RODA DE SAMBA NO RIO DE JANEIRO, EM 1946.
Não há a menor dúvida que a tragédia de Paraisópolis é condenável, pela forma truculenta com que policiais reprimiram um "baile funk".
Com todo o respeito que se tem ao direito dos pobres se divertirem, não nos esqueçamos que o "funk" não é mais do que um ritmo dançante comercial, sem o menor valor artístico nacional.
Se o "funk" é expressão de alguém, é a expressão dos interesses dos empresários do entretenimento (inclui alguns que investem em "funk" e são até DJs), dos barões da mídia e de outros empresários associados (como os de cerveja, por exemplo, vide Jorge Paulo Lemann).
Infelizmente, o "funk" é que pega carona no vitimismo diante da violência que o povo pobre sofre na vida, independente de trilha sonora, pouco importando se é Paulinho da Viola ou Kevin O Chris que estão no lado do palco.
Ou pouco importando se há algum entretenimento. A tragédia que atinge os pobres não depende de trilha sonora.
O "funk" é que monta seu coitadismo e quer ser a maior vítima da truculência policial em Paraisópolis, não os pobres que vivem seu dia a dia.
Fala-se nisso porque as "esquerdas médias", cujo "marxismo dente-de-leite" abre caminho, por acidente, para as Tábata Amaral da vida, já estão glorificando, mais uma vez, o "funk".
E partem para aquele bordão repetido como sulcos de um disco riscado: "O 'funk' é tão reprimido quanto o samba foi no passado". Lembremos que o samba é celebrado todo dois de dezembro, a comemoração recente ocorrida na última segunda-feira.
Em termos. Os contextos sociais são outros. Não há como dizer que o "funk" é "genial" porque apanha tanto hoje quanto o samba apanhou há 100 anos.
As situações são outras. A sociedade da época achava ofensivo uma moça mostrar um único pezinho que banhasse nas águas numa praia carioca.
Hoje quem critica o "funk" são pessoas preocupadas com a objetificação do corpo feminino, com a glamourização da pobreza e com a gourmetização da ignorância pelo povo pobre.
Correndo atrás do próprio rabo, muita gente boa pega carona na intelligentzia burguesa para rebater discursos surrados, como se ainda estivéssemos, pelo menos, nos anos 1990.
Quem critica e rejeita o "funk" não é necessariamente reacionário. Há reacionários, sim, mas não nos esqueçamos que tem muito bolsomínion que adora um "funk".
Eu procuro pesquisar as coisas, não sou um preconceituoso.
Quem é preconceituoso é o pessoal "sem preconceitos" que exalta o "funk" e, sem prestar atenção, o equipara ao samba.
Devemos separar as coisas. O samba é um ritmo de origem africana que, por sua riqueza rítmica e instrumental, gerou uma porção de derivados.
O "funk", não. Sua origem se deu num mero karaokê que DJs de "funk" oferecia a jovens suburbanos, mas dentro de uma fórmula pré-estabelecida.
No "funk" é sempre assim. Uma mesma batida que dura uma temporada e vale para todo tipo de intérprete, cujo único "diferencial" é sua imagem-fetiche exposta pela indústria do entretenimento.
É um rigor estético inflexível que amarra o "funk", que a cegueira da intelectualidade dominante de hoje (mesmo a dita "esquerdista") não consegue admitir.
Vejamos um exemplo. Num evento de "funk", dois MCs se aproximam do DJ para mostrar uma música, com melodias e violões, para se apresentarem.
O DJ rejeita a situação. "Vocês vão estragar o meu trabalho. Se limitem a usar os microfones e recitar as suas letras".
Imagine isso no samba. Não dá. Gente expulsa numa roda de samba porque queria botar uns acordes de violão? Impossível.
Até o chamado funk melody, introduzido por nomes como Latino (hoje uma subcelebridade bolsomínion) e recentemente popularizado por Anitta, está mais para pop do que para "funk".
O "funk" tem um rigor estético muito duro, nivelado por baixo.
As batidas uniformes só variavam conforme as temporadas.
Durante quinze anos, prevaleceu a batida do "pum", trazida pelo som de bateria no teclado do DJ.
Depois veio o arremedo de batuque de umbanda (o "batidão"), depois uma caótica combinação de sons de galopes de cavalo com sirenes, depois um sâmpler vocal do "tchuscu-tchuscudá", depois sâmpler de percussão indiana.
Agora temos um "funk" mais acelerado e com uma batida eletrônica que lembra o som do inseticida: "tss-tss-tss".
O mesmo fundo musical para diferentes intérpretes.
A gente fala em rigor estético no "funk" e os defensores não gostam.
Temos que fingir que o "funk" é um combo que mistura mangue beat, psicodelia, punk rock, samba, Bossa Nova e Tropicalismo, quando nada disso existe em sua sonoridade.
Então, quem é que é o preconceituoso? Os que criticam o "funk" pela repetição e superficialidade sonora, ou quem o apoia, que parece nunca ouvir esse som?
