Pular para o conteúdo principal

FOI A VEZ DE ERASMO CARLOS NOS DEIXAR


O que parecia um boato mentiroso, dias atrás, infelizmente se tornou verdade. Erasmo Carlos faleceu hoje, com 81 anos, dando fim a uma trajetória honrada de mais de 60 anos. Ele foi o mais famoso dos artistas da pré-Jovem Guarda, ou seja, ele já estava na estrada quando o Rock Brasil ainda estava nos primórdios, entre 1957 e 1963, sobretudo no triênio 1959-1960-1961, daí que o Tremendão, como era conhecido, foi um dos personagens do meu livro 1961 - O Ano Que Havíamos Esquecido.

Erasmo foi um dos nomes que, portanto, atravessaram a Jovem Guarda forjando uma pretensa "fama de mau", já que em toda sua carreira, o cantor sempre foi boa gente. Ele foi um dos poucos intérpretes da JG que, depois que o movimento chegou ao fim, em 1968, continuou interagindo com o rock, embora também flertasse com o sambalanço e gravasse faixas românticas. Entre vários sucessos jovem-guardistas, o que serve de apresentação de Erasmo aos leigos é a música "Festa de Arromba".

Foi parceiro de Roberto Carlos num produtivo e expressivo repertório de inúmeras canções, geralmente distribuídas na voz de um deles, embora houvesse duetos e versões individuais em comum, como a famosa "Sentado à Beira do Caminho", que tem versão só com Roberto, versão só com Erasmo, e versão com os dois.

Erasmo sempre foi mais moderno que Roberto, um cantor que fez grandes obras indiscutíveis, mas era mais conservador e, do fim dos anos 1970 para cá, não produziu bons discos, com exceção do Acústico MTV de 2001, um bom disco que parecia revigorar a imagem e a performance musical de Roberto, mas depois ficou em vão.

Erasmo Carlos sempre seguiu com seu talento impecável, que, em certos casos, como nos discos dos anos 1980, só poderiam se tornar melhores se o padrão de mixagem na época não fosse tão tosco e grandiloquente. Muito do Rock Brasil e da MPB se revelariam geniais se houvesse uma mixagem melhor dos discos dos anos 1980, fica a sugestão de uma mixagem tipo Let It Be... Naked dos Beatles para esses discos todos.

O cantor carioca, que na região da Tijuca formava uma gangue de jovens com Roberto, Jorge Ben Jor e Tim Maia, fez várias proezas. Erasmo foi um dos produtores do lendário festival Hollywood Rock, de 1975, que foi apelidado de "Woodstock brasileiro" devido ao clima bicho-grilo (hippie) mesclado com roqueiro de jaqueta, na época.

Outras realizações de Erasmo Carlos foram antecipar o tema da ecologia, com "Panorama Ecológico", canção de 1978 feita com Roberto. Dois anos antes, a dupla, na voz do cantor capixaba, gravou outro tema ecológico, "O Progresso".

Outro tema que Erasmo Carlos abordou com sensibilidade foi o feminismo, em canção feita com a então esposa Narinha (já falecida), "Mulher (Sexo Frágil)", de 1983, e que em 2002 teve versão gravada por Gal Costa em Bossa Tropical, de 2002. Erasmo, pouco após o falecimento de Gal, para a qual ele havia composto, com Roberto, "Meu Nome é Gal", de 1969, escreveu mensagem de pesar.

Interagindo com a juventude, Erasmo Carlos, que perdeu o filho Alexandre Pessoal em 2014, só tinha músicos jovens na banda que o acompanhava nas últimas apresentações. Erasmo era casado, desde 2019, com a jovem Fernanda Passos, 49 anos mais nova que ele, o que não o fez, no entanto, se prender ao etarismo, mantendo-se jovial e moderno nos últimos tempos. Aliás, o próprio Erasmo comentava a complexidade da vida adulta com a canção "Sou Uma Criança Não Entendo Nada".

Como ator, Erasmo participou de poucos filmes, meia-dúzia, entre os quais Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, de 1970 e Roberto Carlos a 300 km Por Hora, de 1971. O último filme que Erasmo participou foi Modo Avião, uma produção deste ano do canal Netflix estrelado por Larissa Manoela e o namorado dela, André Luiz Frambach. 

Em 2019, um filme baseado na autobiografia de Erasmo Minha Fama de Mau (livro lançado em 2009), o homônimo longa-metragem dirigido por Lui Farias, foi lançado tendo Chay Suede no papel do Tremendão.

