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MÚSICOS MINEIROS ERRAM FEIO AO EVOCAR JESUÍTA "ESPIRITUALISTA"


Reajo com muita tristeza e preocupação com a iniciativa dos músicos mineiros Flávio Venturini, ex-O Terço e ex-14 Bis, e Marcus Viana, membro-fundador do Sagrado Coração da Terra.

Eles adotaram em seu repertório, quando tocam juntos, a canção "Emmanuel", de Murilo Antunes e Michel Colombier, sob a desculpa de explorar a temática espiritualista.

É constrangedor. Eu, que já fui espírita - no sentido desse roustanguismo vagabundo que se pratica no Brasil, com literatura fake e dogmas neo-medievais - por 28 anos, e me orgulho de ter abandonado essa religião que deturpou Allan Kardec, me sinto seguro em lamentar tudo isso.

O tal padreco do título se trata de um antigo jesuíta, o padre Manuel da Nóbrega, que um pretenso médium, um vigarista (*) que apoiou a ditadura militar e pregava a Teologia do Sofrimento, repaginou como um suposto "pregador espírita".

Esse "médium" assinou embaixo em fraudes de materialização, fazia mímica em falsas psicofonias "dublando" vozes de locutores em off e ainda passou pano nos abusos de João de Deus, seu pupilo, denunciados há muito e muito tempo.

E aí, o tal "jesuíta do além-túmulo" esteve associado a pautas retrógradas, corroboradas pelo "lápis de Deus" que lançou inúteis e falaciosos 400 e tantos livros.

Essas ideias iam do machismo (o "verdadeiro feminismo" a mulher devia fazer dentro do lar ou na Igreja), da servidão no trabalho e até uma falsa defesa do comunismo, sob a condição de se submeter aos "ensinamentos cristãos", com argumentos dignos de intelectuais bolsonaristas.

Já alertei que os "neopenteques", como são conhecidos os evangélicos neopentecostais, representam tudo de ruim na sociedade brasileira e são ameaçadores em suas pautas obscurantistas que invadem agendas legislativas e podem fazer o Brasil caminhar para trás.

Mas esse Cavalo de Troia chamado Espiritismo brasileiro é um perigo ainda maior, unindo um discurso tão humanista quanto as palestras de Mark Zuckerberg e Elon Musk sobre o futuro da humanidade.

Afinal, será a religião que passará pano na necropolítica e na miséria humana, sob a desculpa de que as vítimas "estão enfrentando provações necessárias (sic) ao seu aprimoramento moral".

Elas mostrarão o "lado doce da morte", como que num holocausto dissolvido em água com açúcar, dizendo o "quanto é lindo sofrer em excesso", porque isso encurta o caminho para o Céu.

Inventaram até um condomínio de luxo, o tal do Nosso Lar, espécie de Barra da Tijuca imaginária flutuando sobre a cidade do Rio de Janeiro, que tem até versões "além-túmulo" do trio de bairros Rio das Pedras, Gardênia Azul e Cidade de Deus, o umbral.

Devem haver milicianos no além-túmulo. Ah, eles "não" são milicianos. São centuriões a serviço de um fictício Públio Lentulus que uma das mais antigas fake news, a Epístola Lentuli (século XIV), renegada até pelo Catolicismo medieval, descreveu tendenciosamente.

As esquerdas caem como patinhos e elegem como um de seus pacifistas um pretenso médium que fez de Humberto de Campos gato e sapato, enganou seus herdeiros e produziu uma vergonhosa literatura fake de 400 e tantos livros cujo valor pode ser resumido em uma curta palavra: NADA.

Nessa onda de "espiritualismo", as esquerdas se iludem com isso, dentro dos "brinquedos culturais" da centro-direita, moldando o "médium" na inversão dramatúrgica, como se não fosse Nelson Xavier seu intérprete, mas o interpretado.

Ou seja, moldam o "médium" como se fosse um daqueles personagens de Nelson, aqueles velhinhos bonachões da novela das nove da Rede Globo.

Essas pessoas ignoram totalmente que o tal "médium" defendia a medonha Teologia do Sofrimento, que pregava que teríamos que aceitar uma overdose de desgraças para obter uma "eternidade de bênçãos", que depois descobrimos serem mais desgraças, pelas palavras do "bom homem".

"Mas a Teologia do Sofrimento não é a Teologia da Libertação com a mão na massa?", pergunta o esquerdista desavisado, já preparando seu pacifismo conciliador com funqueiros, ídolos cafonas, mulheres-frutas, "médiuns espíritas", Baleia Rossi e, quem sabe, Luciano Huck.

E é triste esse "espiritualismo" de convescote burguês, mais próximo da "paz sem voz" daqueles que preferem um pseudo-humanismo que passa pano em algozes e deixa os sofredores na pior.

E é por isso que o Clube da Esquina não decola, enquanto Chitãozinho & Xororó e similares tentam pegar carona no cancioneiro mineiro que Fausto Silva não autorizou para que o público médio ouvisse.

Um movimento mineiro musicalmente maravilhoso, e olha que eu admiro muito a música de Flávio Venturini, mas ver ele nesse papel humilhante de exaltar um ícone religioso medieval, de uma religião não menos medieval, é estarrecedor.

E ver que muita gente me chama para retornar ao "Espiritanic", esse cruzeiro marítimo "espiritualista" pomposo e grandiloquente apesar da falsa modéstia, me deixa apavorado.

Mas tenho que resistir e não retornar a esse obscurantismo religioso mascarado de "alto astral".

Nem o tal "espiritismo progressista" de félix e pavões vou seguir, uma vez que não passa do mesmo caquético "kardecismo" (eufemismo para roustanguismo brasileiro), furiosamente anti-aborto, mas dando concessões às causas identitárias.

Além do mais, esse Espiritismo brasileiro é o estado de espírito do "marxismo tendência Baleia Rossi" das esquerdas médias, sintonizado com a Big Tech, com o Ocultismo, com o "assistencialismo de mercado", com a caridade paliativa que não mexe um dedo para derrubar a pobreza estrutural.

O pessoal acha lindo porque parece novidade. Mas, há vinte anos, também os "neopenteques" representavam tudo de bom.

Quero ficar fora disso. Quem quer embarcar nesse espiritualismo furado, que vá e se divirta, se é que acha mesmo que irá se divertir com isso. Só não me chamem para cair nessa mesma armadilha.

Enquanto isso, o Clube da Esquina sofre ameaças de ser adquirido pela rede "festaneja" Villa Mix. É de chorar.

(*) Ver Revista da Semana, julho de 1944, Manchete, de 09 de agosto de 1958 e Realidade, de novembro de 1971, descrevendo atos desonestos e inescrupulosos do suposto médium.

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