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O QUE É A "LIBERDADE"?


O que é "liberdade"? É assumir o que se tem de pior e repulsivo? É ficar esculhambando estereótipos de "bom gosto" que mais parecem caricaturas das caricaturas?

Vejo as personalidades tomadas de "militância identitarista" falando a respeito de "liberdade" e "aceitação" e vejo o quanto elas estão longe demais.

Uma coisa é uma gordinha posando de lingerie em portal de lojas de roupas, porque isso é muito saudável e permite valorizar o tamanho das roupas conforme o conforto físico de cada um.

Outra coisa é uma obesa se "sensualizar demais" achando que isso é empoderamento e auto-aceitação, quando na verdade se trata da inserção de mulheres assim no contexto de objetificação do corpo feminino.

A "ditadura da beleza" não se limita a preceitos de "boa forma" e "perfeição estética" supostamente ditados por publicações como Cláudia, Marie Claire, Harper's Bazaar, Women's Health e similares.

Há também uma outra "ditadura da beleza", bem mais trash, e que, curiosamente, é acolhida de forma confortável pela mesma mídia acusada de "ditar a beleza perfeita".

Qual o contraste de uma página identitarista que fala do suposto body positive e uma página acusada de ditar a "beleza perfeita" que agora também acolhe as mesmas causas?

A "ditadura da beleza" pega ainda mais pesado no terreno do brega-popularesco, área na qual as ditas feministas de esquerda do Brasil acha ser imune à "ditadura da beleza" das revistas "reaças".

É só ver quantas funqueiras, cantoras de "sertanejo", mulheres siliconadas, "musas da banheira", musas do Brasileirão" etc que fazem plásticas, vão para centros de ginástica fitness etc.

Até Valesca Popozuda e Tati Quebra-Barraco, supostas antíteses dessa "ditadura da beleza", fizeram mais plásticas que as plásticas nunca feitas pela "atriz perfeitona" que mostra foto de Natal com o marido e os filhos.

Esquecem que mesmo tatuar o corpo faz parte dessa "ditadura estética" às avessas. Só porque tatuagem, supostamente, não causa incômodo é que muitos veem como um símbolo de "prazer" e "liberdade".

Só que tatuar o corpo é mais doloroso do que fazer uma corrida pelo calçadão da praia. Até certas cirurgias plásticas podem doer bem menos.

Também existe "ditadura estética" trash, e tatuar o corpo também mostra uma obsessão doentia, a obsessão em parecer "diferente" e "provocador".

Só que tatuar o corpo não traz diferença nem faz provocação. É só ver quem mais tatua o corpo: subcelebridades, milicianos, famosos em decadência, influenciadores digitais que já nem influenciam nem lacram mais.

Não dá para a pessoa hipertatuada, sobretudo mulher, ficar pulando que nem canguru, contrariada, dizendo "Eu sou livre! Eu sou livre! Sou dono (a) do próprio nariz!".

Não. Ela não é livre, mas prisioneira daquilo que o establishment midiático, da Jovem Pan à Rede TV!, passando por Luciano Huck e José Luiz Datena, definiu como "liberdade".

Esse identitarismo, que se ascendeu no "combate ao preconceito" - tema do meu superlivro Esses Intelectuais Pertinentes, que o pessoal perdido nas florestas para colorir precisa urgentemente ler - , é que "dita mais normas" que as próprias esquerdas, desavisadas, se submetem tão tolamente.

É a "liberdade que os outros querem de você". Uma "liberdade" do ridículo, do mórbido, uma "liberdade" feita mais para incomodar o outro do que fortalecer a auto-estima, porque a "auto-estima" e a "auto-aceitação" não passam de pretextos para um narcisismo às avessas.

Fala-se em "aceitação do corpo", "direito ao corpo", "corpo livre" etc. Mas que "liberdade do corpo" é essa que torna a alma escrava desse conceito?

E a liberdade de consciência? Presunção, vaidade e arrogância não representam consciência livre. O identitarismo trash de corpos disformes e/ou tatuados não melhora as relações cotidianas de gordinhos e outros "excluídos" no trabalho, no contato com os amigos e com a vizinhança.


Portanto, que "liberdade" é essa, na qual tanto os drogados quanto os fundamentalistas da fé se julgam também "livres"?

A "liberdade" não passa de uma zona de conforto para as pessoas se resignarem com seus defeitos, continuarem sendo o que lhes há de pior e forçar os outros a aceitar tudo isso.

Afinal, isso é muito diferente do que a verdadeira aceitação de pessoas fora do padrão e que necessitam, de fato, de respeito social.

Sei disso porque fui vítima de valentonismo (bullying) na escola quando criança. Nunca me encaixei em padrões sociais dominantes.

Não acredito que obesas se sensualizando vão resolver o problema do preconceito, da discriminação. Da mesma forma que um negro colocando tatuagens que nem aparecem em sua pele escura.

Daí que a "liberdade" pode ser uma mercadoria que, nos últimos anos, o pessoal passou a consumir achando que obteve do ar que respiramos. Não é.

De repente, a "liberdade" é apenas a desculpa que os executivos da grande mídia criaram para que se regulem comportamentos pitorescos que servem apenas para enriquecer redes de lojas de roupas, de marcas de automóveis e de lanchonetes, entre outros produtos.

Daí a "liberdade" que escraviza, que subordina, que faz as pessoas se desesperarem com a obsessão em parecer "diferente", agravando mais a nossa mesmice cotidiana.

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