No disco, Erasmo, com uma vasta discografia, se manteve ativo nos últimos anos, lançando discos como Gigante Gentil, de inéditas, em 2014, um disco de samba e sambalanço, Quem Foi Que Disse Que Não Faço Samba..., de 2019, e o último com canções dos anos 1960, O Futuro Pertence à... Jovem Guarda, seu derradeiro lançamento, neste ano. 

Enquanto isso, está pendente na justiça a ação judicial que Roberto e Erasmo moveram para recuperar seus direitos autorais de composições antigas, 27 músicas feitas entre as décadas de 1960 e 1980, que os artistas, na boa-fé, entregaram antes às editoras Irmãos Vitale e Fermata. Em junho, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou a causa dos dois compositores e as canções permanecem sob responsabilidade das editoras. 

Os advogados dos artistas recorreram da decisão. Erasmo Carlos também se envolveu, por volta de 2013, na polêmica do Procure Saber, relacionado à defesa das biografias autorizadas de famosos, um episódio que, junto com o ECAD, entidade ligada aos direitos autorais, causou muita polêmica nos bastidores da música brasileira. Os episódios são mencionados no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes....

Erasmo era apelidado carinhosamente de Gigante Gentil, pela alta estatura física. E isso é curioso, porque, embora o nome seja relacionado, no rock, à banda progressiva Gentle Giant, muito curtida pelo público do antigo Hollywood Rock de 1975, atualmente essa banda britânica, que influenciou também o Clube da Esquina, anda esquecida, num tempo de crise na cultura rock apreciada no Brasil nos últimos tempos. O apelido dado a Erasmo também se deve à simpatia e a generosidade do cantor carioca.


ERASMO CARLOS E GAL COSTA, FALECIDOS COM UMA DIFERENÇA DE QUASE DUAS SEMANAS.

Os veteranos da música de qualidade estão idosos ou morrendo. Há poucos dias, Milton Nascimento encerrou sua participação nos palcos, incluindo uma homenagem comovida a Gal Costa. Milton também lamentou a morte de Erasmo. No exterior, a música latino-americana acabou de perder o cantor e compositor Pablo Milanés, autor de "Yolanda", cuja relação com a MPB está na versão de Chico Buarque de Holanda.

Há uma falta de renovação da MPB, uma falta de vida inteligente que não se limite a declarações de amor nem de posições identitaristas. Falta qualidade musical e alguma visceralidade cultural, alguma vida humana, vibrante, autêntica, que as antigas gerações, das quais vieram Erasmo Carlos e Gal Costa, só para citar dois grandes nomes falecidos, mostraram com admirável habilidade.

Numa época em que o "novo normal" da música brasileira não é mais a MPB nem o Rock Brasil (que tem em Erasmo um dos maiores pioneiros), mas a música brega-popularesca e seu comercialismo hipócrita, ver emepebistas morrendo ou ficando idosos é de cortar o coração.

Por isso que é muito triste ver essa onda do "brega vintage" no qual canastrões musicais do nível de Michael Sullivan, Bell Marques, É O Tchan e Chitãozinho & Xororó sejam agora exaltados numa falsa nostalgia montada pela indústria do entretenimento para retomar o sucesso comercial desses ídolos, agora sob falsos rótulos preciosistas ("vanguarda", "sofisticação", "relíquia cult") etc, embalados para o público médio da TV aberta e das redes sociais se iludir nesse falso saudosismo.

Falta, na música popularesca, essa honestidade, essa criatividade, essa coisa verdadeira que, em outros tempos, Erasmo Carlos e Gal Costa, entre tantos outros, atualmente vivos ou não, mostraram com sua arte verdadeira, sua visão de Brasil e de mundo, sua natureza humana e sincera. Eram tempos que, descritos em livros historiográficos ou biográficos, nos davam a vontade de participar, embora tivessem sido tempos passados.

E isso é muito diferente desse comercialismo esquizofrênico de hoje, desse rol de mentiras, dessa falsa alegria feita mercadoria, que os ídolos popularescos de hoje mostram, mais preocupados em ser subcelebridades na medida em que perdem o fôlego para compor novas canções medíocres. Até porque eles não se comparam com a produtividade expressiva dos emepebistas que deixam discos que permanecerão na posteridade, por sua relevância e talento. A MPB pede socorro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...