favelado, o ritmo de origem estadunidense apela para a mesma ladainha.
De repente pipocaram artigos e manifestos em favor do "funk", reeditando a choradeira que ocorreu no auge das pregações da intelectualidade "bacana" e sua "santíssima trindade" (Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna).
E aí vemos o exemplo do professor e antropólogo Osmundo Pinho, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, que se empenha em "estudos" em favor do "funk" e do "pagodão" baiano. Ele foi entrevistado pelo portal Brasil 247.
Combinando uma abordagem "etnográfica", espécie de assistencialismo intelectual, com os mesmos relatos de sempre - "cultura das periferias", "expressão do povo pobre" - , Osmundo é um dos mais novos colaboradores da intelectualidade "bacana".
Ou seja, seu empenho é transformar meros ritmos comerciais em supostas fenomenologias sociológicas.
Minha discordância nesse sentido é que nem o "pagodão" nem o "funk" são patrimônios do povo pobre, mas subprodutos da indústria do entretenimento e objetos estratégicos para a expressão do poder midiático regional e nacional através do entretenimento popularesco.
Evidentemente, a baixa escolaridade faz o povo pobre assimilar o que a mídia deseja que ele ouça.
Isso envolve questões sobre indústria cultural que não cabem aqui.
Mas podemos afirmar que o "funk" e o "pagodão" são ritmos comerciais sem valor cultural, mas artificialmente inseridos em contextos etnográficos e comportamentais por tendenciosas abordagens antropológicas conhecidas.
Além de Osmundo, temos também o "manifesto" de Ronald Rios, ex-humorista do CQC, que investiu também na surrada tese de que "funk também é música".
Se fosse o funk autêntico de James Brown, Earth Wind & Fire e, no Brasil, Tim Maia, Banda Black Rio etc, diria, sim, que funk é música.
Mas não esse engodo chamado "pancadão", no qual o próprio Ronald Rios entregou, sem querer, o atestado de mediocridade.
"Mesmo que os olhos da plateia, tal qual no rap, sempre acabam mais fixados no MC, o DJ merece igual carinho. E é responsabilidade do DJ libertar o pancadão, do contrário o MC fica igual uma mosca ali em cima", escreveu o articulista.
Isso é horrível. Que "maravilha artística" é essa? Se fosse no jazz, por exemplo, com o trompetista diante da orquestra na ausência do maestro, ele não ficaria igual a uma mosca, mas faria um baita improviso musical.
Esta é minha bronca, que separa o "funk" do samba. Se houvesse mesmo um valor artístico-cultural, o MC improvisaria com instrumento, cantando etc, na falta de um DJ.
Toda essa discurseira é uma farsa, e dotado de muito pretensiosismo.
A roupagem antropológica, os manifestos apelativos - como Ronald comparando os funqueiros a Bob Dylan (vejam só!) - e a discriminação à música de qualidade tornam-se o tom dos adeptos do "funk" que choram mas também mordem.
Daí as acusações que vão do moralismo ao elitismo, o que mostra o discurso pró-funqueiro cujo verniz progressista é tão falso quanto uma nota de três reais.
Na verdade, se o MC ficaria que nem mosca na ausência do DJ, o "funk" é marcado por um gosto estético, sim.
A abordagem do "funk", do "pagodão", da objetificação "positiva" do corpo feminino e outras campanhas desse pessoal "sem preconceitos", na verdade, mostra preconceitos muito profundos.
Certa vez, ao defender o "arrocha" baiano, Malu Fontes pisou no tomate: disse que ninguém podia reivindicar cultura musical melhor para o povo pobre porque "é isso que ele sabe fazer". Chamou as classes populares de "burras".
Ivana Bentes, figuraça do esquerdismo intelectual, também marcou feio. Duas vezes.
Ela disse uma vez, sobre a objetificação do corpo feminino:
"A bunda (e o corpo das mulheres) pode se deslocar da objetificação para a subjetivação! A bunda viva de Anitta com sua celulite sem photoshop é sujeito e não objeto".
E mais:
"Se Anitta decide oferecer seu bumbum para ser cutucado por dedos masculinos ou feito percussão de forma lúdica, quem vai achar ruim? Os homens brincaram com seus paus por séculos e erigiram uma cultura falocêntrica, que se auto homenageia, um paucentrismo, que produziu 'tudo que está aí'".
