O Brasil é muito complicado e, na cultura prática das redes sociais, pegam-se pedaços de causas culturais ou ideológicas como se fossem itens de comida a quilo.
Temos as esquerdas que acolhem a cultura centro-direitista da Rede Globo, Folha de São Paulo e até do hoje bolsonarista SBT.
Temos macartistas tupiniquins que se dizem contra o imperialismo, contra o governo dos EUA e dizem adorar Ernesto Che Guevara.
Temos pessoas que se consideram diferentes, mas só curtem mesmice.
Temos pessoas que ao mesmo tempo se dizem trotskistas e defendem o livre comércio de armas.
Temos indivíduos que se dizem ateus mas ficam defendendo o tempo todo os tais "médiuns espíritas" que só existem no Brasil (com aquela soberba de sacerdotes medievais).
Temos feministas que acham charmoso as mulheres do "povão" se expressarem apenas pelos seus dotes corporais exagerados, como verdadeiras mulheres-objetos.
Temos it girls casadas que levam vida de solteiras e viajam livres, leves e soltas por aí.
Temos até uma ex-dançarina que se diz "atualmente solteira" mas interage o tempo todo com o ex-marido, ex-atleta olímpico, como se ainda continuassem casados.
Temos machistas que agora querem conquistar mulheres emancipadas.
Temos valentões que se autoproclamam nerds e pessoas que acham que ser alternativo é curtir brega.
País esquizofrênico, esse Brasil.
Recentemente, temos um caso que é reflexo dessa complexidade, desse grande restaurante a quilo que se tornaram os valores culturais do público médio brasileiro.
Houve uma youtuber chamada Karol Eller, mineira, que apoiou a campanha de Jair Bolsonaro e seus familiares, apesar de ser lésbica.
Não são poucos os membros da comunidade LGBTQ apoiando o bolsonarismo. Temos o caso das funqueiras lésbicas Pepê e Neném, e do recém-saído do armário Diego Hipólito, atleta olímpico.
O direitismo também nos mostra o exemplo de Fernando Holiday, negro e gay que luta contra as causas dos negros e gays.
E aí Karol Eller estava com sua namorada, passeando no Rio de Janeiro, quando ela foi agredida por bolsonaristas, num ataque de violenta homofobia.
É um ato deplorável, uma agressão que nenhuma justificativa tem a mínima condição de sustentar. A agressão é um crime que deveria colocar os agressores na cadeia, em regime fechado.
Isso, portanto, não justifica, e Karol Eller mereceria ter sido respeitada em sua integridade física e social, com o direito dela de curtir sua namorada.
A situação, todavia, reflete essa complexidade, e os próprios bolsonaristas são muito confusos, às vezes partindo para o "fogo amigo" agredindo seus irmãos de causa.
Os próprios bolsonaristas são confusos no que se diz à questão de disciplina, pois eles estão mais inclinados a provocar desordens e vandalismos.
São medievais que usam o modus operandi dos punks hardcore, são obscurantistas falando palavrão e seguidores do "fisólofo" Olavo de Carvalho, um senhor de 72 anos mas com QI de moleque birrento.
O Brasil anda muito complicado porque muitas pessoas ainda estão procurando alguma identidade cultural própria.
E isso é que torna difícil o andamento das coisas, porque mesmo nas esquerdas há muita gente culturalmente confusa, acolhendo paradigmas culturais de centro-direita.
Esperemos então as coisas se resolverem nesse país difícil de se resolver.
Enquanto isso, a it girl se prepara para mais uma viagem longe de seu marido empresário, em busca de algum evento cult na Europa.
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