Num país culturalmente devastado como o Brasil, é fácil haver aproveitadores vendendo ingressos de grupos ou artistas que não existem mais ou de artistas que não se apresentam nos palcos há tempos. E isso ocorrendo abertamente nas redes sociais.
Recentemente, chamou a atenção a venda de ingressos para uma hipotética apresentação da banda novaiorquina Velvet Underground, na sua formação clássica que gravou o álbum homônimo de 1967, um clássico absoluto. O farsante queria nos fazer crer que a banda viria ao Brasil para uma apresentação nos próximos dias.
O grande problema, porém, é que o Velvet Underground não existe mais e, da famigerada formação, só nos restam o multiinstrumentista John Cale e a baterista Maureen "Mo" Tucker. A cantora Nico morreu em 1988, o baixista Sterling Morrison em 1995 e o vocalista, guitarrista e principal compositor Lou Reed nos deixou em 2013 pouco após lançar seu derradeiro e polêmico disco com a banda Metallica. O Velvet Underground (Reed, Cale e Tucker) se reuniu pela última vez em 1996.
Uns parênteses. Iniciativas como Lou Reed gravando com Metallica rendem críticas duras, mas Pabblo Vittar gravando com a banda de metal pouco conhecida Bring Me the Horizon é só elogios né? Quanta blindagem os ídolos popularescos recebem no nosso país.
Quanto aos ingressos, há também o caso de Fiona Apple, que não se apresenta ao vivo desde 2012. Mas há muitos outros mais óbvios, menos sutis e mais populares, como vender falsos ingressos para The Weeknd, Coldplay e até para grupos de k-pop. Tudo isso rolando solto no Instagram, Facebook e por aí vai.
E isso tudo é estimulado pela desinformação, no caso do Velvet Underground, num Brasil tomado pela desvastadora supremacia do brega-popularesco, que faz com que a diversidade musical seja sufocada e casos surreais como ver a cultura rock brasileira sentar no colo da Faria Lima (vide a 89 FM A Rádio Rockefeller ou Jovem Pan com guitarras), forçando o roqueiro médio a ficar na zona de conforto do hit-parade curtindo nada muito além de Guns N'Roses e Coldplay.
É claro que casos farsantes sempre existem e vão existir e até no Primeiro Mundo ocorrem golpes desse tipo, mas no Brasil se houver alguma mídia musical mais consistente, como de MPB e rock, pelo menos haveria gente melhor vacinada contra essas eventuais epidemias do roubo e da exploração da inocência alheia. Com uma cultura popularesca quase monopolizando nosso país, os farsantes deitam e rolam, encontrando terreno fértil para suas mentiras e golpes financeiros.
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