A propósito, os cotonetes custam baratinho nos supermercados de cada bairro.
Não há a menor dúvida que a tragédia de Paraisópolis é condenável, pela forma truculenta com que policiais reprimiram um "baile funk".
Com todo o respeito que se tem ao direito dos pobres se divertirem, não nos esqueçamos que o "funk" não é mais do que um ritmo dançante comercial, sem o menor valor artístico nacional.
Se o "funk" é expressão de alguém, é a expressão dos interesses dos empresários do entretenimento (inclui alguns que investem em "funk" e são até DJs), dos barões da mídia e de outros empresários associados (como os de cerveja, por exemplo, vide Jorge Paulo Lemann).
Infelizmente, o "funk" é que pega carona no vitimismo diante da violência que o povo pobre sofre na vida, independente de trilha sonora, pouco importando se é Paulinho da Viola ou Kevin O Chris que estão no lado do palco.
Ou pouco importando se há algum entretenimento. A tragédia que atinge os pobres não depende de trilha sonora.
O "funk" é que monta seu coitadismo e quer ser a maior vítima da truculência policial em Paraisópolis, não os pobres que vivem seu dia a dia.
Fala-se nisso porque as "esquerdas médias", cujo "marxismo dente-de-leite" abre caminho, por acidente, para as Tábata Amaral da vida, já estão glorificando, mais uma vez, o "funk".
E partem para aquele bordão repetido como sulcos de um disco riscado: "O 'funk' é tão reprimido quanto o samba foi no passado". Lembremos que o samba é celebrado todo dois de dezembro, a comemoração recente ocorrida na última segunda-feira.
Em termos. Os contextos sociais são outros. Não há como dizer que o "funk" é "genial" porque apanha tanto hoje quanto o samba apanhou há 100 anos.
As situações são outras. A sociedade da época achava ofensivo uma moça mostrar um único pezinho que banhasse nas águas numa praia carioca.
Hoje quem critica o "funk" são pessoas preocupadas com a objetificação do corpo feminino, com a glamourização da pobreza e com a gourmetização da ignorância pelo povo pobre.
Correndo atrás do próprio rabo, muita gente boa pega carona na intelligentzia burguesa para rebater discursos surrados, como se ainda estivéssemos, pelo menos, nos anos 1990.
Quem critica e rejeita o "funk" não é necessariamente reacionário. Há reacionários, sim, mas não nos esqueçamos que tem muito bolsomínion que adora um "funk".
Eu procuro pesquisar as coisas, não sou um preconceituoso.
Quem é preconceituoso é o pessoal "sem preconceitos" que exalta o "funk" e, sem prestar atenção, o equipara ao samba.
Devemos separar as coisas. O samba é um ritmo de origem africana que, por sua riqueza rítmica e instrumental, gerou uma porção de derivados.
O "funk", não. Sua origem se deu num mero karaokê que DJs de "funk" oferecia a jovens suburbanos, mas dentro de uma fórmula pré-estabelecida.
No "funk" é sempre assim. Uma mesma batida que dura uma temporada e vale para todo tipo de intérprete, cujo único "diferencial" é sua imagem-fetiche exposta pela indústria do entretenimento.
É um rigor estético inflexível que amarra o "funk", que a cegueira da intelectualidade dominante de hoje (mesmo a dita "esquerdista") não consegue admitir.
Vejamos um exemplo. Num evento de "funk", dois MCs se aproximam do DJ para mostrar uma música, com melodias e violões, para se apresentarem.
O DJ rejeita a situação. "Vocês vão estragar o meu trabalho. Se limitem a usar os microfones e recitar as suas letras".
Imagine isso no samba. Não dá. Gente expulsa numa roda de samba porque queria botar uns acordes de violão? Impossível.
Até o chamado funk melody, introduzido por nomes como Latino (hoje uma subcelebridade bolsomínion) e recentemente popularizado por Anitta, está mais para pop do que para "funk".
O "funk" tem um rigor estético muito duro, nivelado por baixo.
As batidas uniformes só variavam conforme as temporadas.
Durante quinze anos, prevaleceu a batida do "pum", trazida pelo som de bateria no teclado do DJ.
Depois veio o arremedo de batuque de umbanda (o "batidão"), depois uma caótica combinação de sons de galopes de cavalo com sirenes, depois um sâmpler vocal do "tchuscu-tchuscudá", depois sâmpler de percussão indiana.
Agora temos um "funk" mais acelerado e com uma batida eletrônica que lembra o som do inseticida: "tss-tss-tss".
O mesmo fundo musical para diferentes intérpretes.
A gente fala em rigor estético no "funk" e os defensores não gostam.
Temos que fingir que o "funk" é um combo que mistura mangue beat, psicodelia, punk rock, samba, Bossa Nova e Tropicalismo, quando nada disso existe em sua sonoridade.
Então, quem é que é o preconceituoso? Os que criticam o "funk" pela repetição e superficialidade sonora, ou quem o apoia, que parece nunca ouvir esse som?
A propósito, os cotonetes custam baratinho nos supermercados de cada bairro.
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