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AS PESSOAS, MESMO DE ESQUERDA, FALAM A LINGUAGEM DO DOMINADOR

DE QUE ADIANTA AS PESSOAS ODIAREM LUCIANO HUCK, SE SEGUEM SUAS IDEIAS E SEUS PRINCÍPIOS?

Falamos, em postagens anteriores, sobre a suposta liberdade das pessoas, que sem saber são manipuladas pelo poder midiático.

Como essa manipulação traz sensações desagradáveis e não contraria as zonas de conforto psicológicas das pessoas, portanto não havendo algum conteúdo coercitivo, então isso é visto como "liberdade".

As pessoas não sabem, porque, na convivência cotidiana, esses referenciais ditados pela mídia venal são socialmente compartilhados, dando a impressão de que essas referências foram trazidas pelo ar atmosférico presente na Natureza.

Num canal de humor que eu vejo muito no YouTube, uma parlamentar do PSOL que foi entrevistada falou em "balada", "baladeira" várias e várias vezes. A gíria é uma criação de casas noturnas ricaças de São Paulo e foi patenteada pela bolsonarista Jovem Pan.

Pouco importa se a amiga marxista aqui, a amiga guevarista ali, a amiga chavista e outra amiga trotskista acolá falam essa mesma gíria. Ela foi transmitida por outro alguém, nem tão esquerdista assim - talvez até bolsonarista, hoje em dia - , mas que convive diariamente com as demais.

Pensamos que tudo que falamos, pensamos e sentimos é tão natural quanto o ar que respiramos.

Muitos de nós, tão tolamente, levam ao pé da letra os conceitos de "culturalismo conservador" de Jessé Souza e todo mundo pensa que essas ideias se limitam ao patrimonialismo político e à pedagogia familiar.

Esquecem que o "culturalismo conservador" está ali, escancarado, na tal "cultura popular demais" que as esquerdas insistem em pensar ser uma "revolução bolivariana em curso no Brasil".

E isso mesmo quando o "popular demais" tem o mesmo apetite por aglomerações em tempos de pandemia que os bolsomínions.

O "culturalismo conservador" está ali dançando com muitas pessoas o "funk", o "sertanejo", o tecnobrega e outros ritmos. Está nas "lindas lembranças" do velho ídolo brega e do velho "médium espírita".

Ele está nos campos de futebol, sobretudo o carioca, está nas gírias midiáticas tipo "balada" e no portinglês que as esquerdas não percebem serem um perigoso meio de barbarismo ianque mal-disfarçado.

Acreditar que a gíria "balada" (©Jovem Pan) foi criação da Natureza é tão ingênuo quanto acreditar que a cloroquina é a cura para a Covid-19, e não a Coronavac.

Mesmo dentro de um identitarismo festivo e confortável, em que o inconsciente humano é feito gato e sapato mas todo mundo aceita porque não tem apelo coercitivo, há muito terraplanismo e muita subjugação ao que a mídia e o mercado determinam.

Já tem esquerdista "sepultando" pela segunda vez velhas lideranças de esquerda e substituindo-as por cantores bregas que "atraem com mais facilidade as multidões".

E vemos o quanto essa "liberdade" nada livre, que vem da imaginação dos executivos de mídia e publicitários e psicólogos a seu serviço, anda seduzindo e anestesiando as pessoas, justamente aquelas que se julgam "modernas", "progressistas" e "tudo de bom".

E não estamos falando só dos bolsonaristas. No fundo eles são apenas parte da Tríplice Aliança dos tempos golpistas recentes.

Essa Tríplice Aliança se compõe de três forças, não necessariamente aliadas, mas afins nos procedimentos e atitudes tomados, ou, se não for o caso, pelos efeitos em comum que diferentes ações acabam causando ou deixando causar.

Temos a direita comportada que foi artífice principal do golpe político de 2016.

Temos a extrema-direita, que, também apoiando o golpe, queria radicalizar e pediram até "intervenção militar" (eufemismo para golpe militar).

E temos as esquerdas-lacração, infantilizadas, que, embora aparentemente se opõem ao golpismo e todo o seu legado, acabam consentindo com ele e até compactuando com alguns personagens. Vide o apoio dos partidos de esquerda a um dos mentores do golpe, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Não há liberdade quando, numa sociedade midiatizada, uma meia-dúzia de executivos e profissionais de mídia decida que hábitos, crenças e até gírias a juventude de hoje deve utilizar.

Deixando para trás o simplismo maniqueísta da teoria hipodérmica da Comunicação, no entanto vemos que a manipulação existe, mesmo que ela considere desejos, expectativas e vontades do público-alvo.

Mas, em todo caso, também não existe uma "teoria hipodérmica às avessas", na qual não há manipulação midiática e as pessoas adotariam costumes, hábitos e linguagens opostas ao poder midiático.

Sem saber, as pessoas, mesmo de esquerda, falam a linguagem do dominador. E seguem o culturalismo conservador que está estruturalmente presente não só na burocracia política ou no poder patriarcal, mas no entretenimento diário que muitos acreditam ser "livre".

As pessoas falam a gíria da Jovem Pan, se tatuam no corpo todo porque a Rede Record e a Rede TV! disseram que isso era "vanguarda" e seu lazer sofre a influência de ninguém menos que Luciano Huck.

Não adianta ser um "McDonald's às avessas" e disparar na Internet que "odeia tudo isso".

Se "odeia tudo isso", por que segue o que eles transmitem? Ou a pessoa é ingênua em achar que falar gíria "balada", falar portinglês e ouvir "funk" são tão espontâneos quanto o nascer e o pôr do Sol?

Fácil odiar o professor e seguir direitinho as suas lições.

Que rebeldia se espera em tudo isso? Que cultura esquerdista se espera quando as esquerdas falam as mesmas gírias e adotam os mesmos métodos dos bolsomínions?

Que diferencial temos nas gerações nascidas de 1978 para cá? Nenhum. De pessoas diferenciadas, dá para se contar nos dedos.

Se bem que temos sexagenários aprontando algazarra nas redes sociais e até nas casas noturnas, e octogenários tratando o "médium de peruca" como se fosse a versão sênior de uma princesa da Disney.

O hedonismo das esquerdas médias que se tatuam todas e falam gírias da Jovem Pan não é diferente do hedonismo que faz os bolsomínions dispararem besteira nas redes sociais.

Uma "liberdade" hipermidiatizada, hipermercantilizada. De esquerdas que odeiam a Jovem Pan, mas falam suas gírias. De bolsomínions que odeiam a Rede Globo, mas devem a ela a "pedagogia" social de décadas atrás.

É isso que faz o Brasil ficar confuso e completamente desnorteado. E as esquerdas, que deveriam ter um diferencial, são as que mais mergulham na mesmice, e acabam seguindo as braçadas do presidente Jair Bolsonaro, fazendo o jogo dele. Jogo? Não seria game, "galera irada"?

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