Fico preocupado com esse hedonismo que as "esquerdas médias" pregam, e que não passam de uma versão mofada, caricata e míope da Contracultura de 1967 e seus diversos movimentos identitários.
O que ocorre aqui é uma "Contracultura de resultados", um consumismo de emoções, uma suposta mobilidade que utopicamente se usa para combater o bolsonarismo, cujo contesto golpista pós-2016 corresponde a uma espécie de macartismo tropical, também bastante caricato, embora perigoso.
Mesmo que houvesse sentido nessa "Contracultura de resultados" de glúteos sem controle, pancadões em alto volume, LGBTQs estereotipados etc, o momento não é para isso.
E o "funk" - assim como o "pagodão" baiano - são cortinas de fumaça com efeitos similares aos das "Manifestações Populares Híbridas", armação que busca desviar as atenções da opinião pública para as verdadeiras causas públicas.
Isso cheira muito a Cabo Anselmo, que em 1963-1964 tornou-se a famosa "cortina de fumaça" que desnorteou as esquerdas, que até hoje não aprenderam dignamente com o caso.
Elas se sentem tentadas em abraçar o "funk", ignorando que este nunca passou de uma colcha de retalhos de referenciais supostamente culturais desenvolvidos pela mídia venal.
E vejo o quanto tornou-se tendencioso e estranho o novo surto de apelos pró-funqueiros, num momento em que o governo Jair Bolsonaro está em crise sob múltiplos aspectos.
E como Lula está solto, a preocupação do establishment é evitar que manifestações da envergadura do Chile e do Equador ocorram no Brasil.
Por isso a ênfase no entretenimento, na especulação.
E as esquerdas mordem a isca. Elas ignoram que boa parte do discurso pró-funqueiro, pró-pagodão, pró-popozudas etc difundido sob o aparato de "manifestos", "monografias", "documentários" e "grandes reportagens", é financiado por gente muito conservadora.
Tem verba da CIA (através de ONGs associadas, como a Fundação Ford), da Ambev, da Rede Globo, das multinacionais, do PSDB, tudo para manter o povo preso no "saudável entretenimento popular".
Esse discurso intelectualoide, do qual Osmundo Pinto torna-se o exemplo mais recente, lembra muito o do antigo IPES-IBAD que nos anos 1960 vendia o neoliberalismo como se fosse uma "causa pública".
"Funk" e "pagodão" são apenas meros mercadões que servem de "cortina de fumaça" para as tensões sociais em curso.
Para a sociedade ultraconservadora, é melhor o povo pobre rebolar um "funk" e um "pagodão" do que reivindicar o cancelamento das reformas trabalhista, previdenciária e administrativa.
Da mesma forma, é melhor uma mulher popularesca viver de mostrar os glúteos, num processo de distrair homens com a punheta diária e aconselhar as mulheres de classes menos abastadas a evitarem ter filhos.
Um grande higienismo está em curso, além de todo um processo de domesticar as classes populares e evitar os protestos anti-golpe.
E isso ocorre tanto se infiltrando nas esquerdas quanto usando um veículo da mídia venal, o UOL, para fazer tais pregações.
A sociedade "sem preconceitos", mas muito preconceituosa, finge apoiar Lula. Mas, ao pregar o "funk" e derivados como "cortina de fumaça" para as tensões sociais existentes - à maneira do Cabo Anselmo, no passado - , esse pessoal "admirável" quer mesmo é que o golpismo continue.
Essa sociedade quer apenas que haja o "carne-vale" identitário como quebra provisória do cotidiano fascista vigente. Uma ruptura de mentirinha, que não atrapalhe os projetos de Paulo Guedes de vender as riquezas brasileiras.
Para isso, nada como usar um ritmo, o "funk", surgido na Flórida, EUA - embora os ideólogos definam o ritmo como "genuinamente brasileiro" - , para distrair e enganar as esquerdas mais ingênuas.
Já vimos no que deu. O barulho da Furacão 2000 abafando os protestos contra o impeachment e a garantia de que o golpismo político veio para ficar. E deve ficar, se prevalecer todo esse apelo pró-funqueiro e pró-pagodão, entre outros similares.
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