Não havia muito tempo, uma parcela de cariocas queria fazer patrulha digital para defender retrocessos que eram adotados no Rio de Janeiro.
Qualquer voz dissonante era combatida com ataques digitais de valentonismo (cyberbullying), isso para não dizer páginas ofensivas dedicadas especialmente para a vítima.
Havia efeito manada. O discordante de ocasião tinha seu perfil invadido por mensagens coletivas que começavam irônicas para se tornarem ameaçadoras.
O motivo dessa truculência toda é que o Rio de Janeiro adotava retrocessos visando "novas" perspectivas baseadas no pragmatismo.
Ou seja, aquele papo de "não é aquela maravilha, mas é melhor que nada", "o que vier está bom", 'melhor ter pouco do que coisa nenhuma".
Essas atitudes já tentaram me atingir nos tempos do Orkut. Não nos esqueçamos que o reacionarismo digital não nasceu com as milícias digitais do Facebook.
Foi esse pragmatismo que fez o Rio de Janeiro, antes conhecido por sua modernidade e riqueza sócio-cultural, despencar vertiginosamente.
Vieram as rádios pseudo-roqueiras, as mulheres-frutas, os ônibus padronizados (se não na capital, pelo menos em cidades como Niterói, São Gonçalo e Nova Iguaçu), o fanatismo futebolístico, a bregalização local e até o pragmatismo "protetor" das milícias.
Tudo atendendo apenas as "necessidades básicas" e a "aplicação prática" do cotidiano desses cariocas reaças. Dentro daquela falácia: "não é aquela maravilha, mas é 100%". E quem discordar leva humilhação.
Pois é esse pragmatismo que, em 2014, elegeu, para deputados federais, gente como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro, jogando em todo o Brasil a semente para o golpe político de 2016.
Foi Eduardo Cunha que fez uma chantagem para Dilma Rousseff, e, não sendo atendido em seu pedido, iniciou todo o processo de impeachment.
E aí ocorreram etapas diversas, até chegar ao governo Jair Bolsonaro, inicialmente o "governo dos sonhos" dos pragmáticos reacionários que vivem no Rio de Janeiro e, em parte, em outras regiões no Brasil (sobretudo Sul e Sudeste).
Com o governo Jair Bolsonaro, o Brasil mergulhou num pesadelo. É crise atrás de crise, desastre atrás de desastre, e o presidente não cai. Deve concorrer com Michel Temer o título de "presidente Balança Mas Não Cai".
Isso porque o pragmatismo contagiou os brasileiros médios. Ainda existe a ilusão de que o atual cenário político, por pior que seja (e bota pior nisso), ainda "dá para viver".
Enquanto as pessoas confundem o suportável com o satisfatório, o Brasil decai a olhos vistos.
Depois que Leonardo DiCaprio protestou contra as acusações de Jair Bolsonaro e teve a solidariedade expressa pelo também ator Mark Ruffalo, agora o "mito" tem mais um problema vindo dos EUA.
E vem do "amor de sua vida", o presidente Donald Trump.
Reagindo ao aumento do dólar no câmbio brasileiro e argentino, Donald Trump vai retomar as taxas de importação que os EUA fazem do aço e do alumínio vindos dos dois países sul-americanos.
Foi um duro golpe no governo Jair Bolsonaro, o que mostra que não é moleza a condição do Brasil de país subserviente aos EUA.
A dificuldade dessa condição é um assunto muito óbvio, exceto para os terraplanistas políticos que despejam bobagens nas redes sociais.
O Brasil virou vexame mundial, mas uma parcela de brasileiros "pragmáticos", inspirados pelo "pioneiro" exemplo carioca, acredita que "dá para viver assim".
Isso continuará assim até que os retrocessos começarem a se tornar insuportáveis a ponto de impedir até mesmo o recreio confortável das postagens nas redes sociais.
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